Ettore Majorana (1906–?) foi um físico teórico italiano cuja mente foi comparada por Enrico Fermi à de titãs como Isaac Newton e Galileu Galilei. Seu desaparecimento em 1938, aos 31 anos, permanece como um dos maiores mistérios da história da ciência moderna.
1. Contexto e Formação: Os "Ragazzi di Via Panisperna"
Nascido em Catânia, Sicília, Majorana demonstrou prodígios matemáticos desde a infância. Em Roma, integrou o lendário grupo liderado por Enrico Fermi na Via Panisperna.
Diferencial Intelectual: Enquanto seus colegas eram experimentadores ou teóricos brilhantes, Majorana possuía uma capacidade de cálculo mental e abstração que intimidava até Fermi. Relata-se que ele resolvia em minutos equações que levavam dias para o resto da equipe.
A Personalidade: Descrito como extremamente reservado, autocrítico e, por vezes, cínico. Frequentemente rascunhava descobertas fundamentais em maços de cigarro e os jogava fora após mostrá-los aos colegas, recusando-se a publicá-los.
2. Contribuições Científicas Fundamentais
Apesar de ter publicado apenas nove artigos em vida, o impacto de seu trabalho é sentido até hoje:
Férmions de Majorana: Em 1937, ele propôs uma solução para a equação de Dirac que sugere a existência de partículas que são suas próprias antipartículas. Hoje, a busca por "Majorana fermions" é um dos campos mais quentes da física de partículas e computação quântica.
Teoria do Núcleo: Antes de Heisenberg, Majorana já havia concebido a ideia do núcleo composto por prótons e nêutrons unidos por forças de troca, mas se recusou a publicar a ideia inicialmente por considerá-la "incompleta".
Neutrinos: Seu trabalho previu propriedades dos neutrinos que ainda estão sendo testadas em laboratórios subterrâneos de grande escala na Europa (como o Gran Sasso) e nos EUA.
3. A Cronologia do Desaparecimento (1938)
Em 1938, Majorana havia assumido a cadeira de Física Teórica na Universidade de Nápoles "por mérito excepcional".
25 de Março: Majorana retira todo o seu dinheiro do banco e embarca em um navio de Nápoles para Palermo.
As Cartas: Ele envia uma carta a Antonio Carrelli, diretor do Instituto de Física de Nápoles, anunciando sua "decisão inevitável" e pedindo desculpas pelo incômodo. Outra carta foi deixada para sua família com pedidos semelhantes.
A Mudança de Ideia: No dia seguinte, envia um telegrama a Carrelli dizendo que desistiu do suicídio e que retornaria, mas que abandonaria o ensino.
O Último Registro: Ele comprou uma passagem de volta de Palermo para Nápoles. Há relatos de que foi visto a bordo, mas nunca desembarcou em Nápoles.
4. Principais Teorias e Investigações
Ao longo das décadas, várias teorias foram exploradas por jornalistas, escritores (como Leonardo Sciascia) e pela polícia italiana:
Suicídio: A teoria oficial inicial, baseada nas cartas. No entanto, o fato de ele ter sacado todo o seu salário e passaporte levanta dúvidas. Seu corpo nunca foi encontrado no mar.
Retiro Monástico: Sciascia, em seu livro La scomparsa di Majorana, sugere que o físico, prevendo a criação da bomba atômica e o uso destrutivo da energia nuclear, buscou refúgio em um mosteiro (possivelmente a Certosa di Serra San Bruno) para escapar da responsabilidade moral de suas descobertas.
A Pista da América do Sul (Venezuela/Argentina): Em 2011, o Ministério Público de Roma reabriu o caso após evidências fotográficas e testemunhos surgirem da Venezuela. Um homem conhecido como "Sr. Bini", que viveu em Valencia nos anos 50, guardava uma semelhança física impressionante com Majorana e possuía conexões com a família. O caso foi encerrado em 2015 com a conclusão de que ele provavelmente viveu na Venezuela entre 1955 e 1959.
Rapto por Potências Estrangeiras: Dada a tensão pré-Segunda Guerra Mundial, especulou-se que Majorana poderia ter sido levado pela Alemanha Nazista ou pela União Soviética devido aos seus conhecimentos em física nuclear, embora não existam provas documentais sólidas para isso.
5. Legado e Impacto Cultural
O desaparecimento de Majorana transformou-o em uma figura quase mítica. Ele é visto como o "físico filósofo" que preferiu o desaparecimento à participação na era atômica. Seu nome hoje batiza centros de pesquisa (Ettore Majorana Foundation and Centre for Scientific Culture) e conceitos de ponta na física teórica.
Fontes principais consultadas:
La scomparsa di Majorana por Leonardo Sciascia.
Documentos do Ministério Público de Roma (Investigação de 2011-2015).
Arquivos da Universidade de Nápoles Federico II.
Artigos do CERN Courier e American Scientist


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