A cultura Epiolmeca (aprox. 300 a.C. – 250 d.C.) floresceu na região do Istmo de Tehuantepec, no México. Sua maior relíquia, a Estela 1 de La Mojarra, descoberta em 1986 no Rio Acula, é um dos textos mais longos e complexos da Mesoamérica pré-colombiana, contendo mais de 500 glifos.
1. Cosmologia e a Estrutura do Universo
Estudos liderados por John Justeson (SUNY Albany) e Terrence Kaufman (University of Pittsburgh) sugerem que a cosmologia Epiolmeca era fundamentada em um universo tripartido, simbolizado por três divindades principais:
O Monstro Terrestre (Dragão): Representa a superfície da terra e a fertilidade. Frequentemente retratado com a boca aberta, simbolizando a entrada de cavernas para o submundo.
O Monstro Ave (Principal Bird Deity): Representa o céu e a ordem celestial. Na Estela 1, o governante Senhor Montanha Colhedor (Harvester Mountain Lord) é retratado usando um elaborado toucado de ave, sinalizando seu papel como mediador entre o plano terreno e o divino.
O Monstro Peixe/Tubarão: Representa o submundo e as águas primordiais. Na iconografia de La Mojarra, o tubarão é um símbolo de linhagem real e sacrifício.
2. Mitologia e o Mito da Criação
Diferente dos Maias, cujo mito de criação (Popol Vuh) é bem preservado, o mito Epiolmeca é reconstruído através da análise comparativa de monumentos como a Estela C de Tres Zapotes e a Estatueta de Tuxtla.
O Sacrifício do Tubarão e a Criação
Pesquisas iconográficas sugerem que, para os Epiolmecas, a criação do mundo envolveu uma batalha mítica entre um herói humano ou divino e o "Monstro Peixe".
A perda do membro: Há paralelos com mitos posteriores onde uma divindade (como Tezcatlipoca) perde o pé para o monstro da terra/água. Na Estela 1, o governante é cercado por símbolos de tubarões, sugerindo que ele encarna o herói que subjugou as forças do caos para trazer ordem ao mundo.
O Eixo do Mundo: O governante é o axis mundi. Suas ações rituais (autossacrifício e guerra) são o que mantém o ciclo do tempo em movimento.
3. Mitologia do Tempo e Astronomia
A Estela de La Mojarra registra datas da Conta Longa (8.5.3.3.5 e 8.5.16.9.7), correspondendo a 143 d.C. e 156 d.C.
Eventos Celestiais: Estudos indicam que as datas não são aleatórias; elas alinham-se com aparições de Vênus e eclipses solares. A mitologia Epiolmeca via Vênus como um guerreiro celeste.
O Ritual de Sangue: O texto decifrado menciona o bloodletting (sangria) do rei e o sacrifício de um cunhado, conectando o sangue humano à nutrição dos deuses para garantir que o sol continuasse sua jornada.
4. O Debate sobre a Decifração (EUA vs. México)
A tradução de Justeson e Kaufman identifica a língua como Pré-Proto-Zoqueano. No entanto, esta tradução foi contestada por pesquisadores como Stephen Houston e Michael Coe, que argumentam que o sistema de escrita pode não ser totalmente fonético como proposto. No México, instituições como a UNAM e o INAH focam mais na análise material e no contexto arqueológico do que na tradução linguística pura, tratando os glifos como uma evolução das formas iconográficas Olmecas.
5. Referências e Estudos Recomendados
Livros: The Gods of the Olmec (ThoughtCo/Miller), Mexico: From the Olmecs to the Aztecs (Michael D. Coe).
Artigos Acadêmicos: A Decipherment of Epi-Olmec Hieroglyphic Writing (Science, 1993).
Documentários: Séries do National Geographic sobre civilizações perdidas do Golfo do México frequentemente abordam a Estela de La Mojarra como o elo perdido da escrita.
Resumo do Significado Histórico: A Estela de La Mojarra prova que a escrita complexa, a Conta Longa e a mitologia do "Rei Divino" já estavam totalmente formadas no Istmo de Tehuantepec antes de atingirem seu ápice com os Maias do período Clássico.

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