A sua questão toca no cerne de uma das mais importantes e debatidas teorias da ciência política e das relações internacionais: a influência do Complexo Militar-Industrial (CMI) no poder dos Estados Unidos.
A ideia central é que o poder real não reside totalmente na figura eleita do presidente, mas sim em uma aliança profundamente enraizada entre a indústria de defesa, o aparato militar e os burocratas do governo.
1. A Teoria Central: O Complexo Militar-Industrial
O conceito fundamental que embasa essa visão foi popularizado pelo próprio Presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, em seu discurso de despedida em 1961.
Conceito: Complexo Militar-Industrial (CMI).
Definição: Uma aliança e interconexão informal, mas poderosa, entre os militares, as indústrias de armamentos e de tecnologia de defesa (contratantes privados), e os políticos.
A Tese do Poder Oculto: O CMI teria um interesse financeiro e burocrático permanente na manutenção de um alto orçamento de defesa, na inovação tecnológica militar e, frequentemente, em conflitos externos (ou na ameaça deles), o que impulsiona seus lucros e seu poder, pressionando a política externa e interna do país. Nessa ótica, o presidente, embora seja o Comandante-em-Chefe, atuaria muitas vezes mais como um gerente das diretrizes de segurança e econômica estabelecidas por esse complexo do que como um agente de mudança independente.
. Figuras Ilustrativas e o Conflito de Poder
A figura mais citada para ilustrar a ameaça desse poder é o próprio Presidente que o batizou:
- Presidente Dwight D. Eisenhower (1953–1961):
- Sua citação sobre o "Complexo Militar-Industrial" é a base da teoria. O fato de um ex-General de 5 estrelas (Comandante Supremo das Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial) ter feito esse alerta é visto por muitos como a prova mais contundente de que o poder do CMI era real e ameaçava a democracia civil.
Outros presidentes são frequentemente citados em narrativas que sugerem sua submissão ou desafio ao CMI:
- Robert McNamara (Secretário de Defesa de Kennedy e Johnson): Embora não seja um presidente, sua atuação no Pentágono (DOD) nos anos 60, aplicando técnicas de engenharia de sistemas e pesquisa operacional (desenvolvidas com contribuições militares/Rand), é vista como a consolidação da gestão tecnocrática e militarizada da defesa.
- Presidentes Modernos: Muitos analistas veem a continuidade das intervenções militares e a manutenção de orçamentos de defesa astronômicos (independentemente do partido no poder) como evidência de que os presidentes, em sua maioria, obedecem às diretrizes do CMI, sendo figuras ilustrativas que articulam a política externa dentro dos limites de uma estratégia militarizada e de segurança.
A segunda parte da crítica foca na política dos Estados Unidos, vista não como uma democracia funcional, mas como um Estado Militar ou um Estado Imperial onde os partidos Democrata e Republicano atuam como guardiões de um status quo hegemônico e militarista.
O Bipartidarismo como Oligarquia e Ferramenta Imperial
Muitos críticos do sistema político estadunidense, tanto da esquerda radical quanto de certas vertentes de não-intervencionismo de direita (paleoconservadores ou libertários), apontam que o rodízio de poder entre Democratas e Republicanos resulta em uma continuidade nas políticas externas e econômicas cruciais.
Autores e Argumentos (Política Externa e Militarismo):
Noam Chomsky é um dos críticos mais proeminentes da política externa dos EUA. Em obras como Hegemonia ou Sobrevivência: A Busca dos Estados Unidos pelo Domínio Global, ele detalha como as administrações (Democratas e Republicanas) promovem, consistentemente, o imperialismo estadunidense, a intervenção militar e a manutenção de um complexo industrial-militar vastíssimo. Para Chomsky, a política externa é movida por interesses de elite, com a "democracia" servindo como uma cobertura ideológica.
Slavoj Žižek, em suas análises sobre a política americana, sugere que o verdadeiro conflito não está entre os partidos, mas dentro de cada um, e que o bipartidarismo falha em oferecer alternativas reais. Ele critica a "guerra civil ideológica" que desvia o foco das questões estruturais.
O "Estado Militar":
O argumento é que os EUA, desde o pós-Segunda Guerra Mundial, se transformaram em uma nação cuja economia e política externa são intrinsecamente ligadas ao poderio militar. A contínua expansão do orçamento de defesa, a vasta rede de bases militares globais e o uso frequente da força são vistos como evidências de um Estado Militar que prioriza a projeção de poder sobre a democracia interna e externa.
Críticos ressaltam a continuidade nas políticas de guerra e intervenção, independentemente de quem ocupe a Casa Branca. Republicanos e Democratas votam majoritariamente a favor de grandes orçamentos militares e raramente desafiam o lobby do complexo industrial-militar.
A Crítica ao Sistema Eleitoral e à "Democracia"
A alegação de que a democracia é uma farsa nos EUA é frequentemente baseada em críticas ao sistema eleitoral e ao domínio do dinheiro na política.
Autores e Argumentos (Domínio Corporativo):
O sistema de financiamento de campanhas nos EUA (por meio de PACs e Super PACs) é frequentemente citado como prova de que o poder reside nas grandes corporações e nos bilionários, e não no povo.
Críticos argumentam que os Democratas e Republicanos representam, em grande medida, os interesses corporativos de Wall Street, da Big Pharma, da Big Tech e do complexo militar, e não os trabalhadores ou a população em geral.
O sistema eleitoral em si (Colégio Eleitoral, Gerrymandering), as baixas taxas de participação e as restrições ao voto em alguns estados são vistas como mecanismos que limitam a influência popular e consolidam o poder da oligarquia bipartidária.
Conclusão e Bibliografia Selecionada
A visão de que a esquerda e a direita são uma farsa bipartidária nos EUA — um teatro que serve a um Estado Militar e corporativo — é uma crítica radical e consistente que encontra eco em diversas correntes anti-institucionais e anti-hegemônicas. O cerne do argumento é que as diferenças ideológicas são superficiais, obscurecendo um consenso profundo em torno da manutenção do capitalismo, do Estado e do imperialismo.
Bibliografia Sugerida
Chomsky, Noam. Hegemonia ou Sobrevivência: A Busca dos Estados Unidos pelo Domínio Global. (Aborda a continuidade da política externa e o imperialismo dos EUA).
Viana, Nildo. Direita e Esquerda: Duas Faces da Mesma Moeda. (Artigo ou ensaio que discute a falsa oposição sob a perspectiva marxista autogestionária).
Bookchin, Murray. O Poder de Destruir e o Poder de Criar. (Oferece uma perspectiva anarquista sobre a necessidade de transcender as categorias políticas tradicionais).
Žižek, Slavoj. Análises sobre o bipartidarismo americano e a implosão do sistema político. (Busca por artigos e ensaios do autor sobre a política americana).
Rothbard, Murray N. Esquerda e Direita: O Prospecto para a Liberdade. (Perspectiva libertária que questiona a classificação tradicional esquerda-direita).

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