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AKAHIM, AKHANIS, AKAKOR!



A Crônica de Akakor
KARL BRUGGER
Prefácio
de
ERICH VON DANIKEN
Tradução
de
BERTHA MENDES
LIVRARIA BERTRAND
INTRODUÇÃO
A Amazônia começa em Santa Maria de Belém, a cento e vinte quilômetros
da costa do Atlântico. Em 1616, quando duzentos portugueses, sob a chefia de
Francisco Castelo Branco, tomaram posse deste território em nome de Sua Majestade o
Rei de Portugal e Espanha, o seu cronista descreveu-o como uma doce e convidativa
zona de terreno com árvores gigantescas. Presentemente, Belém é uma grande cidade,
com arranha-céus, de tráfego intenso e uma população de seiscentos e trinta e três mil
habitantes. É o ponto de partida da civilização branca na sua conquista das florestas
virgens da Amazônia. Contudo, através de quatrocentos anos, a cidade tem conseguido
preservar traços do seu passado heróico e místico. Palácios de estilo colonial
dilapidados e edifícios de azulejos com enormes portões de ferro são testemunhas de
uma era famosa, quando a descoberta do processo de vulcanização da borracha elevou
Belém ao nível de uma metrópole européia. O mercado de dois andares na área do porto
também data desta época.Aqui quase tudo pode ser comprado: peixe do Amazonas ou
do oceano, perfumados frutos tropicais; ervas medicinais, raízes, bulbos e flores; dentes
de crocodilo, que dizem ter propriedades afrodisíacas, e rosários feitos de terracota
Santa Maria de Belém é uma cidade de contrastes.
No centro, ruas ruidosas de tráfego, mas o mundo selvagem da ilha de
Marajó, outrora povoada por uma das populações altamente civilizadas que tentaram
conquistar a Amazônia, fica apenas a duas horas de viagem, rio acima, na margem
oposta. De acordo com a história tradicional, os Marajoaras chegaram à ilha mais ou
menos em 1100, quando a sua civilização estava no apogeu, mas na altura em que os
exploradores europeus chegaram, este povo já tinha desaparecido. Tudo o que ele resta
são belas cerâmicas, figuras estilizadas traduzindo dor, alegria e sonhos. Parecem contar
uma história, Mas qual?
Até à ilha de Marajó, o Amazonas é uma confusa rede de canais, afluentes e
lagoas. O rio estende-se por uma distância de seis mil quilômetros: nasce no Peru e
atinge os rápidos colombianos, mudando de nome em cada país que atravessa – de
Apurimac a Ucayali e Marañon, e de Marañon a Solimões. Para além da ilha de Marajó,
o Amazonas tem um caudal maior que qualquer outro rio do mundo.
Um grande barco a motor, único meio de transporte na Amazônia, leva três
dias para fazer a travessia de Belém à Santarém, a localidade mais próxima. É
impossível compreender o grande rio sem ter experimentado estes barcos a motor, que
incorporam a noção de tempo, vida e distância na Amazônia. Podem fazer-se cento e
cinqüenta quilômetros por dia (não por hora) rio abaixo; nestes barcos o tempo passa-se
a comer, a beber, a sonhar e a amar.
Santarém fica situada na margem direita do Amazonas, na embocadura do
rio Tapajós. Uma população de trezentos e cinqüenta mil habitantes atravessa uma
época próspera, pois a cidade é terminal da Transamazônica e atrai garimpeiros,
contrabandistas e aventureiros. Uma das mais antigas civilizações da Amazônia
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floresceu aqui, o povo do Tapajós, provavelmente a maior tribo da selva índia. O
historiador Heriarte afirmou que, se fosse necessário, tinham possibilidade de alinhar
cinqüenta mil arqueiros para uma batalha. Mesmo considerando este número um
exagero, sabe-se que os Tapajós foram suficientemente numerosos para fornecer ao
mercado de escravos portugueses durante oitenta anos. Esta orgulhosa tribo não nos
legou senão espécimes arqueológicos... e o rio que tem o seu nome.
Rios, cidades e lendas da Amazônia sucedem-se de Santarém a Manaus.
Presume-se que o aventureiro espanhol Francisco Orellana combateu os habitantes da
Amazônia na foz do rio Nhamundá. O lago Iacy, “Espelho da Lua”, situa-se na margem
direita do rio, junto à povoação de Faro. De acordo com a lenda, as Amazonas desciam
até o lago, vinda das montanhas que o rodeavam, quando havia lua cheia, para
encontrarem os apaixonados que as esperavam. Mergulhavam em busca de pedras
estranhas, que, debaixo de água, podiam ser amassadas como pão, mas que em terra
adquiriam dureza. As Amazonas chamavam a estas pedras muiraquitã e davam-nas aos
seus apaixonados. Os cientistas consideram-nas “milagres arqueológicos”: duras como
o diamante, têm formas artificiais, se bem que a evidência tenha provado que os Tapajós
não tinham ferramentas para trabalhar esta espécie de material.
O verdadeiro rio Amazonas nasce na confluência do rio Solimões com o rio
Negro. De barco, leva-se vinte minutos para chegar a Manaus, que não tem qualquer
estrada de comunicação com a costa. Foi aqui que encontrei Tatunca Nara, a 3 de Março
de 1972. M., que comandava o contingente da selva brasileira em Manaus, tinha sido o
encarregado de me proporcionar este encontro. Foi no Bar Graças a Deus que encontrei
pela primeira vez o chefe índio. Era alto, tinha um longo cabelo escuro e um rosto
delicadamente modelado. Os seus olhos, castanhos, pequenos e cheios de suspeita, eram
característicos dos mestiços. Tatunca Nara vestia um desbotado uniforme tropical, que,
tal como mais tarde me explicou, lhe fora dado pelos oficiais. O seu largo cinto de couro
com fivela de prata era impressionante. Os primeiros minutos da nossa conversa foram
difíceis. Com certa relutância, Tatunca Nara contou, em mau alemão, as suas
impressões da cidade branca, com a sua imensa população, o trânsito das ruas, os
elevados edifícios e o insuportável barulho. Só quando venceu a sua reserva e as suas
suspeitas iniciais me contou a história mais extraordinária que jamais ouvi. Tatunca
Nara falou-me da tribo dos Ugha Mongulala, um povo que há quinze mil anos foi “o
eleito dos Deuses”. Descreveu duas grandes catástrofes que haviam devastado a Terra e
referiu-se ao príncipe Lhasa, um filho dos Deuses, que governou no Sul do continente
americano, às suas relações com o Egito, à origem dos Incas, à chegada dos Bárbaros e
à aliança dos índios com dois mil soldados alemães. Falou de gigantescas cidades de
pedra e instalações subterrâneas dos divinos antepassados. E contou-me que todos estes
fatos tinham sido registrados num documento chamado A Crônica de Akakor.
A mais longa parte da sua história referia-se às lutas dos índios contra os
brancos, contra os espanhóis e portugueses plantadores de borracha, colonos,
aventureiros e soldados do Peru. Empurraram os Ugha Mongulala, de quem pretendia
ser o príncipe, cada vez mais para os Andes, até mesmo nas instalações subterrâneas.
Apelava agora para os seus maiores inimigos, os brancos, pedindo auxílio perante a
iminente extinção do seu povo. Antes de falar comigo, Tatunca Nara conversara com
altas personalidades brasileiras do Serviço de Proteção aos Índios, mas sem qualquer
êxito. Esta, no entanto, era a sua história. Ia dar crédito ou não? No úmido calor do Bar
Graças a Deus foi-me revelado um estranho mundo que, se existisse, tornavam reais as
lendas maia e inca.
O segundo e o terceiro encontro com Tatunca Nara foram no meu quarto de
hotel com ar condicionado. Num monólogo que durou horas, só interrompido para
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mudar a fita no gravador, ele contou a história dos Ugha Mongulala, as Tribos
Escolhidas Aliadas, do ano zero até 12.453 (de 10.481 a. C. até 1972, de acordo com o
calendário da civilização branca). Mas o meu entusiasmo inicial tinha desaparecido. A
história parecia-me excessivamente extraordinária: uma outra lenda da floresta, fruto do
calor tropical e do místico efeito da selva impenetrável. Quando Tatunca Nara acabou a
sua narrativa eu tinha doze gravações de um fantástico conto de fadas.
A história de Tatunca Nara só começou a parecer plausível quando, numa
outra vez, encontrei um amigo, o oficial brasileiro M. Era membro do serviço secreto e
fazia parte do “segundo departamento”. M. conhecia Tatunca Nara já havia quatro anos
e confirmou, pelo menos, o fim das suas aventuras. O chefe indio salvara a vida de doze
oficiais brasileiros cujo avião caíra na província do Acre e devolveu-os à civilização. As
tribos índias de Yaminauá e Kaxinauá reverenciavam Tatunca Nara como chefe, muito
embora não lhes pertencesse. Estes fatos foram documentados nos arquivos do serviço
secreto brasileiro. Decidi investigar ainda mais a história de Tatunca Nara.
As minhas buscas no Rio de Janeiro, Brasília, Manaus e Rio Branco tiveram
resultados extraordinários. A história de Tatunca Nara está documentada em jornais e
começa em 1968, quando um chefe índio branco é mencionado por ter salvo a vida de
doze oficiais brasileiros obtendo a sua libertação dos índios Haisha e levando-os para
Manaus. Devido ao auxílio que prestou aos oficiais, Tatunca Nara foi recompensado
com uma carteira de trabalho e um documento de identidade. De acordo com o que
dizem as testemunhas, o misterioso chefe índio fala uma mau alemão, compreende só
algumas palavras em português, mas é fluente em algumas línguas índias faladas no alto
Amazonas. Poucas semanas depois da sua chegada a Manaus, Tatunca Nara
desapareceu subitamente, sem deixar rastro.
Em 1969, surgiram grandes lutas entre as tribos de índios selvagens e os
colonos brancos da fronteira do Peru na província de Madre de Dios, uma região
miserável e esquecida na encosta oriental dos Andes. A velha história da Amazônia
revivia: a revolta dos oprimidos contra os opressores, seguidos da vitória dos brancos,
sempre vitoriosos. O chefe dos índios, que, de acordo com os relatos da imprensa do
Peru, era conhecido por Tatunca (“grande serpente-d’água”), fugiu para território
brasileiro após derrota. Com o propósito de evitar a continuação dos ataques, o Governo
do Peru pediu ao Brasil a sua extradição, mas as autoridades brasileiras recusaram-se a
cooperar.
A luta de fronteira da província de Madre de Dios acalmou aos poucos
durante os anos de 1970 e 1971. As tribos índias selvagens fugiram para as quase
inacessíveis florestas perto da nascente do rio Yaku. Aparentemente, Tatunca Nara
desaparecera. O Peru fechou a fronteira com o Brasil e iniciou a invasão sistemática da
floresta virgem. De acordo com testemunhas oculares, os índios do Peru partilharam da
sorte dos seus irmãos brasileiros: foram assassinados ou morreram de doenças
características da civilização branca.
Em 1972, Tatunca Nara voltou à civilização branca, e na cidade brasileira de
Rio Branco relacionou-se com o bispo católico Grotti. Juntos pediram alimentos para os
índios do rio Yaku nas igrejas da capital do Acre. Desde que a província do Acre tinha
sido considerada “livre de índios” nem ao bispo foi concedido qualquer auxílio do
Estado. Três meses mais tarde, monsenhor Grotti morria na queda misteriosa de um
avião.
Mas Tatunca Nara não desistiu. Com o auxílio dos doze oficiais cuja vida
salvara, entrou em contato com serviço secreto brasileiro. Apelou também para o
Serviço de Proteção aos Índios do Brasil (a atual FUNAI) e contou a N., secretário da
Embaixada da Alemanha Ocidental em Brasília, a história dos dois mil soldados
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alemães que desembarcaram no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e que ainda
estavam vivos em Akakor, a capital do seu povo. N. não acreditou na história e recusou
o acesso de Tatunca Nara à embaixada. A FUNAI só concordou em cooperar depois de
muitos pormenores da história de Tatunca Nara acerca das tribos índias da Amazônia
serem confirmados, durante o Verão de 1972. O Serviço organizou então uma
expedição para estabelecer contato com os misteriosos Ugha Mongulala e deu
instruções a Tatunca Nara para fazer os preparativos necessários. No entanto, estes
planos foram interrompidos devido à resistência das autoridades da província do Acre.
Devido a instruções pessoais do governador Wanderlei Dantas, Tatunca Nara foi preso.
Pouco antes da sua extradição para o Peru, os oficiais seus amigos libertaram-no da
prisão de Rio Branco e tornaram a leva-lo para Manaus. E aqui me tornei a encontrar
com Tatunca Nara.
O encontro seguinte teve uma seqüência diferente. Eu tinha verificado a sua
história e comparado a fita gravada com o material dos arquivos e relatórios de
historiadores contemporâneos. Alguns pontos podiam ser explicados, mas eu ainda
pensava que muita coisa era inteiramente inacreditável, como por exemplo, as
instalações subterrâneas e o desembarque dos dois mil soldados alemães. Mas era
improvável que tudo isto fosse inventado: as datas do oficial M. e as da história de
Tatunca Nara coincidiam.
No decorrer deste encontro, Tatunca Nara repetiu a história mais uma vez.
Indicou num mapa a aproximada localização de Akakor, descreveu a rota dos soldados
alemães de Marselha até o rio Purus e referiu-se a vários dos seus chefes. Desenhou
vários símbolos dos deuses que presumivelmente apareciam na Crônica de Akakor.
Voltava constantemente a estes misteriosos antepassados cuja memória ficara para
sempre intacta no seu povo. Comecei a acreditar numa história cuja incredibilidade se
tornava um desafio. Quando Tatunca Nara sugeriu que o acompanhasse a Akakor,
aceitei.
Tatunca Nara, o fotógrafo brasileiro J. e eu partimos de Manaus a 25 de
Setembro de 1972. Pretendíamos alcançar a parte superior do rio Purus num barco que
alugáramos. Levávamos também uma canoa com motor de popa e utiliza-la-íamos para
alcançar a região afluente do rio Yaku, na fronteira entre o Brasil e o Peru, e depois
continuaríamos a pé pelas colinas dos Andes até Akakor. O tempo destinado à
expedição era seis semanas, contando nós, regressar nos princípios de Novembro.
O nosso carregamento era constituído por redes, mosquiteiros, utensílio de
cozinha, alimentos, as habituais roupas para a selva e remédios. Como armas levávamos
uma Winchester 44, dois revólveres, uma espingarda de caça e grandes machados.
Levávamos também equipamento para filmar, dois gravadores e máquinas fotográficas.
Os primeiros dias foram inteiramente diferentes daquilo que esperávamos:
não apareceram nem mosquitos, nem cobras-d’água, nem piranhas. O rio Purus era
como um lago que não tivesse margens. Avistávamos a selva no horizonte, com os seus
mistérios oculto atrás de uma muralha verde.
A primeira cidade que alcançamos foi Sena Madureira,última povoação
antes de se entrar nas inexploradas regiões fronteiriças entre o Brasil e Peru. Era típica
de toda a Amazônia: estradas de argila suja, cabanas desmanteladas e um cheiro
desagradável de água estagnada. Oito entre dez habitantes sofriam de beribéri, eram
leprosos ou tinham malária. Uma má nutrição crônica deixara o povo num estado de
triste resignação. Rodeadas pela brutalidade da selva e isoladas da civilização, as
pessoas dependiam sobretudo da aguardente de cana, seu único meio de escapar a uma
infeliz realidade. Num bar, dizemos adeus à civilização e encontramos um homem que
presumivelmente conhece a parte superior do rio Purus. À procura de ouro, esteve
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cativo dos índios Haisha, uma tribo semi-civilizada da vizinha região do rio Yaku. O
que ele nos conta é desencorajante: fala-nos em rituais canibalescos e setas
envenenadas.
A cinco de Outubro, na cachoeira Inglesa, trocamos o barco pela nossa
canoa, e de agora em diante dependemos de Tatunca Nara. Os mapas mostram muito
deficientemente o curso do rio Yaku. As tribos índias que vivem nesta região não têm
qualquer contato com a civilização branca. J. e eu tínhamos ambos uma sensação
desagradável: haverá na realidade um local chamado Akakor? Podíamos confiar em
Tatunca Nara? Mas a aventura provava ser mais forte que a nossa ansiedade.
Doze dias depois de deixarmos Manaus, a paisagem começa a modificar-se.
O rio até esse ponto parecia um mar acastanhado, sem praias. Agora navegávamos entre
cipós, sob árvores inclinadas. Depois de uma curva do rio encontramos um grupo de
prospectores que construíram uma fábrica primitiva na margem do rio e peneiravam
uma areia grossa. Aceitamos o seu convite para ali passar a noite e escutamos as suas
estranhas histórias de índios de cabelos pintados de azul encarnado que usavam setas
envenenadas...
A viagem transforma-se em expedição contra as nossas próprias dúvidas.
Estamos a uns escassos dez dias da nossa suposta meta. A dieta monótona, o esforço
físico e o receio do desconhecido influíram poderosamente sobre nós. O que em
Manaus parecia uma fantástica aventura tornou-se agora num pesadelo, Basicamente,
pensávamos que gostaríamos de voltar e esquecer tudo acerca de Akakor, antes de ser
demasiado tarde.
Ainda não encontramos índios. As primeiras montanhas dos Andes cobertas
de neve surgem no horizonte: atrás de nós estende-se o verde-mar das terras baixas da
Amazônia. Tatunca Nara prepara-se para voltar para seu povo. Numa estranha
cerimônia, pinta o corpo: na cara traços vermelhos, e no peito e nas pernas riscas
amarelo-escuras. Prende o cabelo atrás com uma tira de couro, que é decorada com os
estranhos símbolos dos Ugha Mongulala.
A 13 de Outubro não temos possibilidade de regresso. Depois de uma
perigosa passagem sobre as corredeiras, a canoa é apanhada por um redemoinho e virase.
O nosso equipamento fotográfico, que vinha em caixas, perde-se na densa floresta
das margens; metade dos nossos alimentos e remédios perderam-se também. Nesta
situação desesperadora decidimos desistir da expedição e voltar para Manaus. Tatunca
Nara reage com irritação: está impaciente e desapontado. Na manhã seguinte, J. e eu
deixamos o nosso último acampamento. Tatunca Nara, com as pinturas de guerra do seu
povo, usando só um pano a cobrir-lhe os rins, toma a estrada que o levará à sua tribo.
Este foi o meu último contato com o chefe dos Ugha Mongulala. Depois do
meu regresso ao Rio de Janeiro, em Outubro de 1972, tentei esquecer Tatunca Nara,
Akakor e os Deuses. Só no Verão de 1973 a recordação voltou: o Brasil principiara a
sistemática invasão da Amazônia. Doze mil trabalhadores construíam duas estradas
através da ainda não explorada selva, numa distância de sete mil quilômetros. Trinta mil
índios tomaram os bulldozers por antas gigantes e fugiram para a selva. Começara o
último ataque a Amazônia.
E com isto recordava as velhas lendas, tão fascinantes e míticas como antes.
Em Abril de 1973, a FUNAI descobriu uma tribo de índios brancos na parte superior do
rio Xingu, que Tatunca Nara me mencionara um ano antes. Em Maio, durante trabalhos
de reconhecimento no Pico da Neblina, os guardas de fronteira brasileiros estabeleceram
contato com índios que eram chefiados por mulheres. Estes também tinham sido
descritos por Tatunca Nara. E finalmente, em Junho de 1973, várias tribos índias foram
avistadas na região do Acre, que antes havia sido considerada “livre de índios”.
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Akakor existe realmente? Talvez não seja exatamente da maneira como
Tatunca Nara a descreveu, mas a cidade é, sem dúvida alguma, real. Depois de tornar a
ouvir as gravações de Tatunca Nara decidi escrever a sua história “com boas palavras e
numa escrita clara”, como dizem os Índios. Este livro, A Crônica de Akakor, tem cinco
partes. “O Livro do Jaguar” relaciona-se com a colonização da Terra pelos Deuses e vai
até o período da segunda catástrofe mundial. “O Livro da Águia” compreende o tempo
entre 6.000 e 11.000 (do seu calendário) e descreve a chegadas dos Bárbaros. O terceiro
livro, “O Livro da Formiga”, fala-nos de luta contra os colonizadores portugueses e
espanhóis depois de desembarcarem no Peru e no Brasil. O quarto e último livro, “O
Livro da Serpente-d’Água”, descreve a chegada de dois mil soldados alemães a Akakor
e a sua integração no povo dos Ugha Mongulala; também prediz uma terceira grande
catástrofe. Na quinta parte, o “Apêndice”, fiz o sumário dos resultados das minhas
pesquisas nos arquivos brasileiros e alemães.
A maior parte deste livro, a atual Crônica de Akakor, segue justamente a
narrativa de Tatunca Nara. Tentei torná-la tão literária quanto possível, mesmo quando
os fatos parecem contradizer a historiografia tradicional. Fiz o mesmo com os mapas e
desenhos baseados nas datas fornecidas por Tatunca Nara. Os escritos foram feitos por
Tatunca Nara em Manaus. Todas as subseções estão precedidas por um curto sumário
da história tradicional, para dar ao leitor uma base de comparação, mas restringem-se
aos acontecimentos mais importantes da história da América do Sul. A tábua
cronológica, no fim do livro, fornece a justaposição do calendário de Akakor com o da
história tradicional. Noutro quadro refiro-me aos nomes prováveis dados pela
civilização branca às várias tribos referidas no texto.
As citações da Crônica de Akakor impressas como suplemento foram ditas
por Tatunca Nara, que as sabia de cor. Segundo ele, a crônica atual foi escrita em
madeira, em pele e mais tarde também em pergaminho, e está guardada por sacerdotes
no Templo do Sol, a maior herança dos Ugha Mongulala. O bispo Grotti foi o único
homem branco a vê-la e trouxe com ele vários excertos. Depois da sua misteriosa morte,
os documentos desapareceram. Tatunca Nara pensa que o bispo os escondeu ou que
estão guardados nos arquivos do Vaticano.
Verifiquei o mais cuidadosamente possível todas as informações da
“Introdução” e do “Apêndice” no que diz respeito à sua veracidade. As citações dos
historiadores contemporâneos vêm de fontes materiais espanholas e traduzi-as eu
próprio. Só acrescentei as minhas próprias considerações no “Apêndice”, para auxiliar o
leitor a compreende-las melhor. Por esta razão não me baseei nas teorias que dizem
respeito a astronautas ou a seres divinos como possíveis antecessores da civilização
humana. A ênfase deste livro diz respeito à história e à civilização dos Ugha Mongulala,
em contraste com a dos Bárbaros Brancos.
Akakor existiu realmente? Há uma história escrita dos Ugha Mongulala? As
minhas próprias dúvidas obrigaram-me a dividir este livro em duas partes. Na Crônica
de Akakor só incluí os relatos de Tatunca Nara. O “Apêndice” contem o material que fui
buscar nas respectivas origens. A minha contribuição não é muita, comparada com a
história de um povo misterioso, com os Primitivos Mestres, leis divinas, instalações
subterrâneas e muitas outras coisas. Esta é uma história que pode ter tido origem numa
lenda, mas que, no entanto, pode ser confirmada. E o leitor deve ele próprio decidir se
isto é um relato inteligentemente inventado, baseado em passos de escritos
inadequadamente históricos, ou um pedaço de história verdadeira relatada “com boas
palavras e numa escrita clara”.
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O LIVRO DO JAGUAR
Este é o jaguar
Poderoso é seu salto
E forte as suas patas.
É o senhor das florestas.
Todos os animais são seus súditos.
Não tolera resistência.
Destrói o desobediente
E devora-lhe a carne
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I- I- O REINO DOS DEUSES
600.000 A. C. – 10.481 A. C.
O início da história da humanidade é uma questão contestada. De acordo
com a Bíblia, Deus criou o mundo em seis dias para a sua própria honra e para a honra
da humanidade. Então ele moldou o homem do pó e deu-lhe o sopro da vida. Mas de
acordo com o Popol Vuh, o Livro do Maia, o homem só surgiu na quarta criação divina,
depois de três mundos anteriores terem sido destruídos por medonhas catástrofes. A
historiografia tradicional coloca o início da história da humanidade em 600.000 a. C., e
os primeiros humanos não conheciam ferramentas nem o uso do fogo. Segue-se, cerca
de 80.000 a. C., o homem de Neandertal, que avançara extraordinariamente e conhecia o
uso do fogo, tendo desenvolvido ritos funerários. A Pré-História, a primitiva história do
homem, começa em 50.000 a. C.; de acordo com achados arqueológicos, tem sido
dividida em Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro. Durante a Idade da Pedra, o homem
era caçador e pastor; caçava o mamute, cavalos selvagens e rangíferos. Com a lenta
regressão da camada de gelo, gradualmente foi seguindo os animais que se dirigiam
para o norte: a agricultura e os animais domésticos eram-lhe ainda desconhecidos. No
entanto, as suas pinturas nas paredes dos abrigos são evidência de uma arte
surpreendentemente sofisticada, baseada nos ritos de caça mágico-religiosa. Está
assente que cerca de 25.000 a. C. as primeiras tribos da Ásia Central atravessaram o
estreito de Bering em direção à América.
OS MESTRES ESTRANGEIROS DE SCHWERTA
A Crônica de Akakor, a história escrita do meu povo, começa na hora zero,
quando os Deuses nos deixaram. Nessa época, Ina, o primeiro príncipe dos Ugha
Mongulala, resolveu que tudo quanto acontecesse fosse narrado com boas palavras e
numa escrita clara. E assim, A Crônica de Akakor é testemunha perante a História do
mais antigo povo do mundo, desde o início, a hora zero, quando os Primitivos Mestres
nos deixaram, até ao momento atual, quando os Bárbaros Brancos estão a tentar destruir
o nosso povo. Explica o testamento dos Antigos Pais – o seu saber e a sua prudência. E
descreve a origem do tempo, quando o meu povo era o único do continente e o Grande
Rio ainda corria de um e de outro lado, quando o país era ainda plano e suave como o
lombo de um cordeiro. Tudo isto está escrito na crônica, a história do meu povo, desde a
partida dos Deuses, a hora zero, que corresponde ao ano de 10.481 a. C. de acordo com
o calendário dos Bárbaros Brancos.
Esta é a história. Esta é a história dos Servidores Escolhidos. No início era o caos.
Os homens viviam como animais, sem razão, sem conhecimento, sem leis, e sem
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trabalhar o solo, sem se vestirem, nem sequer cobrindo a sua nudez. Não
conheciam nada dos segredos da natureza. Viviam em grupos de dois e três, como
o acaso os juntava, em cavernas ou nas fendas das rochas. Caminhavam com os
pés e as mãos até a chegada dos Deuses. Eles trouxeram a luz.
Não sabemos quando tudo isto aconteceu. Donde vieram esses seres
estranhos é um tênue conhecimento. Um denso mistério envolve a origem dos
Primitivos Mestres, que nem sequer o conhecimento dos sacerdotes consegue
esclarecer. De acordo com a tradição, a época deve ter sido 3.000 anos antes da hora
zero (13.481 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos). De repente, navios
brilhantes, dourados, apareceram no céu. Enormes línguas de fogo iluminaram a
planície. A terra tremeu e o trovão ecoou sobre as colinas. O homem baixou a cabeça
em sinal de veneração, perante as poderosas e estranhas criaturas que vinham tomar
posse da Terra.
Estes estranhos indivíduos disseram que a sua pátria se chamava Schwerta,
um mundo muito distante, na profundeza do universo, onde viviam os seus
antepassados e donde eles tinham vindo com a intenção de espalhar conhecimento pelos
outros mundos. Os nossos sacerdotes dizem que era um poderoso império constituído
por muitos planetas e com inúmeros grãos de pó na estrada. Também dizem que ambos
os mundos, o dos Primitivos Mestres e a própria Terra, se encontravam de seis mil em
seis mil anos. Então os Deuses voltam.
Com a chegada dos estranhos visitantes ao nosso mundo começou a Idade do
Ouro. Cento e Trinta famílias dos Antigos Pais vieram para a Terra para libertar o
homem da escuridão. E os Deuses reconheceram-nos como seus irmãos. Instalaram as
tribos errantes; deram-lhes bons quinhões de todos os comestíveis. Trabalharam
diligentemente para ensinar ao homem as suas leis, mesmo quando o seu ensino
encontrava oposição. Por todo este labor, e por causa de tudo quanto sofreram pela
humanidade e por quanto nos trouxeram e nos esclareceram, nós veneramo-los como os
iniciadores da nossa luz. E os nossos artistas mais hábeis reproduziram imagens dos
Deuses que testemunham através de toda a eternidade a sua verdadeira grandeza e
maravilhoso poder. E assim a imagem dos Primitivos Mestres ficou descrita até aos
nossos dias.
Aparentemente, esses oriundos de Schwerta não eram diferentes do homem.
Tinham uns corpos graciosos e pele branca. O seu rosto nobre era emoldurado por uma
cabeleira de um preto azulado. Uma barba espessa cobria-lhes o lábio superior e o
queixo. Tal como os homens, os Antigos Pais eram seres vulneráveis, com carne e
sangue. Mas o sinal que os distinguia decisivamente dos homens era terem seis dedos
nas mãos e nos pés, característica da sua origem divina.
Quem pode aprender a penetrar os atos dos Deuses? Quem pode aprender a
compreender os seus feitos? Seguramente, eram poderosos e incompreensíveis
para os vulgares mortais. Conheciam o curso das estrelas e as leis da natureza. Na
realidade, eram-lhes familiares as mais altas leis do universo. Cento e trinta
famílias dos Antigos Pais vieram para a Terra e trouxeram a luz.
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AS TRIBOS ESCOLHIDAS
A memória dos nossos mais antigos antepassados torna-me assombrado e
triste. O meu coração pesa-me porque agora estamos sós, abandonados pelos nossos
Primitivos Mestres. Devemos-lhe a nossa força e tudo quanto sabemos. Antes de estes
estranhos vierem de Schwerta, os homens vagueavam como crianças que perderam o
lar, cujos corações não albergavam amor. Juntavam raízes, bulbos e frutos selvagens;
viviam em cavernas e buracos cavados no solo; e tinham disputas com os vizinhos por
causa das peças caçadas. Depois vieram os Deuses e estabeleceram uma nova ordem no
mundo. Ensinaram aos homens a cultivar a terra e a criar animais. Ensinaram-lhes a
tecer e distribuíram lares permanentes às famílias e aos clãs. E foi assim que as tribos se
desenvolveram.
Este foi o início da luz, da vida e das tribos. Os Deuses juntaram os homens.
Deliberaram, consideraram e fizeram reuniões. Depois tomaram decisões. E entre
o povo escolheram os criados que deviam viver com eles, servos a quem legaram
todo o seu saber.
Com as famílias escolhidas os Deuses fundaram uma nova tribo, a que
deram o nome de Ugha Mongulala, que na língua dos Bárbaros Brancos significa
“Tribos Escolhidas Aliadas”. Como penhor dos seus eternos acordos, ligaram-se aos
servos. Portanto, os Ugha Mongulala parecem-se com os seus divinos antepassados
mesmo ainda hoje. São altos; o rosto é caracterizado por maçãs salientes, um nariz bem
delineado e olhos em forma de amêndoa. Tanto os homens como as mulheres têm um
espesso cabelo preto-azulado. A única diferença eram os cinco dedos dos mortais, tanto
nas mãos como nos pés. Os Ugha Mongulala são o único povo de pele branca do
continente.
Se bem que os Primitivos Mestres guardassem muitos segredos, a história do
meu povo também explica a história dos Deuses. Os estranhos vindos de Schwerta
fundaram um poderoso império. Com o seu conhecimento, a sua superior sabedoria e os
seus misteriosos utensílios, foi-lhes fácil modificar a Terra de acordo com as suas
próprias idéias. Dividiram o país e construíram estradas e canais. Semearam plantas até
então desconhecidas pelo homem. Ensinaram aos nossos antepassados que um animal
não é só presa de caça, mas que também pode constituir uma posse valiosa e
indispensável contra a fome. Pacientemente, partilharam o conhecimento necessário, de
modo que o homem pudesse entrar na posse dos segredos da natureza.
Baseados nesta sabedoria, os Ugha Mongulala sobreviveram durante
milênios, apesar das horríveis catástrofes e das terríveis guerras. Como os Servos
Escolhidos dos Primitivos Mestres, determinaram a história da humanidade durante
12.453 anos, tal como foi escrito na Crônica de Akakor:
A linhagem dos Servos Escolhidos não desapareceu. Os chamados Ugha
Mongulala sobreviveram. Muitos dos seus filhos podem ter morrido em guerras
devastadoras; medonhas catástrofes deram-se nos seus domínios. Mas a força dos
Servos Escolhidos permaneceu intacta. Eram os senhores. Eram os descendentes
dos Deuses.
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O IMPÉRIO DE PEDRA
A Crônica de Akakor, a história escrita do povo dos Ugha Mongulala. Só
começa depois da partida dos Primitivos Mestres, no ano zero. Nesta altura, Ina, o
primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, ordenou que todos os acontecimentos fossem
registrados com boas palavras e numa escrita clara, e com a devida veneração pelos
Primitivos Mestres. Mas a história dos Servos Escolhidos remonta a mais tarde, à Idade
do Ouro, quando os Antigos Pais ainda governavam o Império. Desta época muito
poucos testemunhos se têm conservado. Os Deuses devem ter estabelecido um poderoso
império, onde a todas as tribos foram distribuídas tarefas. Os Ugha Mongulala atingiram
o seu mais elevado grau. Era povo de grande sabedoria, o que o tornava superior a todos
os outros. No ano zero, os Deuses legaram as suas cidades e templos às Tribos
Escolhidas. Duraram doze mil anos.
Poucos Bárbaros Brancos têm visto estes monumentos ou a cidade de
Akakor, capital do meu povo. Alguns soldados espanhóis capturados pelos Ugha
Mongulala conseguiram fugir servindo-se de passagens subterrâneas. Aventureiros e
colonos brancos que descobriram a nossa capital têm sido presos pelo meu povo.
Akakor, capital do domínio, foi construída há catorze mil anos pelos nossos
antepassados, guiados pelos Primitivos Mestres. O nome também foi dado por eles: Aka
significa “fortaleza” e Kor significa “dois”. Akakor é a segunda fortaleza. Os nossos
sacerdotes também falam na primeira fortaleza, Akanis. Erguia-se num estreito istmo na
região que é hoje o México, no local em que os dois oceanos se encontram. Akahim, a
terceira fortaleza, só é mencionada na crônica anterior ao ano 7.315. A sua historia está
intimamente ligada à de Akakor.
A nossa capital ergue-se num vale, nas montanhas, entre dois países: Peru e
Brasil. Está protegida em três lados por rochas escarpadas. Para leste, uma planície que
desce gradualmente alcança a selva de cipós da grande região da floresta. Toda a cidade
é rodeada por uma alta muralha de pedra com treze entradas. Estas são tão estreitas que
só dão entrada a uma pessoa de cada vez. A planície a leste é guardada por vigias de
pedra onde guerreiros escolhidos estão sempre vigilantes, por causa dos inimigos.
Akakor é traçada em retângulos. Duas ruas principais cruzadas dividem a
cidade em quatro partes, correspondendo aos quatro pontos universais dos nossos
Deuses. O Grande Templo do Sol e um portal de pedra cortado de um só bloco erguemse
numa vasta praça, ao centro. O templo está voltado a leste, para o sol-nascente, e é
decorado com imagens dos nossos Primitivos Mestres. As criaturas divinas usam um
bastão encimado pela cabeça de um jaguar. A figura está coroada por um toucado de
ornamentos animais. Os trajes são enfeitados com desenhos semelhantes. Uma escrita
estranha, que só pode ser interpretada pelos nossos sacerdotes, fala da fundação da
cidade. Todas as cidades de pedra que foram construídas pelos nossos Primitivos
Mestres têm um portal semelhante.
O mais impressionante edifício de Akakor é o Grande Templo do Sol. As
suas paredes exteriores não têm enfeites e são feitas com pedras engenhosamente
cortadas. O telhado do Templo é aberto de modo que os raios do sol-nascente podem
alcançar um espelho dourado que data da época dos Primitivos Mestres e está montado
na frente. Figuras de pedra de tamanho natural erguem-se de ambos os lados da entrada
do templo. As paredes interiores estão cobertas de relevos. Numa grande arca de pedra
embutida na parede fronteira do templo estão escritas as leis dos nossos Primitivos
Mestres.
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Contíguas ao Grande Templo do Sol, erguem-se às instalações dos
sacerdotes e dos seus criados, o palácio do príncipe e os aposentos dos guerreiros. Estes
edifícios têm forma retangular e são feitos de blocos de pedra esculpidos. Os telhados
são de uma espessa camada de relva assente em estacas de bambu.
Na época do reino dos nossos Primitivos Mestres, outras vinte e seis cidades
de pedra rodeavam Akakor, e são todas mencionadas na crônica. As maiores eram
Humbaya e Patite, na região onde hoje se estende a Bolívia, Emim, na parte baixa do
Grande Rio, e Cadira, nas montanhas da atual Venezuela. Mas todas elas foram
completamente destruídas na primeira Grande Catástrofe, treze anos após a partidas dos
Deuses.
Além destas poderosas cidades, os Antigos Pais, também ergueram três
complexos sagrados: Salazere, na parte superior do Grande Rio, Tiahuanaco, no Grande
Lago e Manoa, no elevado planalto do sul. Estas eram as residências terrenas dos
Primitivos Mestres e terreno proibido para os Ugha Mongulala. No centro, elevava-se
uma gigantesca pirâmide, e uma vasta escadaria erguia-se até a plataforma, onde os
Deuses celebravam cerimônias que hoje nos são desconhecidas. O edifício principal era
rodeado por pirâmides menores interligadas por colunas, e mais adiante, em colinas
criadas artificialmente, erguiam-se outros edifícios, decorados com placas brilhantes. À
luz do sol-nascente, contam os sacerdotes, as cidades dos Deuses pareciam estar em
chamas. Irradiavam uma luz misteriosa que brilhava nas montanhas cobertas de neve.
Dos recintos do templo sagrado, só vi Salazere com os meus próprios olhos.
Fica a uma distância de oito dias de viagem da cidade que os Bárbaros Brancos chamam
Manaus, num afluente do Grande Rio. Os seus palácios e templos ficaram
completamente cobertos pela selva de cipós. Só o topo da grande pirâmide ainda se
ergue acima da floresta, coberto por uma densa mata de arbustos e árvores. Mesmo os
iniciados têm dificuldade em chegar ao local onde moravam os Deuses.O território da
Tribo que Vive nas Árvores está rodeado por profundos pântanos. Depois do primeiro
contato desta tribo com os Bárbaros Brancos, ela retirou-se para as florestas inacessíveis
que rodeiam Salazere. Ali, as pessoas vivem nas árvores como macacos, matando quem
ouse invadir a sua comunidade. Só consegui alcançar os arredores do templo por esta
tribo ser, há milhares de anos, aliada dos Ugha Mongulala, e ainda hoje respeitam os
sinais secretos de reconhecimento. Estes sinais estão gravados numa pedra na parte
superior da plataforma da pirâmide. Embora possamos copiá-los, perdemos toda a
compreensão do seu significado. O cercado do templo também se mantém um mistério
para o meu povo. Os edifícios são testemunho de um elevado conhecimento,
incompreensível para os humanos Para os Deuses, as pirâmides eram não só moradias,
mas também símbolos de vida e de morte. Eram sinais do Sol, da luz e da Vida. Os
Primitivos Mestres ensinaram-nos que há um lugar entre a vida e a morte, entre a vida e
o nada, que está sujeito a um tempo diferente. Para eles, a pirâmide era o elo com a
segunda vida.
AS MORADIAS SUBTERRÂNEAS
Grande era o conhecimento dos Primitivos Mestres e grande era a sua sabedoria.
A sua visão alcançou as colinas, planícies, florestas, mares e vales. Eram seres
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milagrosos. Conheciam o futuro. A verdade fora-lhes revelada. Perspicazes, eram
capazes de grandes decisões. Ergueram Akanis, Akakor e Akahim. Na verdade, os
seus trabalhos eram poderosos, como o eram os métodos que usavam para os criar:
a maneira como determinaram os quatro cantos do universo e os seus quatro lados.
Os senhores do cosmo, seres do céu e da terra, criaram quatro cantos e quatro
lados do universo.
Akakor agora está em ruínas. A grande entrada de pedra está destruída.
Cipós crescem no Grande Templo do Sol. Por minha ordem, e de acordo com o
Supremo Conselho e os sacerdotes, os guerreiros Ugha Mongulala destruíram a nossa
capital há três anos. A cidade teria traído a nossa presença perante os Bárbaros Brancos
e, assim, nós abandonamos Akakor. O meu povo fugiu para os abrigos subterrâneos. A
última dádiva dos Deuses. Temos treze cidades, profundamente ocultas nas montanhas
que se chamam Andes. O seu plano corresponde à constelação de Schwerta, a pátria dos
Antigos Pais. A Baixa Akakor fica no centro. A cidade fica assentada numa caverna
gigantesca feita pelo homem. As casas, ordenadas em círculo e contornadas por uma
muralha decorativa, têm no centro o Grande Templo do Sol. Tal como na parte superior
de Akakor, a cidade está dividida por duas ruas em cruz, que correspondem aos quatro
cantos e aos quatro lados do universo. Todas as estradas lhes são paralelas. O maior
edifício é o Grande Templo do Sol, com torres que sobem além dos edifícios onde estão
instalados os sacerdotes e os seus criados, do palácio do príncipe, das instalações dos
guerreiros e das mais modestas casas do povo. No interior do templo há doze entradas
para os túneis que ligam a Baixa Akakor com outras cidades subterrâneas. Têm paredes
inclinadas e um teto liso. Os túneis são suficientemente largos para comportar cinco
homens lado a lado. Qualquer das outras cidades fica a grande distância de Akakor.
Doze das cidades – Akakor, Budo, Kish, Boda, Gudi, Tanum, Sanga, Rino,
Kos, Amam, Tata e Sikon – são iluminadas artificialmente. A luz altera-se de acordo
com o brilho do Sol. Só Mu, a décima terceira e a menor das cidades, tem altas colunas,
que atingem a superfície. Um enorme espelho de prata espalha a luz do Sol sobre toda a
cidade. Todas as cidades subterrâneas são cruzadas por canais que trazem água das
montanhas. Pequenos afluentes fornecem edifícios individuais e casas. As entradas na
superfície estão cuidadosamente disfarçadas. Em caso de emergência, os subterrâneos
podem ser desligados do mundo exterior por grandes rochas móveis que servem de
portões.
Nada sabemos da construção da Baixa Akakor. A sua história perdeu-se na
escuridão do mais remoto passado. Mesmo os soldados alemães que viveram com o
meu povo não conseguiram esclarecer este mistério. Durante anos mediram os
subterrâneos dos Deuses, exploraram o sistema de túneis e procuraram o sistema de
respiro, mas sem terem o mínimo êxito. Os nossos Primitivos Mestres construíram as
habitações subterrâneas de acordo com os seus próprios planos e leis, que nos são
desconhecidos.
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Daqui governavam o seu vasto império, um império de 362.000.000 de
indivíduos, tal como se afirma na Crônica de Akakor:
E os Deuses governaram Akakor. Governaram sobre os homens e sobre a Terra.
Tinham navios mais rápidos que o vôo das aves, navios que atingiam os pontos a
que se destinavam sem velas nem remos, tanto de dia como de noite. Tinham
pedras mágicas por onde viam a distância, de modo que podiam ver cidades, rios,
colinas, e lagos. Tudo quanto acontecia na Terra e no Céu se refletiam nessas
pedras. Mas as habitações subterrâneas eram as mais maravilhosas. E os Deuses
deram-nas aos seus Servos Escolhidos como última dádiva. Para os Primitivos
Mestres são do mesmo sangue e têm o mesmo pai.
Durante milhares de anos, as habitações subterrâneas protegeram os Ugha
Mongulala dos seus inimigos e suportaram duas catástrofes. Os ataques das tribos
selvagens não tinham êxito contra os seus portões. No interior, os últimos homens da
minha raça esperam a vinda dos Bárbaros Brancos, que avançam pelo Grande Rio, num
número infinito, tal como formigas. Os nossos sacerdotes profetizaram que em última
análise descobrirão Akakor e que nela encontrarão a sua própria imagem. Então o
circulo fechar-se-á.
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II - A HORA ZERO
10.481 A. C. – 10.468 A. C.
O velho épico hindu Mahabharata conta como os Deuses e os Titãs lutaram
para ter o domínio da Terra. De acordo com Platão, o lendário império da Atlântida
atingiu o seu ponto mais elevado neste período. O cientista germano-boliviano
Posnansky acredita na existência de um enorme império na região da cidade boliviana,
agora em ruínas, de Tiahuanaco. Segundo a opinião de alguns historiadores e etnólogos,
as principais divisões raciais do Homo sapiens da última época glacial desenvolveramse
cerca de 13.000 a. C.: Mongóis na Ásia, Negros na África e Caucasianos na Europa.
As principais fixações no continente europeu encontram-se nas regiões costeiras. As
descobertas arqueológicas de Altamira e da Amazônia confirmam pela primeira vez a
existência de humanos no continente sul-americano.
A PARTIDA DOS PRIMITIVOS MESTRES
A história do meu povo, registrada na Crônica de Akakor, aproxima-se do
seu fim. Os sacerdotes afirmam que dentro em pouco se passará o tempo; pouco mais
temos que alguns meses. Então o destino dos Ugha Mongulala será cumprido. E quando
vejo o desespero e a miséria do meu povo não posso deixar de acreditar nestas
profecias. Os Bárbaros Brancos estão penetrando cada vez mais no nosso território.
Vieram do leste e do oeste como um fogo assoprado por um forte vento e espalharam
um manto de escuridão sobre o país, para o poderem dominar. Mas se os Bárbaros
Brancos pensassem, chegariam à conclusão de que não podemos apoderar-nos do que
não nos pertence. Então compreenderiam que os Deuses nos deram uma grande mansão
para a partilharmos e a gozarmos. Mas os Bárbaros Brancos querem ter tudo só para si.
Os seus corações são duros, não se comovem, mesmo quando realizam as mais terríveis
ações. Assim, nós, os Índios, temos de nos afastar, e ter esperança de que os nossos
Primitivos Mestres possam um dia voltar, tal como está escrito , com boas palavras e
numa escrita clara:
No dia em que os Deuses abandonaram a Terra chamaram Ina. Deixaram a sua
herança ao servo de maior confiança: “Ina, vamo-nos embora para os nossos lares.
Ensinamos-te sabedoria e demos-te bons conselhos. Voltamos para junto dos que
são iguais a nós. Vamos para casa. O nosso trabalho está feito. Os nossos dias de
viver aqui, acabados. Conserva-nos na tua memória e não nos esqueças. Porque
somos irmãos do mesmo sangue e temos o mesmo pai. Voltaremos quando
estiverdes ameaçados. Mas agora fique com as Tribos Escolhidas. Levem-nas para
as moradias subterrâneas, para as proteger da catástrofe que se aproxima”. Estas
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foram as suas palavras. Isso foi o que eles disseram quando se despediram. E Ina
viu como os navios os levavam para o céu, com fogo e trovões. Desapareceram
por cima das montanhas de Akakor, e só Ina os viu partir. Mas os Deuses
deixaram atrás de si um rastro de sabedoria e bom senso. Eram considerados e
venerados como se fossem sagrados. Eram um sinal dos Antigos Pais. E Ina
reuniu os mais velhos do seu povo num Conselho e disseram-lhes quais tinham
sido as últimas instruções dos Deuses. E ordenou uma nova contagem do tempo
para comemorar a partida dos Primitivos Mestres. Esta é a história escrita dos
Servos Escolhidos, A Crônica de Akakor.
Na hora zero (10.481 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos) os
Deuses deixaram a Terra. Deram o sinal de um novo capítulo na história do meu povo.
Mas nessa época nem sequer Ina, seu mais leal servo e primeiro príncipe dos Ugha
Mongulala, previa os terríveis acontecimentos que se sucederiam. O Povo Escolhido
estava angustiado com a partida dos Primitivos Mestres e atormentado pelo desalento e
pela angústia.
Só a imagem dos Deuses ficou nos corações dos Servos Escolhidos. Com olhos
ardentes, perscrutavam o céu, mas os navios dourados não voltavam. Os céus
mantinham-se vazios – nem a mínima brisa, nem qualquer som. O céu
conservava-se desabitado.
A LINGUAGEM DOS DEUSES
Na língua dos Bárbaros Brancos, Ugha significa “aliado”, “partidário”;
Mongu significa “escolhido”, “exaltado”, e Lala significa “tribos”. Os Ugha Mongulala
são as Tribos Escolhidas Aliadas. Uma nova era iniciou-se para eles depois da partida
dos Primitivos Mestres. Os Deuses superiores já não governam o seu império, cujos
limites ficavam a muitas luas de distância. Os Ugha Mongulala governavam entre dois
oceanos, ao longo do Grande Rio, até as baixas colinas do norte, e mais além, na
extensão das planícies do sul. Os 2.000.000 que compreendem as Tribos Escolhidas
governaram um império de 362.000.000 de pessoas, desde que os Primitivos Mestres
dominaram as outras tribos no decorrer dos séculos. Os Ugha Mongulala governaram
vinte e seis cidades, muitas fortificações poderosas e as habitações subterrâneas dos
Deuses. Só três complexos de templos – Salazere, Manoa e Tiahuanaco – ficavam de
fora da sua jurisdição, por explícitas instruções dos Antigos Pais. Ina, o primeiro
príncipe dos Ugha Mongulala, tinha a seu cargo enormes tarefas.
Conheço poucos pormenores acerca do período que se seguiu à partida dos
Primitivos Mestres. A primeira Grande Catástrofe estende-se como um véu sobre os
acontecimentos dos primeiros treze anos da história do meu povo. De acordo com os
sacerdotes, Ina governou o maior império que jamais existiu. Este era chefiado pelos
Ugha Mongulala, que faziam com que as suas leis fossem obedecidas. Os seus
guerreiros protegiam as fronteiras dos ataques das tribos selvagens. 362.000.000 de
aliados prestavam-lhes vassalagem, mas depois da primeira Grande Catástrofe
revoltaram-se contra as leis dos Ugha Mongulala. Rejeitaram os legados dos Deuses e
dentro em pouco esqueciam a sua língua e a sua escrita. Degeneraram.
O quíchua, como os Bárbaros Brancos chamam à nossa língua, consta de
simples e boas palavras, que são suficientes para descrever todos os mistérios da
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natureza. Nem sequer os Incas conhecem a escrita dos Deuses. Há mil e quatrocentos
símbolos, que têm diferentes significados, segundo a sua seqüência. Os sinais mais
importantes traduzem a vida e a morte, representadas pelo pão e pela água. Todos os
inícios da crônica começam e acabam com estes símbolos. Depois da chegada dos
soldados alemães, em 1942, de acordo com o calendário dos Bárbaros Brancos, os
sacerdotes começaram a registrar os acontecimentos também na escrita das Tribos
Aliadas. Língua, serviço da comunidade, veneração pelas pessoas idosas e respeito pelo
príncipe são as coisas mais importantes documentadas anteriormente a primeira Grande
Catástrofe. São evidência de fato, nos dez mil anos da sua história, o meu povo ter só
uma finalidade: preservar o legado dos Primitivos Mestres.


Houve estranhos sinais no céu. A penumbra cobriu a face da Terra. O Sol ainda
brilhava, mas havia uma névoa cinzenta, grande e intensa, que começava a
esconder a luz do dia. Estranhos sinais viam-se no céu. As estrelas eram como
tristes pedras. Uma neblina venenosa cobria as colinas. Um fogo malcheiroso
pendurava-se nas árvores. Um Sol vermelho. Um caminho cruzado sobrepunha-se.
Negro, vermelho, todos os quatro cantos do mundo estavam vermelhos.
A primeira Grande Catástrofe alterou a vida do meu povo e a face do mundo.
Ninguém pode imaginar o que aconteceu naquela época, treze anos depois da partida
dos Primitivos Mestres. A catástrofe foi enorme, e a nossa crônica relata-a com terror:
Os Servos Escolhidos ficaram temerosos e aterrorizados. Já não viam o Sol, a Lua
ou as estrelas. A confusão e a escuridão reinavam por toda à parte. Estranhas
imagens passavam sobre as suas cabeças. Do céu caia resina, e ao entardecer os
homens desesperavam em busca de comida. Matavam os seus próprios irmãos.
Esqueceram o testamento dos Deuses. Começara a era do sangue.
O que aconteceu nesta época, quando os Deuses nos deixaram? Quem foi o
responsável que fez regredir o meu povo ao abatimento durante seis mil anos? Uma vez
mais, os nossos sacerdotes podem interpretar os acontecimentos devastadores. Dizem
que no período antes da hora zero existiu também outra nação de deuses que eram hostis
aos nossos Primitivos Mestres. De acordo com as imagens do Grande Templo do Sol de
Akakor, as estranhas criaturas pareciam-se com humanos. Tinham muito cabelo e uma
pele avermelhada. Tal como os homens, tinham cinco dedos nas mãos e nos pés. Mas
dos ombros saiam-lhes cabeças de serpentes, tigres, falcões e outros animais. Os nossos
sacerdotes dizem que estes deuses também governaram um enorme império. Também
possuíam o conhecimento que os tornava superiores aos homens e iguais aos Primitivos
Mestres. As duas raças de deuses que estão representadas nas imagens do Grande
Templo do Sol de Akakor começaram a guerrear-se. Queimaram o mundo com calor
solar, e cada um tentou tirar ao outro o seu poderio. Iniciou-se uma tremenda guerra
entre os planetas e esta guerra levou o meu povo à perdição. No entanto, pela primeira
vez, a providência dos Deuses salvou os Ugha Mongulala . Recordando as últimas
palavras dos nossos Primeiros Mestres, que anunciavam a catástrofe, Ina comandou a
retirada para as moradias subterrâneas.
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Reuniram-se os mais velhos do povo. Obedeceram às ordens de Ina. “Como
poderemos nos proteger? Os sinais estão cheios de ameaças”, diziam eles. “Vamos
seguir as ordens dos Deuses e albergar-nos nos abrigos subterrâneos. As nossas
idéias não serão suficientes para toda uma nação? Nenhum de nós deve faltar”. Foi
assim que eles falaram. Foi assim que eles decidiram. E a multidão reuniu-se.
Atravessaram as águas. Desceram as ravinas e cruzaram-nas. Chegaram ao fim,
onde as quatro estradas se cruzam, na moradia dos Primitivos Mestres, protegidos
no interior das montanhas.
Isto é uma história contada pela Crônica de Akakor. E assim se cumpriu a
ordem de Ina. Com confiança na promessa dos Primitivos Mestres, o povo de Ugha
Mongulala mudou-se para a Baixa Akakor, para se proteger da iminente catástrofe.
Aqui ficaram eles até a Terra se aquietar, tal como uma ave se esconde atrás de uma
rocha quando a tempestade se aproxima. Os Ugha Mongulala estavam salvos da
catástrofe porque haviam confiado nos Antigos Pais.
A PRIMEIRA GRANDE CATÁSTROFE
O ano 13 (10.468 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos) é um
ano fatídico na história do meu povo. Depois de se terem refugiado nos subterrâneos, a
Terra foi atingida pela maior catástrofe de que há memória. Excedeu mesmo a segunda
Grande Catástrofe, seis mil anos mais tarde, quando as águas do Grande Rio inundaram
a região. A primeira Grande Catástrofe destruiu o império dos nossos Primitivos
Mestres e matou milhares de pessoas.
Isto é o relato de como os homens morreram. O que aconteceu à Terra? Quem a
fez tremer? Quem fez dançar as estrelas? Quem fez as águas brotarem das rochas?
Numerosos eram os flagelos que atingiam os homem. Estava sujeito a várias
calamidades. Estava terrivelmente frio e um vento gelado soprava sobre a Terra.
Estava excessivamente quente e a própria respiração das pessoas queimava-as.
Homens e animais fugiam em pânico. Desesperados, corriam de um lado para o
outro. Tentavam trepar nas árvores, mas as árvores repeliam-nos. Tentavam
alcançar as cavernas. Contudo, estas abatim-se e sepultavam-nos. O chão tornavase
teto, e o teto desaparecia nas profundidades. O som e a fúria dos Deuses não se
acalmavam. Até os abrigos subterrâneos começaram a tremer.
A primeira referência da forma do continente antes da primeira Grande
Catástrofe reporta-se à partida dos Primitivos Mestres. Depois desse tempo, diferia
consideravelmente da sua forma atual. Era muito mais fria e a chuva caía regularmente.
Os períodos de seca e de chuva eram mais distintos uns dos outros. Ainda não havia
grandes florestas. O Grande Rio era menor e desaguava em ambos os oceanos. Os
afluentes ligavam-no ao lago gigante, onde os Deuses erigiram o templo de Tiahuanaco,
na costa sul.
A primeira Grande Catástrofe remodelou a face da Terra. O curso dos rios
foi alterado e a altura das montanhas e a força do Sol modificaram-se. Os continentes
ficaram inundados. As águas do grande Lago voltaram ao oceano. O Grande Rio foi
cortado por uma nova montanha e agora corre apressadamente para leste. Enormes
florestas surgiram nas suas margens. Um calor úmido espalhou-se pelas regiões
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orientais do império. A oeste, onde se ergueram montanhas gigantescas, as pessoas
gelavam no tremendo frio das altitudes. A Grande Catástrofe causara tremendas
devastações, tal como fora predito pelos Primitivos Mestres.
E a mesma coisa acontecerá na futura catástrofe, que os nossos sacerdotes
calcularam de acordo com a rota das estrelas. Porque a história da humanidade cumprese
segundo rotas preestabelecidas: tudo se repete, tudo volta num ciclo que dura seis mil
anos. Os nossos Primitivos Mestres ensinaram-nos esta lei. Passaram-se seis mil anos
desde a última Grande Catástrofe e seis mil anos se passaram desde que os nossos
Primitivos Mestres nos deixaram pela segunda vez. Mais uma vez apareceram nos céus
sinais ominosos. Os animais fogem em pânico. Surgem guerras. As leis são
desrespeitadas. Enquanto os Bárbaros Brancos, por pura arrogância, destroem o elo
entre a natureza e o homem, aproxima-se o cumprimento do destinado. Eles sabem-no e
esperam com resignação. Porque acreditam no legado dos seus Primitivos Mestres. Com
a imagem dos Deuses no coração, seguem-lhes as pegadas. Seguem os que são do
mesmo sangue e tem o mesmo pai.
III- A ERA DA ESCURIDÃO
10.468 A. C. – 3.166 A. C.
O cientista germano-boliviano Posnansky calcula que Tiahuanaco foi
destruída cerca de 10.000 a. C. Os geólogos referem-se às extraordinárias modificações
de clima que podem ter sido causadas pela deslocação do eixo da Terra. A Época
Neolítica, que começou por volta de 5.000 a. C., viu importantes inovações culturais,
acrescentadas por transformações econômicas de longo alcance: a transição para a
agricultura e para os sistemas econômicos produtivos. O homem neolítico cultivava
cereais selvagens e criava carneiros, cabras e porcos. Instalaram-se grandes famílias em
aldeias e mais tarde em cidades fortificadas. Entre 8.000 e 6.000 a. C., Jericó foi
considerada como estágio preliminar das altas civilizações urbanas, embora os
egiptólogos suspeitem de uma cultura mais antiga no vale do Nilo. Descobertas
arqueológicas em Eridu e Uruk referem-se aos primeiros edifícios sagrados.
Encontraram-se as primitivas placas de argila. Palavras e sinais fonéticos substituíram a
primitiva escrita pictórica. Em todas as civilizações se observa um considerável cuidado
com os mortos. Vários dilúvios e catastróficas erupções vulcânicas, provavelmente
cerca de 3.000 a. C., são descritos na Bíblia como o Grande Dilúvio. A América do Sul
continua a ser colonizada por vagas de imigrantes vindos da Ásia.
O COLAPSO DO IMPÉRIO
Verdadeiramente, os Bárbaros Brancos são um povo poderoso. Governam o
céu e a terra e são ao mesmo tempo ave, verme e cavalo. Pensam que estão vendo a luz,
mas, no entanto, vivem na escuridão e no mal. E o pior é que negam o seu próprio Deus
e lutam eles próprios serem deuses e para nos fazer acreditar que governam o mundo.
Mas os Deuses são ainda maiores e mais poderosos que todos os Bárbaros Brancos
juntos. Ainda são eles que decidem quem, entre nós, deve morrer e quando.
Tranqüilidade, sol, água e fogo servem-nos primeiro. Porque os Deuses não permitem
que descubram os seus segredos. Os nossos sacerdotes dizem que farão um julgamento
que libertará os Bárbaros Brancos do fardo dos seus erros. Cairá uma chuva contínua
que, lavando, tirará toda a escuridão dos seus corações. As águas subirão cada vez mais
e lavarão a maldade e a ambição do poder e da riqueza. Tal como acontecera já há mil
anos, tudo isto foi registrado na crônica com boas palavras e numa escrita clara:
Três luas passaram e três vezes três luas. Então as águas dividiram-se. A Terra
acalmou de novo. As correntes seguiram diferentes cursos. Perderam-se por entre
as colinas. Altas montanhas se ergueram em direção ao Sol. A Terra modificou-se
quando os Servos Escolhidos deixaram as moradias subterrâneas, e grande foi a
sua mágoa. Ergueram o rosto para o céu. Os seus olhos procuraram as planícies,
os rios e os lagos. A verdade era terrível; a destruição medonha. E Ina reuniu o
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Conselho dos Velhos. As Tribos Escolhidas juntaram dádivas: jóias, mel das
abelhas e incenso. E sacrificaram-nos para fazer com que os Deuses voltassem à
Terra. Mas o céu manteve-se vazio. A era do jaguar começara: época de sangue
quando tudo foi destruído. Assim foi separado o elo entre os Primitivos Mestres e
os seus servos. E principiou uma nova vida.
Os anos de sangue, o período entre o ano 13 e o ano 7315, é a mais escura
época na história do meu povo. A Crônica de Akakor não se refere a estes
acontecimentos. Durante milhares de anos não há registros de qualquer espécie. A
transmissão oral também é pobre e entremeada com escuras profecias.
Foi uma época medonha. O selvagem jaguar veio e devorou carne humana.
Esmigalhou os ossos dos Servos Escolhidos. Arrancou as cabeças dos seus servos.
A escuridão envolveu a Terra.
Depois da primeira Grande Catástrofe, o império ficou numa situação
desesperadora. As moradias subterrâneas agüentaram os terríveis desmoronamentos e
nenhuma das treze cidades foi destruída, mas muitas das vias que ligavam os limites do
império ficaram bloqueadas. A sua misteriosa luz extinguira-se como uma vela
assoprada pelo vento. As vinte e seis cidades foram destruídas por uma tremenda
inundação. Os recintos dos templos sagrados de Salazere, Tiahuanaco e Manoa ficaram
em ruínas, destruídos pela terrível fúria dos Deuses. As patrulhas enviadas trouxeram a
notícia de que muito pouco das Tribos Aliadas haviam sobrevivido à catástrofe.
Obrigados pela fome, abandonaram as suas velhas instalações e penetraram no território
dos Ugha Mongulala, trazendo atrás de si a morte e a perdição. Desespero, desânimo e
miséria espalharam-se por todo o império. Travaram-se renhidos combates nas últimas
regiões férteis. O domínio das Tribos Escolhidas chegara ao fim.
Este foi o início do inglório fim do império. Os homens haviam perdido a razão.
Andavam nos campos com as mãos pelo chão. Tremiam de medo e terror.
Estavam abatidos. Tinham o espírito confuso. Atacavam-se uns aos outros como
animais. Matavam o seu vizinho e comiam-lhe a carne. Na verdade, foram épocas
horríveis.
O terrível período entre a primeira e a segunda Grande Catástrofe, de 10.468
a.C. a 3.166 a. C., segundo o calendário dos Bárbaros Brancos, trouxe o meu povo até a
beira da extinção. Tribos degeneradas que haviam sido aliadas dos Ugha Mongulala
antes da primeira Grande Catástrofe fundaram os seus próprios impérios. Derrotaram os
exércitos dos Ugha Mongulala e fizeram-nos recuar até as portas de Akakor no nosso
ano de 4.130.
As tribos dos Degenerados formaram uma aliança. Disseram: “Como podemos
nós tratar com os nossos primitivos chefes? Na verdade, eles ainda são
poderosos”. De modo que se reuniram em conselho. “Façamos uma emboscada e
matemo-los. Não somos mais numerosos? Não somos mais que suficientes para os
vencer?” E todas a tribos se armaram. Juntaram-se em grande número. A massa
dos seus guerreiros estendeu-se mais longe do que os olhos podiam alcançar.
Queriam tomar Akakor de assalto. Marcharam em formação para matar o príncipe
Uma. Mas os Servos Escolhidos tinham-se preparado Mantiveram-se no cume da
montanha. O nome da montanha era Akai. Todas as Tribos Escolhidas se haviam
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reunido junto de Uma quando os Degenerados se aproximaram. Vinham gritando,
com arcos e setas. Cantavam canções de guerra. Berravam e assobiavam metendo
os dedos na boca. E assim precipitavam-se contra Akakor.
Neste ponto A Crônica de Akakor é imprecisa. Os nossos sacerdotes contam
que os Ugha Mongulala perderam a batalha e Uma morreu. Os sobreviventes retiraram
para as suas habitações subterrâneas. A derrota na montanha de Akai representa o ponto
mais baixo da infelicidade do meu povo. Tal como os Bárbaros Brancos, que negam os
Deuses e se consideram para além das leis, os Ugha Mongulala arrastaram-se cada vez
mais na humilhação. Confundidos com este incompreensível acontecimento,
começaram a adorar árvores e rochas, até mesmo a sacrificar animais e seres humanos.
Cometeram então o mais vergonhoso crime dos dez mil anos da história do meu povo.
E eis como aconteceu. Quando Uma foi morto na batalha contra as Tribos
Degeneradas, o grande-sacerdote recusou que o seu filho Hanan entrasse nos secretos
recintos dos Deuses e sem o respeito devido aos Antigos Pais, começou a governar o
povo como considerou melhor. Estávamos no ponto máximo da era do sangue, época
em que era chefe o selvagem jaguar.
Porque sofreu o meu povo estes crimes? Porque é que os mais velhos
toleraram a má conduta do grande-sacerdote? Só há uma explicação. Depois da partida
dos Deuses, só certas pessoas tinham consciência da sabedoria dos Primitivos Mestres.
Os sacerdotes já não transmitiam os seus conhecimentos. Ensinavam a história dos
Antigos Pais só aos de grande confiança. O seu poder tornava-se maior à medida que
desaparecia o seu sagrado legado. Dentro em pouco só eles se sentiam responsáveis
pelos acontecimentos da terra e do céu. Durante milhares de anos, os sacerdotes
governaram onipotentes os Ugha Mongulala. Isto é o que contam os nossos
antepassados. E deve ser verdade, porque só a verdade se mantém através do tempo na
memória do homem.
A SEGUNDA GRANDE CATÁSTROFE
Terrível é a história. Terrível é a verdade. Os Servos Escolhidos ainda viviam nas
habitações dos Deuses – seis, mil anos. O sagrado legado havia sido esquecido. A
sua escrita tornara-se ilegível. Os seus servos tinham traído o combinado com os
Deuses. Viviam para além de todas as fronteiras como animais da floresta
Andavam com as mãos e os pés no chão. Cometiam-se crimes à luz do dia. E os
Deuses sentiam-se com estas atitudes. Os seus corações enchiam-se de tristeza
devido à maldade do homem. E disseram: “Castigaremos o povo. Arrancá-lo-emos
da terra - homens e gado, vermes e pássaros do céu – porque desprezaram o nosso
legado”. E os Deuses começaram a destruir o povo. Enviaram uma poderosa
estrela, cuja cauda vermelha cobria todo o céu. E enviaram fogo mais vivo que um
milhar de sóis. O grande julgamento começou. Durante treze luas caiu chuva. As
águas do oceano subiram. Os rios corriam às avessas. O Grande Rio transformouse
num imenso lago. E o povo foi destruído. Todos morreram afogados no terrível
dilúvio
Os Ugha Mongulala sobreviveram à segunda Grande Catástrofe da história
da humanidade. Protegidos nas habitações subterrâneas dos seus Primitivos Mestres,
observando a destruição da Terra com temor. Enquanto os Servos Escolhidos sabiam
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que estavam inocentes da primeira Grande Catástrofe, agora se acusavam como
responsáveis pelo segundo terrível acontecimento. Surgiram lutas e querelas. Rompeu
uma guerra civil na Baixa Akakor, que levaria o meu povo à extinção se não tivesse
acontecido o que desde há muito era previsto pelos sacerdotes. Quando a necessidade
era premente, os Primitivos Mestres voltaram.
E o seu regresso abre um novo capítulo na história dos Ugha Mongulala, o
segundo livro da Crônica de Akakor. O primeiro livro acaba com os feitos de Madus,
um corajoso guerreiro dos Ugha Mongulala, que, mesmo nos momentos mais difíceis,
não perdera a fé no legado dos Deuses, tal como se escreve na crônica.
Madus atreveu-se a seguir a estrada que leva à superfície da Terra. Sem recear
nem tempestades nem água, ele continua o seu caminho. Olha com tristeza o país
devastado. Não via nem pessoas nem plantas – só animais e aves assustadas que
voavam sobre o infinito lençol de água, até que cansadas caíam. Isto viu Madus. E
ficava ao mesmo tempo triste e irritado. Arrancou tocos de árvores do solo
inundado. Juntou madeira flutuante. Construiu uma jangada para auxiliar os
animais. Arranjou um casal de cada dois jaguares, duas serpentes, duas antas e
dois falcões. E as águas que subiam elevavam mais a jangada para as montanhas,
no cume do monte Akai, a montanha de destino das Tribos Escolhidas. Aqui,
Madus deixou os animais irem para a terra e os pássaros voarem. E quando, depois
de treze luas, as águas baixaram e o sol desfez as nuvens, voltou para Akakor e
narrou o fim da terrível era do sangue.

Este livro foi impresso em janeiro de 1980 e atualmente está fora de catálogo
fonte: 
A Crônica de Akakor

KARL BRUGGER
Prefácio
de
ERICH VON DANIKEN
Tradução
de
BERTHA MENDES
LIVRARIA BERTRAND






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