O OLHO DE HORUS







Qual a origem do ódio nazista pelos judeus? Várias teses são conhecidas, mas a que mais encontra adeptos pelo mundo todo é a de que o pensamento ariano, que já era predominante nos alemães de forma discreta, encontrou um elemento que provocou o foco desses sentimentos e se tornou a válvula de escape desse povo após o fracasso de sua atuação na Primeira Guerra Mundial.

Mas o que provocaria o surgimento desse ódio? Claro que admitir o fracasso pela derrota era pouco, alguém deveria estar pro trás dos acontecimentos. Mas quem?

Para entender melhor a obsessão que tomou conta dos nazistas é necessário conhecer um pouco sobre esse texto que, hoje, sabemos ser uma farsa. Os famosos Protocolos dos Sábios de Sião, que os nazistas e neonazistas adoram citar como se fosse uma verdadeira obra literária, nada mais é do que uma obra forjada durante a Rússia do Czar Nicolau II, o último dos Romanov, que governou entre 1894 e 1917. A obra culpa os judeus pelos males que se abateram naquele país e surgiu originalmente em edições privadas no ano de 1897, sendo que somente se tornou pública em 1905. É uma cópia tirada de outra obra literária, um romance do século XIX chamado Biarritz, originalmente publicado em 1868, cuja história gira ao redor da existência de uma cabala secreta judaica e suas conspirações para conquistar o mundo.

Esse romance foi criado por um autor alemão claramente anti-semita chamado Hermann Goedsche, que preparou o escrito sob o pseudônimo de Sir John Retcliffe.

A idéia, por sua vez, veio de outro escritor, Maurice Joly, autor de Diálogos no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, publicado em 1864, e que falava sobre uma conspiração no Inferno contra Napoleão III. Goeddsche somente trocou a figura conspiratória dos escritores citados pelos judeus e inseriu cenários mais contemporâneos.

Como sabemos, o Império Russo anterior à Revolução Comunista procurava um bode expiatório para os problemas internos, mais ou menos como na Alemanha entre guerras. E os russos não tiveram escrúpulos ao usar partes da novela de Goedsche e publicá-las separadamente, já com o nome dos Protocolos, acompanhadas de afirmações de que se tratavam de atas verdadeiras de reuniões secretas realizadas pelos judeus. Com isto esperavam reforçar a imagem do Czar ao identificar seus verdadeiros oponentes. Registros históricos demonstram que Nicolau já via o Manifesto Comunista de Marx e Engels, publicados em 1848, como uma ameaça. Marx, por ser judeu mas não seguir a religião e falar abertamente sobre a idéia de um regime político onde a religião como um todo seria banida, era a figura perfeita para a criação de uma “ameaça judaica fundamentada”.

Apesar da obra ter sido constantemente acusada como fraudulenta (em 1921 por Philip Grave, um correspondente do London Times; em 1920 por Lucien Wolf no livro The Jewish Bogey and the Forged Protocols of the Learned Elders of Zion; e em 1971 por Herman Bernstein na obra The Truth About The Protocols of Zion: A Complete Exposure, entre outros) ela continuou ser usada como um documento histórico verídico e confundiu as cabeças das pessoas.

Mas os anti-semitas usaram e abusaram do texto. Um caso que ficou notório foi sua publicação nos Estados Unidos num jornal de Michigan cujo proprietário era ninguém menos do que Henry Ford, o criador dos carros que levam seu nome. O próprio Ford era anti-semita e autor de um livro obscuro chamado O Judeu Internacional. Mesmo depois que a fraude foi denunciada o jornal continuou a publicar o texto.
Hitler usaria os Protocolos como uma justificativa para a necessidade do extermínio dos judeus numa atividade de propaganda que começou cerca de dez anos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. De acordo com o pensamento nazista, era necessário tomar certos cuidados contra os planos judeus de domínio mundial, que haviam sido “descobertos” pelos russos em 1897. Eles ainda afirmariam que o plano ainda estava em andamento 33 anos depois. Hitler dizia que eram a prova da “culpa” dos judeus pela Revolução Comunista.

E o texto seria usado até hoje por grupos racistas, supremacistas brancos, nazistas e neo-nazistas para justificar os males que afligem os povos que estejam sob regimes autoritários. A publicação dos Protocolos em várias línguas, incluindo o português, ajudou em sua propagação. Ainda hoje neonazistas afirmam que os judeus seriam responsáveis pela queda do comunismo e sua posterior democratização.

A Sociedade Thule

Um dos primeiros lugares a usar o conteúdo dos Protocolos para discutir em público foi a chamada Sociedade Thule (no original, Thule-Gesellschaft). O grupo foi fundado originalmente como Studiengruppe für germanisches Altertum (ou Grupo de Estudo para Antiguidade Germânica), mas logo começou a disseminar propaganda anti-semita.

Seu fundador foi Rudolf von Sebottendorff, um ocultista alemão que era maçom, astrólogo, numerólogo e praticante de meditação sufi, ligado à tradição sufista muçulmana. Inicialmente uma loja maçônica, logo assumiria o nome de Germanenorder Walvater, um desdobramento da Germanenorder, uma sociedade secreta conhecida como Ordem Teutônica, fundada em 1911. Era baseada em Munique e tirou seu nome mais conhecido de um país mítico localizado, segundo um mito grego, no nordeste daquele país.

Von Sebottendorff declarou em várias oportunidades que a verdadeira missão da Sociedade Thule era “ser um veículo para promover suas próprias teorias ocultistas”. A pressão para que se tornasse um grupo voltado para a política da época surgiu devido a pressões da própria Germanenorder. Essas declarações foram feitas numa época em que os nazistas estavam em pleno poder e o fundador da Thule tinha pouco a ganhar ao negar o anti-semitismo, o que levou muitos pesquisadores do assunto a assumirem isto como uma verdade.

O fato é que o grupo se tornou conhecido como a organização que apoiou o Deutsche Arbeiterpartei, mais tarde transformado por obra de Hitler no Partido Nacional-Socialista alemão. Vale, entretanto, lembrar que o próprio Hitler, até onde se sabe, nunca foi membro da Thule.

O foco principal das atividades era determinar a origem da raça ariana. O fato de poetas como Virgílio (que menciona na Eneida o termo Ultima Thule, ou a Thule mais distante) e geógrafos greco-romanos localizarem o país Thule no extremo nordeste (ou seja, no extremo do mundo conhecido de então) levaram aos “pesquisadores” da sociedade identificarem esta terra com a Escandinávia. Assim os místicos nazistas definem a terra de Ultima Thule como um longo território próximo da Islândia ou da Groenlândia, capital da terra da Hiperbórea.

De um modo geral essas idéias vem de uma especulação inicial de Ignatius L. Donnelly, um congressista norte-americano que fez fama com escritos sobre teorias concernentes ao destino da Atlântida. Ele afirmava que a terra perdida dos atlantes era a origem dos arianos.Para apoiar sua teoria ele usava a distribuição da suástica pelas culturas mundiais como um indício grande do êxodo dos sobreviventes atlantes. E fazia ligações entre essa distribuição e os escritos de Platão sobre o continente perdido, teoria também utilizada por Madame Blavatsky, como já vimos no capítulo anterior. Para completar, vale lembrar que a Thule manteve contato constante com os seguidores da teosofia.

Seguidores e atividades

O contingente da Thule alcançou a marca dos 250 membros em Munique e mais 1.500 na Bavária. Seus encontros aconteciam em geral num hotel de Munique chamado Vier Jahreszeiten (As Quatro Estações). Muito das atividades do grupo tinham mais a ver com a divulgação de idéias racistas (como os debates promovidos para propagar os Protocolos) do que com possíveis estudos ocultistas. Sua meta era combater a influência “perniciosa” de judeus e comunistas. Alguns estudiosos chegam a apontar o boato que correu na época de que a Thule estaria envolvida num plano de seqüestro do primeiro-ministro socialistas Kurt Eisner, organizador da Revolução Socialista que conseguiu derrubar a monarquia da Bavária em 1918.

O fato é que a Thule foi acusada de tentar impor seu próprio governo quando da criação da República Soviética da Bavária em 1919. Foi durante esta tentativa que o então governo soviético prendeu vários membros do grupo para executá-los mais tarde.

Enquanto isso, em Munique, a sociedade comprou um jornal semanal, conhecido como Münchener Beobachter (Observador de Munique) e mudou seu nome para Münchener Beobachter und Sportblatt (algo como Observador de Munique e Relatório de Esportes), numa tentativa de aumentar sua circulação. Algum tempo depois esse mesmo periódico iria se tornar o Völkischer Beobachter (Observador do Povo), o principal jornal nazista, editado por Karl Harrer, um dos membros fundadores do Partido dos Trabalhores Alemães, o embrião do Partido Nazista.

Naquele mesmo ano outro membro da Thule, Anton Drexler, que estabelecera contatos entre a sociedade e várias outras organizações extremistas dos direitos trabalhistas, junta-se a Karl Harrer para participar do Partido dos Trabalhadores. Também Hitler entra em cena no mesmo ano. Em abril, o DAP (do alemão Deutsche Arbeiterpartei) se reorganiza e torna-se o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores ou NSDAP (do alemão Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei).

O fundador da Thule, por sua vez, resolve abandonar o grupo e, até onde se saiba, nunca se juntou ao DAP ou ao NSDAP. Vários textos históricos de proeminentes estudiosos falam sobre a inclusão de vários membros da Thule no alto escalão nazista, incluindo nomes como Dietrich Eckart (um dos membros-chave do nazismo e o primeiro a utilizar o termo Terceiro Reich, em cuja honra Hitler dedicou seu livro Mein Kampf), Gottfried Feder (cujas palestras atraíram Hitler para o partido), Hans Frank(julgado em Nuremberg por seu papel na execução do Holocausto na Polônia), Rudolf Hess (assistente de Hitler no partido nazista) e Alfred Rosenberg (principal teórico do nacional-socialismo e conselheiro de Hitler). O historiador Nicholas Goodrick-Clarke, autor de Sol Negro, sobre o lado esotérico do nazismo, afirma que esses mesmos supostos membros não o seriam de fato, uma vez que tudo não passou de uma gentileza oferecida a eles pela Thule durante a Revolução Bávara, ocorrida em 1918. Além dos nazistas mais iminentes também há outros nomes que são ligados à Thule, como Karl Fiehler (prefeito de Munique entre 1933 e 1945)e o doutor Wilhelm Frick (executado por crimes de Guerra logo após o fim da Segunda Guerra Mundial).

Outros autores e estudiosos divulgaram que Hitler era um membro do grupo. O fato é que não há até hoje uma única evidência de que isto fosse verdade. Pelo contrário, a maioria dos historiadores afirma que o Fuhrer nunca esteve num encontro da sociedade e citam como prova os registros controlados por Johannes Hering. A principal corrente de pesquisas afirma que Hitler era um homem que tinha pouco ou nenhum interesse em questões esotéricas.

No começo de 1920 Harrer é forçado a deixar o DAP e Hitler tornou-se o elo com a Thule, que em seguida começou a perder influência e foi dissolvida cinco anos depois, bem antes do Fuhrer tomar o poder.
Em 1933 Rudolf von Sebottendorff, que já estava afastado da Thule há pelo menos 14 anos, voltou à Alemanha com a esperança de que pudesse reativá-la, desta vez com os propósitos corretos. Naquele ano ele publicou um livro, Bevor Hitler kam (Antes de Hitler), onde afirmava que a Thule preparou o caminho para o líder nazista. As afirmações, entretanto, não foi bem recebida pelas autoridades em questão e, como resultado, nos anos seguintes as sociedades secretas alemãs (incluindo ocultistas ditos do movimento popular) foram proibidos e muitas fecharam suas portas graças à legislação antimaçônica de 1935. O livro de von Sebottendorff foi proibido e o autor preso em 1934, para depois ser enviado para o exílio na Turquia.

Porém muito foi dito sobre a incorporação de idéias vindas da Thule dentro dos conceitos do Terceiro Reich. Algusn desses ensinamentos teriam sido divulgados nos livros de Alfred Rosenberg como O Mito do Século XX. Muitas dessas idéias de cunho ocultistas encontraram em Heinrich Himmler um defensor que, ao contrário de Hitler, não só tinha um grande interesse no assunto como também aplicou muitos conceitos que foram facilmente identificados, como a estrututa das SS, semelhante à da Ordem dos Jesuítas conduzida por Santo Inácio de Loyola.

Entre os muitos boatos e teorias de conspiração  ligados à Thule e jamais confirmados estão várias histórias que alimentaram o mundo do cinema e das bandas desenhadas. Por exemplo, como Dietrich Eckart ajudou Hitler a desenvolver suas habilidades de oratória, foi dito que a sociedade de alguma forma havia dado ao Fuhrer poderes hipnóticos para o domínio das massas, que mais tarde contribuiriam para sua popularidade e sucesso. Uma teoria derribada somente pela confirmação de que Eckard nunca foi membro da sociedade.
Outra história famosa fala sobre uma paranormal chamada Maria Orsic, que teria convencido os naxistas de quea raça ariana não teria se originado na Terra, como dizem os ensinamentos de Madame Blavatsky, mas sim num planeta chamado Aldebaran na constelação de Touro, cerca de 65 anos-luz distante de nosso planeta.

Outras histórias falam da ligação entre Thule e Sociedade Vril (da qual falaremos em outros capítulos) em algum ponto do ano de 1919. Tanto a Vril quanto outro grupo, conhecido como Os Homens da Pedra Negra adorariam uma deusa germânica da montanha chamada “Isias” (talvez uma corruptela de Isis) e uma Pedra Negra vinda do espaço (a Schwarzer Stein), talvez um meteorito.

O Sol Negro

Embora os nazistas não admitam oficialmente o uso de signos místicos, sua crença na raça ariana já os contradiz. E é da mesma Helena Blavatsky que podemos encontrar mais um conceito místico por eles usado, o do Sol Negro.

Blavatsky lançou o conceito na verdade como o Sol Central, apresentado na Gnose como “o Centro de Centros, que enlaça e unifica as nebulosas de milhões e milhões de sóis que existem aos milhares no céu”, em oposição ao Sol Polar, “o centro galáctico de toda a nossa nebulosa e de seus cem mil sóis”. Esse sol invisível simboliza a ascensão de uma força ou pólo opositor.
O símbolo pode ser decomposto basicamente em um grupo que contém três suásticas, uma nascente, uma no zênite e uma poente. Uma outra interpretação para o desenho é que ele incorporaria as 12 runas Sig reversas das runas armânicas. O desenho foi também adotado por neonazistas como um substituto para a suástica tradicional.

O Sol Negro foi muito usado como adorno de broches, onde era possivelmente uma variação da suástica usada nos emblemas da Roma imperial e era usado por tribos de francos e germânicos como fivela de cintos femininos, com o número de raios nos broches varia entre cinco e 12.

Goodrick-Clarke descreve em Sol Negro que os broches do começo da Alemanha medieval apresentavam o mesmo símbolo e conclui que os artefatos originais que o usavam tinham umaimportância ligada ao Sol. Diz ele:

“Esta roda solar de 12 raios é derivada dos discos decorativos do Merovíngios do começo da era medieval e supostamente representa o Sol visível ou sua passagem pelos meses do ano”.

O mais famoso local ligado aos nazistas e que apresentou este símbolo foi mesmo mosaico de Wewelsburgo, que é onde podemos observar a forma utilizada pelo esoterismo germânico e pelo nazismo esotérico de hoje. Trata-se de um mosaico encontrado no piso de um castelo construído em 1603, datado da época da Renascença e localizado na região conhecida como Renânia do Norte-Vestfália, um dos 16 estados da Alemanha.

O mosaico em questão fica no chão da Torre Norte do Castelo, uma parte que sobreviveu quando o local estava em ruínas até 1815. Claro que, para aqueles que seguiam as normas esotéricas, isso foi de grande importância e este fato não passou desapercebido de Himmler no outono de 1935. Ao estabelecer o castelo como o “centro do mundo”, que servia mais como uma central de seu grupo, a torre serviu como uma espécie de centro de culto pseudo-religioso para os oficiais do alto escalão das SS.

Um projeto assim ambicioso precisaria de ajuda para que tomasse a forma desejada. Afinal, um castelo medieval precisaria de alguns retoques em seus planos estruturais, tarefa que coube ao arquiteto Hermann Bartels, ele próprio um membro das SS. A Torre Norte teve as seguintes áreas planejadas para poder aproveitar sua significância em três níveis:

1) Onde havia originalmente uma cisterna foi criado uma caverna no modelo dos túmulos encontrados por Heinrich Schliemann (o descobridor de Tróia) na cidade grega de Micenas que deveria servir para uma espécie de comemoração dos mortos.

2) O andar térreo deveria receber ainda uma sala cheia de colunas.

3) Os níveis superiores deveriam ser completados com salas de reunião para os componentes das SS.

Porém o projeto nunca foi completado, pois foi interrompido em 1943. Os estudiosos do local não conseguiram ainda discernir se o símbolo no piso da Torre foi posto antes ou depois dos nazistas e da ocupação de Himmler. Há várias especulações e discussões sobre o verdadeiro propósito do Sol Negro naquele local.

O Museu de Wewelsburg comercializa um livro sobre a história do castelo entre 1933 e 1935, mas não diz quem o colocou lá. Os planos que haviam sido traçados por Bartels não mencionam o mosaico. Para ajudar na divulgação das lendas nazistas, ainda circulam boatos de que, no meio do desenho, havia um disco de ouro, embora fotos do local mostrem que isso não seria muito provável.
Outra história que ajuda no mito do Sol Negro é o rumor de que um desenho idêntico ao do castelo de Wewelsburg foi encontrado numa parede pintada num abrigo memorial militar dedicado a Otto von Bismark, responsável pela unificação da Alemanha e primeiro chanceler do Império Alemão.
O grande mistério reside no fato de se saber um detalhe: qual teria sido a real inspiração para Himmler lançar mão de tal símbolo. Aparentemente sua inspiração foi um “velho símbolo ariano” que deveria imitar a Távola Redonda do mito arturiano, onde cada raio do Sol representaria originalmente um cavaleiro ou, no caso dos nazistas, um oficial do círculo interno das SS. Há uma versão do Sol cuja interpretação foi divulgada num romance de grande sucesso britânico, The Black Sun, de James Twining. O símbolo uniria três outros componentes da ideologia nazista: a roda solar, a suástica e a runa estilizada da vitória.
Erich Halik, membro de um grupo esotérico chamado Círculo de Viena (formado em 1950), foi o primeiro a ligar as SS com o símbolo do Sol Negro após observar a presença do mesmo num avião alemão ao final da Segunda Guerra Mundial. Outra fonte que liga o símbolo ao culto nazista foi o chamado Seminário Thule (não confundir com a Sociedade Thule), uma organização neonazista de elite com sede em Kassel, cidade situada no norte do Estado de Hessen, no oeste da Alemanha. Seu jornal, chamado Elemente, traz em edição publicada em 1998 uma ilustração composta por um guerreiro marcial que segura um escudo decorado com a roda de Wewelsburg. Sua espada levantada proclama o esforço para o “renascimento da Europa” contra o “holocausto de pessoas no altar do multiculturalismo”

Segundo uma lenda, o olho esquerdo de Hórus simbolizava a Lua e o direito, o Sol. Durante a luta, o deus Set arrancou o olho esquerdo de Hórus, o qual foi substituído por este amuleto, que não lhe dava visão total, colocando então também uma serpente sobre sua cabeça. Depois da sua recuperação, Horus pôde organizar novos combates que o levaram à vitória decisiva sobre Set. Era a união do olho humano com a vista do falcão, animal associado ao deus Hórus.

Este blog criado por mim não tem nenhuma ideologia cor ou raça e aqui existe a democracia verdadeira e eu sempre posto as versões das duas partes envolvidas e não tenho o rabo preso com nenhuma delas e acredito que estão é nos jogando uns contra os outros enquanto alguém que se julga invisível esta se beneficiando de tudo isto. os protocolos estão sendo aplicados e isto é só observarmos o mundo atual e isto não é culpa dos judeus, alemães ou se qualquer outro povo deste planeta.





MITOLOGIA EGÍPCIA: HÓRUS

HÓRUS

Hórus, mítico soberano do Egipto, desdobra as suas divinas asas de falcão sob a cabeça dos faraós, não somente meros protegidos, mas, na realidade, a própria incarnação do deus do céu. Pois não era ele o deus protector da monarquia faraónica, do Egipto unido sob um só faraó, regente do Alto e do Baixo Egipto? Com efeito, desde o florescer da época história, que o faraó proclamava que neste deus refulgia o seu ka (poder vital), na ânsia de legitimar a sua soberania, não sendo pois inusitado que, a cerca de 3000 a. C., o primeiro dos cinco nomes da titularia real fosse exactamente “o nome de Hórus”. No panteão egípcio, diversas são as deidades que se manifestam sob a forma de um falcão. Hórus, detentor de uma personalidade complexa e intrincada, surge como a mais célebre de todas elas. Mas quem era este deus, em cujas asas se reinventava o poder criador dos faraós? Antes de mais, Hórus representa um deus celeste, regente dos céus e dos astros neles semeados, cuja identidade é produto de uma longa evolução, no decorrer da qual Hórus assimila as personalidades de múltiplas divindades.

Originalmente, Hórus era um deus local de Sam- Behet (Tell el- Balahun) no Delta, Baixo Egipto. O seu nome, Hor, pode traduzir-se como “O Elevado”, “O Afastado”, ou “O Longínquo”. Todavia, o decorrer dos anos facultou a extensão do seu culto, pelo que num ápice o deus tornou-se patrono de diversas províncias do Alto e do Baixo Egipto, acabando mesmo por usurpar a identidade e o poder das deidades locais, como, por exemplo, Sopedu (em zonas orientais do Delta) e Khentekthai (no Delta Central). Finalmente, integra a cosmogonia de Heliópolis enquanto filho de Ísis e Osíris, englobando díspares divindades cuja ligação remonta a este parentesco. O Hórus do mito osírico surge como um homem com cabeça de falcão que, à semelhança de seu pai, ostenta a coroa do Alto e do Baixo Egipto. É igualmente como membro desta tríade que Hórus saboreia o expoente máximo da sua popularidade, sendo venerado em todos os locais onde se prestava culto aos seus pais. A Lenda de Osíris revela-nos que, após a celestial concepção de Hórus, benção da magia que facultou a Ísis o apanágio de fundir-se a seu marido defunto em núpcias divinas, a deusa, receando represálias por parte de Seth, evoca a protecção de Ré- Atum, na esperança de salvaguardar a vida que florescia dentro de si.

Receptivo às preces de Ísis, o deus solar velou por ela até ao tão esperado nascimento. Quando este sucedeu, a voz de Hórus inebriou então os céus: “ Eu sou Hórus, o grande falcão. O meu lugar está longe do de Seth, inimigo de meu pai Osíris. Atingi os caminhos da eternidade e da luz. Levanto voo graças ao meu impulso. Nenhum deus pode realizar aquilo que eu realizei. Em breve partirei em guerra contra o inimigo de meu pai Osíris, calcá-lo-ei sob as minhas sandálias com o nome de Furioso... Porque eu sou Hórus, cujo lugar está longe dos deuses e dos homens. Sou Hórus, o filho de Ísis.” Temendo que Seth abraçasse a resolução de atentar contra a vida de seu filho recém- nascido, Ísis refugiou-se então na ilha flutuante de Khemis, nos pântanos perto de Buto, circunstância que concedeu a Hórus o epíteto de Hor- heri- uadj, ou seja, “Hórus que está sobre a sua planta de papiro”. Embora a natureza inóspita desta região lhe oferecesse a tão desejada segurança, visto que Seth jamais se aventuraria por uma região tão desértica, a mesma comprometia, concomitantemente, a sua subsistência, dada a flagrante escassez de alimentos característica daquele local. Para assegurar a sua sobrevivência e a de seu filho, Ísis vê-se obrigada a mendigar, pelo que, todas as madrugadas, oculta Hórus entre os papiros e erra pelos campos, disfarçada de mendiga, na ânsia de obter o tão necessário alimento. Uma noite, ao regressar para junto de Hórus, depara-se com um quadro verdadeiramente aterrador: o seu filho jazia, inanimado, no local onde ela o abandonara. Desesperada, Ísis procura restituir-lhe o sopro da vida, porém a criança encontrava-se demasiadamente débil para alimentar-se com o leite materno. Sem hesitar, a deusa suplica o auxílio dos aldeões, que todavia se relevam impotentes para a socorrer.

Quando o sofrimento já quase a fazia transpor o limiar da loucura, Ísis vislumbrou diante de si uma mulher popular pelos seus dons de magia, que prontamente examinou o seu filho, proclamando Seth alheio ao mal que o atormentava. Na realidade, Hórus ( ou Harpócrates, Horpakhered- “Hórus menino/ criança”) havia sido simplesmente vítima da picada de um escorpião ou de uma serpente. Angustiada, Ísis verificou então a veracidade das suas palavras, decidindo-se, de imediato, e evocar as deusas Néftis e Selkis (a deusa- escorpião), que prontamente ocorreram ao local da tragédia, aconselhando-a a rogar a Ré que suspendesse o seu percurso usual até que Hórus convalescesse integralmente. Compadecido com as suplicas de uma mãe, o deus solar ordenou assim a Toth que salvasse a criança. Quando finalmente se viu diante de Hórus e Ísis, Toth declarou então: “ Nada temas, Ísis! Venho até ti, armado do sopro vital que curará a criança. Coragem, Hórus! Aquele que habita o disco solar protege-te e a protecção de que gozas é eterna. Veneno, ordeno-te que saias! Ré, o deus supremo, far-te-á desaparecer. A sua barca deteve-se e só prosseguirá o seu curso quando o doente estiver curado. Os poços secarão, as colheitas morrerão, os homens ficarão privados de pão enquanto Hórus não tiver recuperado as suas forças para ventura da sua mãe Ísis. Coragem, Hórus. O veneno está morto, ei- lo vencido.”

Após haver banido, com a sua magia divina, o letal veneno que estava prestes a oferecer Hórus à morte, o excelso feiticeiro solicitou então aos habitantes de Khemis que velassem pela criança, sempre que a sua mãe tivesse necessidade de se ausentar. Muitos outros sortilégios se abateram sobre Hórus no decorrer da sua infância (males intestinais, febres inexplicáveis, mutilações), apenas para serem vencidos logo de seguida pelo poder da magia detida pelas sublimes deidades do panteão egípcio. No limiar da maturidade, Hórus, protegido até então por sua mãe, Ísis, tomou a resolução de vingar o assassinato de seu pai, reivindicando o seu legítimo direito ao trono do Egipto, usurpado por Seth. Ao convocar o tribunal dos deuses, presidido por Rá, Hórus afirmou o seu desejo de que seu tio deixasse, definitivamente, a regência do país, encontrando, ao ultimar os seus argumentos, o apoio de Toth, deus da sabedoria, e de Shu, deus do ar. Todavia, Ra contestou-os, veementemente, alegando que a força devastadora de Seth, talvez lhe concedesse melhores aptidões para reinar, uma vez que somente ele fora capaz de dominar o caos, sob a forma da serpente Apópis, que invadia, durante a noite, a barca do deus- sol, com o fito de extinguir, para toda a eternidade, a luz do dia. Ultimada uma querela verbal, que cada vez mais os apartava de um consenso, iniciou-se então uma prolixa e feroz disputa pelo poder, que opôs em confrontos selváticos, Hórus a seu tio. Após um infrutífero rol de encontros quase soçobrados na barbárie, Seth sugeriu que ele próprio e o seu adversário tomassem a forma de hipopótamos, com o fito de verificar qual dos dois resistiria mais tempo, mantendo-se submergidos dentro de água.

Escoado algum tempo, Ísis foi incapaz de refrear a sua apreensão e criou um arpão, que lançou no local, onde ambos haviam desaparecido. Porém, ao golpear Seth, este apelou aos laços de fraternidade que os uniam, coagindo Ísis a sará-lo, logo em seguida. A sua intervenção enfureceu Hórus, que emergiu das águas, a fim de decapitar a sua mãe e, acto contíguo, levá-la consigo para as montanhas do deserto. Ao tomar conhecimento de tão hediondo acto, Rá, irado, vociferou que Hórus deveria ser encontrado e punido severamente. Prontamente, Seth voluntariou-se para capturá-lo. As suas buscas foram rapidamente coroadas de êxito, uma vez que este nem ápice se deparou com Hórus, que jazia, adormecido, junto a um oásis. Dominado pelo seu temperamento cruel, Seth arrancou ambos os olhos de Hórus, para enterrá-los algures, desconhecendo que estes floresceriam em botões de lótus. Após tão ignóbil crime, Seth reuniu-se a Rá, declarando não ter sido bem sucedido na sua procura, pelo que Hórus foi então considerado morto. Porém, a deusa Hátor encontrou o jovem deus, sarando-lhe, miraculosamente, os olhos, ao friccioná-los com o leite de uma gazela. Outra versão, pinta-nos um novo quatro, em que Seth furta apenas o olho esquerdo de Hórus, representante da lua. Contudo, nessa narrativa o deus-falcão, possuidor, em seus olhos, do Sol e da lua, é igualmente curado.

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Em ambas as histórias, o Olho de Hórus, sempre representado no singular, torna-se mais poderoso, no limiar da perfeição, devido ao processo curativo, ao qual foi sujeito. Por esta razão, o Olho de Hórus ou Olho de Wadjet surge na mitologia egípcia como um símbolo da vitória do bem contra o mal, que tomou a forma de um amuleto protector. A crença egípcia refere igualmente que, em memória desta disputa feroz, a lua surge, constantemente, fragmentada, tal como se encontrava, antes que Hórus fosse sarado. Determinadas versões desta lenda debruçam-se sobre outro episódio de tão desnorteante conflito, em que Seth conjura novamente contra a integridade física de Hórus, através de um aparentemente inocente convite para o visitar em sua morada. A narrativa revela que, culminado o jantar, Seth procura desonrar Hórus, que, embora precavido, é incapaz de impedir que um gota de esperma do seu rival tombe em suas mãos. Desesperado, o deus vai então ao encontro de sua mãe, a fim de suplicar-lhe que o socorra. Partilhando do horror que inundava Hórus, Ísis decepou as mãos do filho, para arremessá-las de seguida à água, onde graças à magia suprema da deus, elas desaparecem no lodo. Todavia, esta situação torna-se insustentável para Hórus, que toma então a resolução de recorrer ao auxílio do Senhor Universal, cuja extrema bonomia o leva a compreender o sofrimento do deus- falcão e, por conseguinte, a ordenar ao deus- crocodilo Sobek, que resgatasse as mãos perdidas. Embora tal diligência haja sido coroada de êxito, Hórus depara-se com mais um imprevisto: as suas mãos tinham sido abençoadas por uma curiosa autonomia, incarnando dois dos filhos do deus- falcão.

Novamente evocado, Sobek é incumbido da taregfa de capturar as mãos que teimavam em desaparecer e levá-las até junto do Senhor Universal, que, para evitar o caos de mais uma querela, toma a resolução de duplicá-las. O primeiro par é oferecido à cidade de Nekhen, sob a forma de uma relíquia, enquanto que o segundo é restituído a Hórus. Este prolixo e verdadeiramente selvático conflito foi enfim solucionado quando Toth persuadiu Rá a dirigir uma encomiástica missiva a Osíris, entregando-lhe um incontestável e completo título de realeza, que o obrigou a deixar o seu reino e confrontar o seu assassino. Assim, os dois deuses soberanos evocaram os seus poderes rivais e lançaram-se numa disputa ardente pelo trono do Egipto. Após um recontro infrutífero, Ra propôs então que ambos revelassem aquilo que tinham para oferecer à terra, de forma a que os deuses pudessem avaliar as suas aptidões para governar. Sem hesitar, Osíris alimentou os deuses com trigo e cevada, enquanto que Seth limitou-se a executar uma demonstração de força. Quando conquistou o apoio de Ra, Osíris persuadiu então os restantes deuses dos poderes inerentes à sua posição, ao recordar que todos percorriam o horizonte ocidental, alcançando o seu reino, no culminar dos seus caminhos. Deste modo, os deuses admitiram que, com efeito, deveria ser Hórus a ocupar o trono do Egipto, como herdeiro do seu pai. Por conseguinte, e volvidos cerca de oito anos de altercações e recontros ferozes, foi concedida finalmente ao deus- falcão a tão cobiçada herança, o que lhe valeu o título de Hor-paneb-taui ou Horsamtaui/Horsomtus, ou seja, “Hórus, senhor das Duas Terras”.

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Como compensação, Rá concedeu a Seth um lugar no céu, onde este poderia desfrutar da sua posição de deus das tempestades e trovões, que o permitia atormentar os demais. Este mito parece sintetizar e representar os antagonismos políticos vividos na era pré- dinástica, surgindo Hórus como deidade tutelar do Baixo Egipto e Seth, seu oponente, como protector do Alto Egipto, numa clara disputa pela supremacia política no território egípcio. Este recontro possui igualmente uma cerca analogia com o paradoxo suscitado pelo combate das trevas com a luz, do dia com a noite, em suma, de todas as entidades antagónicas que encarnam a típica luta do bem contra o mal. A mitologia referente a este deus difere consoante as regiões e períodos de tempo. Porém, regra geral, Hórus surge como esposo de Háthor, deusa do amor, que lhe ofereceu dois filhos: Ihi, deus da música e Horsamtui, “Unificador das Duas Terras”. Todavia, e tal como referido anteriormente, Hórus foi imortalizado através de díspares representações, surgindo por vezes sob uma forma solar, enquanto filho de Atum- Ré ou Geb e Nut ou apresentado pela lenda osírica, como fruto dos amores entre Osíris e Ísis, abraçando assim diversas correntes mitológicas, que se fundem, renovam e completam em sua identidade. É dos muitos vectores em que o culto solar e o culto osírico, os mais relevantes do Antigo Egipto, se complementam num oásis de Sol, pátria de lendas de luz, em cujas águas d’ ouro voga toda a magia de uma das mais enigmáticas civilizações da Antiguidade.

Detalhes e vocabulário egípcio:
culto de Hórus centralizava-se na cidade de Edfu, onde particularmente no período ptolomaico saboreou uma estrondosa popularidade;
culto do deus falcão dispersou-se em inúmeros sub- cultos, o que criou lendas controversas e inúmeras versões do popular deus, como a denominada Rá- Harakhty;
as estelas (pedras com imagens) de Hórus consideravam-se curativas de mordeduras de serpentes e picadas de escorpião, comuns nestas regiões, dado representarem o deus na sua infância vencendo os crocodilos e os escorpiões e estrangulando as serpentes. Sorver a água que qualquer devotado lhe houvesse deixado sobre a cabeça, significava a obtenção da protecção que Ísis proporcionava ao filho. Nestas estelas surgia, frequentemente, o deus Bes, que deita a língua de fora aos maus espíritos. Os feitiços cobrem os lados externos das estelas. Encontramos nelas uma poderosa protecção, como salienta a famigerada Estela de Mettenich: “Sobe veneno, vem e cai por terra. Hórus fala-te, aniquila-te, esmaga-te; tu não te levantas, tu cais, tu és fraco, tu não és forte; tu és cego, tu não vês; a tua cabeça cai para baixo e não se levanta mais, pois eu sou Hórus, o grande Mágico.”.

Quando o sofrimento já quase a fazia transpor o limiar da loucura, Ísis vislumbrou diante de si uma mulher popular pelos seus dons de magia, que prontamente examinou o seu filho, proclamando Seth alheio ao mal que o atormentava. Na realidade, Hórus ( ou Harpócrates, Horpakhered- “Hórus menino/ criança”) havia sido simplesmente vítima da picada de um escorpião ou de uma serpente. Angustiada, Ísis verificou então a veracidade das suas palavras, decidindo-se, de imediato, e evocar as deusas Néftis e Selkis (a deusa- escorpião), que prontamente ocorreram ao local da tragédia, aconselhando-a a rogar a Ré que suspendesse o seu percurso usual até que Hórus convalescesse integralmente. Compadecido com as suplicas de uma mãe, o deus solar ordenou assim a Toth que salvasse a criança. Quando finalmente se viu diante de Hórus e Ísis, Toth declarou então: “ Nada temas, Ísis! Venho até ti, armado do sopro vital que curará a criança. Coragem, Hórus! Aquele que habita o disco solar protege-te e a protecção de que gozas é eterna. Veneno, ordeno-te que saias! Ré, o deus supremo, far-te-á desaparecer. A sua barca deteve-se e só prosseguirá o seu curso quando o doente estiver curado. Os poços secarão, as colheitas morrerão, os homens ficarão privados de pão enquanto Hórus não tiver recuperado as suas forças para ventura da sua mãe Ísis. Coragem, Hórus. O veneno está morto, ei- lo vencido.”

Após haver banido, com a sua magia divina, o letal veneno que estava prestes a oferecer Hórus à morte, o excelso feiticeiro solicitou então aos habitantes de Khemis que velassem pela criança, sempre que a sua mãe tivesse necessidade de se ausentar. Muitos outros sortilégios se abateram sobre Hórus no decorrer da sua infância (males intestinais, febres inexplicáveis, mutilações), apenas para serem vencidos logo de seguida pelo poder da magia detida pelas sublimes deidades do panteão egípcio. No limiar da maturidade, Hórus, protegido até então por sua mãe, Ísis, tomou a resolução de vingar o assassinato de seu pai, reivindicando o seu legítimo direito ao trono do Egipto, usurpado por Seth. Ao convocar o tribunal dos deuses, presidido por Rá, Hórus afirmou o seu desejo de que seu tio deixasse, definitivamente, a regência do país, encontrando, ao ultimar os seus argumentos, o apoio de Toth, deus da sabedoria, e de Shu, deus do ar. Todavia, Ra contestou-os, veementemente, alegando que a força devastadora de Seth, talvez lhe concedesse melhores aptidões para reinar, uma vez que somente ele fora capaz de dominar o caos, sob a forma da serpente Apópis, que invadia, durante a noite, a barca do deus- sol, com o fito de extinguir, para toda a eternidade, a luz do dia. Ultimada uma querela verbal, que cada vez mais os apartava de um consenso, iniciou-se então uma prolixa e feroz disputa pelo poder, que opôs em confrontos selváticos, Hórus a seu tio. Após um infrutífero rol de encontros quase soçobrados na barbárie, Seth sugeriu que ele próprio e o seu adversário tomassem a forma de hipopótamos, com o fito de verificar qual dos dois resistiria mais tempo, mantendo-se submergidos dentro de água.

Escoado algum tempo, Ísis foi incapaz de refrear a sua apreensão e criou um arpão, que lançou no local, onde ambos haviam desaparecido. Porém, ao golpear Seth, este apelou aos laços de fraternidade que os uniam, coagindo Ísis a sará-lo, logo em seguida. A sua intervenção enfureceu Hórus, que emergiu das águas, a fim de decapitar a sua mãe e, acto contíguo, levá-la consigo para as montanhas do deserto. Ao tomar conhecimento de tão hediondo acto, Rá, irado, vociferou que Hórus deveria ser encontrado e punido severamente. Prontamente, Seth voluntariou-se para capturá-lo. As suas buscas foram rapidamente coroadas de êxito, uma vez que este nem ápice se deparou com Hórus, que jazia, adormecido, junto a um oásis. Dominado pelo seu temperamento cruel, Seth arrancou ambos os olhos de Hórus, para enterrá-los algures, desconhecendo que estes floresceriam em botões de lótus. Após tão ignóbil crime, Seth reuniu-se a Rá, declarando não ter sido bem sucedido na sua procura, pelo que Hórus foi então considerado morto. Porém, a deusa Hátor encontrou o jovem deus, sarando-lhe, miraculosamente, os olhos, ao friccioná-los com o leite de uma gazela. Outra versão, pinta-nos um novo quatro, em que Seth furta apenas o olho esquerdo de Hórus, representante da lua. Contudo, nessa narrativa o deus-falcão, possuidor, em seus olhos, do Sol e da lua, é igualmente curado.

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Em ambas as histórias, o Olho de Hórus, sempre representado no singular, torna-se mais poderoso, no limiar da perfeição, devido ao processo curativo, ao qual foi sujeito. Por esta razão, o Olho de Hórus ou Olho de Wadjet surge na mitologia egípcia como um símbolo da vitória do bem contra o mal, que tomou a forma de um amuleto protector. A crença egípcia refere igualmente que, em memória desta disputa feroz, a lua surge, constantemente, fragmentada, tal como se encontrava, antes que Hórus fosse sarado. Determinadas versões desta lenda debruçam-se sobre outro episódio de tão desnorteante conflito, em que Seth conjura novamente contra a integridade física de Hórus, através de um aparentemente inocente convite para o visitar em sua morada. A narrativa revela que, culminado o jantar, Seth procura desonrar Hórus, que, embora precavido, é incapaz de impedir que um gota de esperma do seu rival tombe em suas mãos. Desesperado, o deus vai então ao encontro de sua mãe, a fim de suplicar-lhe que o socorra. Partilhando do horror que inundava Hórus, Ísis decepou as mãos do filho, para arremessá-las de seguida à água, onde graças à magia suprema da deus, elas desaparecem no lodo. Todavia, esta situação torna-se insustentável para Hórus, que toma então a resolução de recorrer ao auxílio do Senhor Universal, cuja extrema bonomia o leva a compreender o sofrimento do deus- falcão e, por conseguinte, a ordenar ao deus- crocodilo Sobek, que resgatasse as mãos perdidas. Embora tal diligência haja sido coroada de êxito, Hórus depara-se com mais um imprevisto: as suas mãos tinham sido abençoadas por uma curiosa autonomia, incarnando dois dos filhos do deus- falcão.

Novamente evocado, Sobek é incumbido da taregfa de capturar as mãos que teimavam em desaparecer e levá-las até junto do Senhor Universal, que, para evitar o caos de mais uma querela, toma a resolução de duplicá-las. O primeiro par é oferecido à cidade de Nekhen, sob a forma de uma relíquia, enquanto que o segundo é restituído a Hórus. Este prolixo e verdadeiramente selvático conflito foi enfim solucionado quando Toth persuadiu Rá a dirigir uma encomiástica missiva a Osíris, entregando-lhe um incontestável e completo título de realeza, que o obrigou a deixar o seu reino e confrontar o seu assassino. Assim, os dois deuses soberanos evocaram os seus poderes rivais e lançaram-se numa disputa ardente pelo trono do Egipto. Após um recontro infrutífero, Ra propôs então que ambos revelassem aquilo que tinham para oferecer à terra, de forma a que os deuses pudessem avaliar as suas aptidões para governar. Sem hesitar, Osíris alimentou os deuses com trigo e cevada, enquanto que Seth limitou-se a executar uma demonstração de força. Quando conquistou o apoio de Ra, Osíris persuadiu então os restantes deuses dos poderes inerentes à sua posição, ao recordar que todos percorriam o horizonte ocidental, alcançando o seu reino, no culminar dos seus caminhos. Deste modo, os deuses admitiram que, com efeito, deveria ser Hórus a ocupar o trono do Egipto, como herdeiro do seu pai. Por conseguinte, e volvidos cerca de oito anos de altercações e recontros ferozes, foi concedida finalmente ao deus- falcão a tão cobiçada herança, o que lhe valeu o título de Hor-paneb-taui ou Horsamtaui/Horsomtus, ou seja, “Hórus, senhor das Duas Terras”.


Como compensação, Rá concedeu a Seth um lugar no céu, onde este poderia desfrutar da sua posição de deus das tempestades e trovões, que o permitia atormentar os demais. Este mito parece sintetizar e representar os antagonismos políticos vividos na era pré- dinástica, surgindo Hórus como deidade tutelar do Baixo Egipto e Seth, seu oponente, como protector do Alto Egipto, numa clara disputa pela supremacia política no território egípcio. Este recontro possui igualmente uma cerca analogia com o paradoxo suscitado pelo combate das trevas com a luz, do dia com a noite, em suma, de todas as entidades antagónicas que encarnam a típica luta do bem contra o mal. A mitologia referente a este deus difere consoante as regiões e períodos de tempo. Porém, regra geral, Hórus surge como esposo de Háthor, deusa do amor, que lhe ofereceu dois filhos: Ihi, deus da música e Horsamtui, “Unificador das Duas Terras”. Todavia, e tal como referido anteriormente, Hórus foi imortalizado através de díspares representações, surgindo por vezes sob uma forma solar, enquanto filho de Atum- Ré ou Geb e Nut ou apresentado pela lenda osírica, como fruto dos amores entre Osíris e Ísis, abraçando assim diversas correntes mitológicas, que se fundem, renovam e completam em sua identidade. É dos muitos vectores em que o culto solar e o culto osírico, os mais relevantes do Antigo Egipto, se complementam num oásis de Sol, pátria de lendas de luz, em cujas águas d’ ouro voga toda a magia de uma das mais enigmáticas civilizações da Antiguidade.


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