É correto buscar paralelos para a cosmologia platônica que distingue entre uma realidade material e sensível (o mundo que percebemos, imperfeito, mutável, como as sombras) e uma realidade imaterial e suprassensível (o Mundo das Ideias ou Formas, a "verdadeira realidade", perfeita e imutável).
🏛️ Filosofias com Realidade Base Imaterial e Transcendental
As semelhanças com a visão de Platão, que postula um mundo de Formas como base e essência de tudo o que existe no mundo sensível (as cópias), podem ser encontradas em:
* Neoplatonismo (Plotino, séculos III-VI d.C.):
* Plotino retoma e expande a cosmologia platônica, propondo uma hierarquia de realidade que emana de um princípio supremo e incriado: o Uno (ou o Bem, para Platão).
* O Uno é a fonte de toda a existência, perfeito e transcendente. A realidade em que vivemos (o mundo sensível) é uma emanação sucessiva e degradada (imperfeita) do Uno, passando pelo Intelecto e pela Alma do Mundo.
* O cosmos é visto como um reflexo do Uno, e o caminho para a verdade é o ascetismo e a contemplação (semelhante ao acesso às Ideias pela razão em Platão) para retornar à sua fonte.
* Cosmologia Cristã e Agostiniana (Santo Agostinho, séculos IV-V d.C.):
* A tradição judaico-cristã e islâmica baseia-se na ideia de um Deus transcendente, uma entidade primeira e separada da matéria que a criou.
* Santo Agostinho (que foi fortemente influenciado pelo Platonismo e Neoplatonismo) incorporou o conceito do Mundo das Ideias no pensamento cristão. Para Agostinho, as Ideias Eternas não estão em um lugar físico à parte (o Hiperurânio platônico), mas sim na mente de Deus (o criador, semelhante ao Demiurgo platônico, mas com o poder de criar ex nihilo - do nada).
* Portanto, o mundo material é uma criação de Deus baseada em modelos (as Ideias) que residem em Sua mente, sendo o mundo visível uma cópia do modelo perfeito e imaterial.
* Algumas Escolas Indianas e Orientais (Analogia):
* Embora não sejam diretamente influenciadas por Platão, algumas cosmologias orientais apresentam um dualismo entre uma Realidade Última Imutável (como o Brahman no Hinduísmo Vedanta) e o mundo da experiência (o Māyā), que é percebido como ilusório, transitório e imperfeito. O Māyā é frequentemente comparado a uma ilusão ou véu que obscurece a verdadeira realidade.
🔍 O "Espelho" e o "Mundo Verdadeiro"
A ideia de que "vemos por espelho hoje" está intimamente ligada à Alegoria da Caverna de Platão (República, Livro VII), onde a realidade material é vista como meras sombras (reflexos/cópias imperfeitas) projetadas na parede, sendo a luz do sol (fora da caverna) a verdadeira realidade (o Mundo das Ideias e a Ideia do Bem).
Essa metáfora do reflexo ou da cópia também é encontrada:
* No Cristianismo: A passagem bíblica que diz: "Porque agora vemos como por espelho, em enigma; mas então veremos face a face" (I Coríntios 13:12) reflete uma distinção similar: o conhecimento atual (terreno) é parcial e imperfeito (o "espelho"), contrastando com a verdade completa e direta que virá no futuro (a "visão face a face" de Deus/Realidade).
Essas filosofias e tradições, portanto, compartilham o dualismo central de Platão: a existência de duas realidades irredutíveis — uma material/sensível (aparente, mutável, imperfeita) e outra imaterial/inteligível (base, imutável, perfeita, a verdadeira realidade).

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