A história dos Templários em Portugal é única na Europa. Enquanto noutros países a Ordem foi perseguida e os seus bens confiscados, em Portugal ela transformou-se e sobreviveu, deixando um legado arquitetónico e simbólico que intriga historiadores e esotéricos até hoje.
1. A Transmutação: De Templários a Cavaleiros de Cristo
Em 1312, o Papa Clemente V extinguiu a Ordem do Templo. Contudo, o Rei D. Dinis de Portugal, reconhecendo a importância militar e financeira dos cavaleiros na Reconquista e na defesa do território, resistiu à pressão papal.
A Estratégia Diplomática: D. Dinis criou a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo em 1319. Na prática, foi uma mudança de nome ("nomen juris") que permitiu que os mesmos cavaleiros mantivessem os seus castelos, bens e conhecimentos sob a proteção da coroa portuguesa.
O Símbolo: A cruz pátea vermelha dos Templários foi ligeiramente modificada, tornando-se a famosa Cruz da Ordem de Cristo (uma cruz branca sobreposta a uma vermelha), que mais tarde adornaria as velas das caravelas nos Descobrimentos.
2. O Convento de Cristo em Tomar
Sede da Ordem, o Convento de Cristo é um "livro de pedra" repleto de simbolismo. A sua construção iniciou-se em 1160 por Gualdim Pais, Grão-Mestre Templário que trouxera do Médio Oriente técnicas avançadas de fortificação e geometria sagrada.
A Charola: O Coração Templário
A Charola é um oratório octogonal inspirado na Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Significado: O número 8 (oito lados) simboliza o infinito e a ressurreição.
Interação: A estrutura permitia que os cavaleiros assistissem à missa montados nos seus cavalos, reforçando o caráter da "igreja-fortaleza".
3. Simbolismo Rosacruz e Maçónico em Tomar
Embora a Maçonaria moderna e a Ordem Rosacruz tenham surgido formalmente séculos depois da extinção dos Templários, muitos investigadores europeus e americanos (como o historiador português José Manuel Anes) apontam para a presença de uma "pré-maçonaria" ou de um conhecimento hermético partilhado.
Sinais da Rosacruz
O simbolismo da Rosa e da Cruz em Tomar é frequentemente associado ao Estilo Manuelino e às reformas feitas pelo Infante D. Henrique e, mais tarde, por D. Manuel I.
A Janela do Capítulo: Considerada o expoente máximo do Manuelino, contém elementos como cordas, cintos de cavaleiro, corais e troncos. Para muitos esotéricos, a profusão de elementos naturais e geométricos representa a "Grande Obra" alquímica.
Rosas de Pedra: Existem diversas representações de rosas em tetos e capitéis. No contexto esotérico de Tomar, a rosa simboliza o segredo e a espiritualidade oculta que floresce na cruz (o sofrimento/matéria).
Sinais Maçónicos
A Igreja de São João Batista, na Praça da República em Tomar, é frequentemente citada por conter elementos que seriam absorvidos pela Maçonaria:
O Esquadro e o Compasso: Presentes de forma subtil em marcas de canteiro (os "stonemasons") que construíram o templo.
Estrelas de Cinco e Seis Pontas: Visíveis em vitrais e decorações, simbolizando o Homem Vitruviano e a união do divino com o terreno.
Dualidade Solar e Lunar: A presença de símbolos do Sol e da Lua representa os opostos que o iniciado deve equilibrar, uma temática central tanto no esoterismo templário quanto no maçónico.
4. Perspetivas Internacionais
Estudos nos EUA e na Europa (como os de Graham Hancock ou de historiadores da Maçonaria Europeia) sugerem que o Convento de Cristo serviu como um santuário para o conhecimento proibido.
Fontes Americanas: Focam-se frequentemente na ligação entre os conhecimentos de navegação da Ordem de Cristo e a possibilidade de viagens pré-colombianas, sugerindo que o "tesouro" dos Templários era, na verdade, mapas e tabelas astronómicas.
Fontes Europeias: Tendem a analisar a arquitetura como uma linguagem codificada. O uso da proporção áurea em Tomar é visto como prova de que a Ordem detinha conhecimentos matemáticos superiores, trazidos do Oriente e preservados em segredo.
Conclusão
Tomar não é apenas uma cidade histórica; é um centro de convergência espiritual. A sobrevivência dos Templários sob o nome de Ordem de Cristo permitiu que Portugal se tornasse o berço da expansão marítima, movido por uma elite que detinha tanto o poder das armas quanto o poder do conhecimento oculto.

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