A presença de grupos e simpatizantes nazistas no Brasil durante as décadas de 1930 e 1940 é um fato histórico. O país, que possuía a maior comunidade alemã fora da Alemanha, abrigou filiais do Partido Nazista Alemão (NSDAP) e o movimento de juventude "Bund". Esses grupos tinham forte influência em comunidades de imigrantes, especialmente no Sul do Brasil, onde a cultura e a língua alemã eram preservadas.
A "quinta coluna", termo usado para se referir a grupos infiltrados que trabalhavam secretamente para o inimigo, ganhou força na imprensa brasileira após o país se alinhar aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Documentos da época e estudos acadêmicos mostram que houve, de fato, atividades de propaganda e espionagem por parte de agentes nazistas. No entanto, essas ações foram mais ligadas a centros urbanos e à comunidade de imigrantes como um todo, e não a locais específicos de forma isolada, como veremos a seguir.
As Lendas de Ibirubá e o Dr. Braun
A cidade de Ibirubá, no Rio Grande do Sul, é o epicentro de uma série de lendas urbanas sobre a presença nazista. As narrativas mencionam túneis subterrâneos, laboratórios secretos, a figura de um médico chamado Dr. Braun, e um possível refúgio para foragidos do Terceiro Reich, como Martin Bormann, secretário de Hitler.
* Túneis e Laboratórios: As histórias sobre uma rede de túneis secretos conectando edifícios e subsolo da cidade são um dos pontos mais conhecidos. Em 2017, a prefeitura de Ibirubá realizou escavações em busca dessas estruturas, que foram tema de reportagens em programas de televisão. Embora algumas estruturas antigas de concreto tenham sido encontradas, a maioria dos achados foi associada a porões e adegas de colonos alemães, uma prática comum na época, e não a túneis de fuga nazistas. Os geólogos que analisaram o local indicaram que as "anomalias côncavas" detectadas poderiam ter outras origens, e não há evidência histórica de que existiram laboratórios subterrâneos.
* Dr. Frederico Ernesto Braun e a Morte Forjada: A figura central das lendas é o Dr. Frederico Ernesto Braun, um médico nascido em Ibirubá, mas com uma história que se misturou com a ficção. Segundo os relatos populares, o Dr. Braun teria cometido erros médicos em Chicago e se envolvido em contrabando de dólares. Perseguido por "amigos nazistas" por desviar o dinheiro que seria usado para comprar terras para o grupo, ele teria simulado a própria morte para fugir. As lendas afirmam que, em seu caixão, teria sido sepultado o cachorro de estimação da família, um pastor alemão. O túmulo de Braun no cemitério da cidade foi violado duas vezes por pessoas que buscavam provas da lenda.
* A Enfermeira de Chicago e o Depoimento de Nice: A narrativa sobre o Dr. Braun é complementada por outros personagens, como a enfermeira de Chicago, que supostamente teria testemunhado os eventos nos EUA, e o depoimento de "Nice", que teria trabalhado no Hospital Santa Helena em Ibirubá. O depoimento de uma auxiliar de enfermagem (não identificada como Nice em algumas reportagens, mas que pode ser a mesma pessoa) sobre um antigo "laboratório de análise" no subsolo do hospital, onde era proibido o acesso, alimentou as histórias dos laboratórios secretos. É importante notar que essas figuras e seus testemunhos circulam em vídeos e blogs, mas não foram verificados por historiadores ou documentos oficiais.
Análise e Conclusão
A pesquisa em jornais da década de 1940 revela a preocupação com a "quinta coluna" nazista em solo brasileiro, mas não há menção específica a túneis em Ibirubá ou à figura do Dr. Braun como um agente nazista. As histórias que se popularizaram sobre Ibirubá são, em sua essência, um misto de folclore local com eventos reais da imigração alemã no Sul do Brasil, combinados com um fascínio por conspirações e segredos da Segunda Guerra Mundial.
Os relatos sobre o Dr. Braun, Martin Bormann, a enfermeira de Chicago e os túneis são amplamente compartilhados em plataformas como o YouTube, blogs e fóruns de discussão. No entanto, não há evidências documentais ou históricas de que essas histórias sejam verdadeiras. Elas foram, de fato, investigadas por veículos de imprensa, mas sempre com a ressalva de que se tratavam de lendas e boatos.
Em suma, enquanto a existência de grupos pró-nazistas no Brasil é um fato histórico, as narrativas sobre uma rede de túneis e laboratórios secretos controlados por criminosos de guerra em Ibirubá, liderados pelo Dr. Braun, são consideradas lendas urbanas sem comprovação factual.
Resumo do Livro: A 5ª Coluna Nazista no Brasil - A Conspiração Nazi no Rio Grande do Sul
O livro "A 5ª Coluna Nazista no Brasil: A Conspiração Nazi no Rio Grande do Sul", de Marco Aurélio, mergulha em uma investigação detalhada sobre a presença de simpatizantes e agentes nazistas em solo brasileiro, com um foco particular no estado do Rio Grande do Sul, onde a comunidade de imigrantes alemães era mais numerosa e influente.
O autor se baseia em uma pesquisa minuciosa de documentos históricos, incluindo arquivos da polícia política da época, relatórios de espionagem e registros diplomáticos, para desmistificar ou confirmar algumas das lendas urbanas que surgiram em torno do tema. O termo "quinta coluna" é utilizado para descrever a rede de apoio clandestina que teria operado dentro do Brasil, visando minar a segurança nacional e promover os interesses do Terceiro Reich.
Principais Pontos da Obra:
* A Infiltração Nazista: O livro detalha como o Partido Nazista Alemão (NSDAP) e suas organizações afiliadas se estabeleceram no Brasil. Marco Aurélio explica que a ideologia nazista encontrou terreno fértil em algumas colônias de imigrantes alemães, que mantinham fortes laços com a "pátria-mãe". Ele explora a criação de escolas nazistas, a atuação da juventude hitlerista (Jungvolk) e a propagação de propaganda.
* O Plano de Dominação do Sul: A obra aborda a teoria de que existia um plano nazista para criar um "Estado germânico" no Sul do Brasil, separando-o do resto do país. O autor examina os argumentos por trás dessa conspiração e analisa as evidências, mostrando que, embora houvesse simpatizantes com planos ambiciosos, a capacidade de execução de um projeto dessa magnitude era limitada e controlada de perto pelo governo de Getúlio Vargas.
* A Reação Brasileira: O livro também descreve a reação do governo brasileiro e da sociedade. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, a repressão contra os simpatizantes do Eixo se intensificou. O autor apresenta detalhes sobre a perseguição a membros da "quinta coluna", o fechamento de escolas e jornais em língua alemã e a nacionalização forçada das comunidades.
* Mitos e Realidade: Uma das contribuições mais importantes do livro é a distinção entre a história real e o folclore. Marco Aurélio, ao contrário de algumas teorias da conspiração, se mantém fiel às fontes documentais, evitando a romantização do tema. Ele investiga lendas sobre túneis, bases secretas e a presença de foragidos de alto escalão, como Martin Bormann, mas sempre com um olhar crítico e baseado em evidências concretas.
Em suma, "A 5ª Coluna Nazista no Brasil" é uma obra de referência que busca trazer à luz os fatos históricos por trás das lendas, oferecendo um panorama complexo e documentado sobre a atuação nazista em território brasileiro, especialmente no Rio Grande do Sul, durante o período da Segunda Guerra Mundial.
O Ascendente Político de Martin Bormann
Martin Bormann (1900-1945) ingressou no Partido Nazista em 1927 e ascendeu rapidamente na hierarquia. Sua carreira política decolou em 1933, quando se tornou chefe de gabinete de Rudolf Hess, então vice-Führer. Nesse papel, ele organizou e supervisionou a administração do Partido Nazista e ganhou a confiança de Hitler.
Com o tempo, Bormann consolidou seu poder nos bastidores. Ele era conhecido por sua personalidade inescrupulosa e seu talento para a burocracia, usando essas habilidades para minar a influência de seus rivais.
Secretário Pessoal de Hitler
Em 1941, com a deserção de Rudolf Hess para a Grã-Bretanha, Bormann assumiu formalmente o cargo de Chefe da Chancelaria do Partido Nazista e, em 1943, foi nomeado Secretário Pessoal do Führer.
Nessa posição, Bormann se tornou a figura central no círculo íntimo de Hitler. Ele era o principal intermediário para todas as comunicações com o líder, controlando quem tinha acesso a ele e, consequentemente, exercendo uma enorme influência sobre as decisões políticas e militares. Bormann era extremamente leal a Hitler, mas também implacável na perseguição de seus próprios interesses e na eliminação de oponentes. Ele desempenhou um papel crucial em várias políticas nazistas, incluindo a perseguição de judeus e a implementação do trabalho forçado.
Fuga e Pós-Guerra
No final da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, Bormann esteve com Hitler no seu bunker em Berlim. Após o suicídio de Hitler, Bormann tentou fugir da cidade, mas seu paradeiro se tornou um mistério por décadas.
Ele foi julgado à revelia nos Julgamentos de Nuremberg e condenado à morte por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Durante muito tempo, circularam rumores de que ele havia fugido para a América do Sul. No entanto, em 1972, restos mortais foram descobertos em Berlim e, após anos de investigações e análises de DNA, foi confirmado em 1998 que se tratavam de Bormann. Acredita-se que ele cometeu suicídio com uma cápsula de cianeto enquanto tentava escapar.
A história de Martin Bormann é um exemplo de como uma figura discreta e burocrática pôde acumular um poder imenso e desempenhar um papel central nos crimes do regime nazista.
O desaparecimento de Martin Bormann no final da Segunda Guerra Mundial deu origem a inúmeras teorias e lendas sobre sua fuga, especialmente para a América do Sul. Embora os restos mortais de Bormann tenham sido encontrados em Berlim em 1972 e, posteriormente, confirmados por testes de DNA, a história de sua fuga para o sul do continente persistiu por décadas e envolveu figuras como o caçador de nazistas Simon Wiesenthal.
Aqui está um resumo das informações sobre essa teoria e os relatórios mencionados:
Simon Wiesenthal e a Busca por Bormann
O famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal acreditou por muitos anos que Martin Bormann estava vivo e escondido na América do Sul, especialmente no Paraguai. Ele era uma das vozes mais proeminentes a sustentar essa teoria e, em 1964, chegou a declarar publicamente que Bormann estava vivo e morando no continente. Wiesenthal dedicou grande parte de seu trabalho a rastrear criminosos nazistas, e a busca por Bormann era uma de suas prioridades, alimentada por relatos e supostos avistamentos em países como Argentina, Chile e Paraguai.
No entanto, com a descoberta dos restos mortais em 1972, a crença de Wiesenthal foi confrontada. Ele acabou aceitando a conclusão de que Bormann havia morrido em Berlim em 1945, mas o mito já estava consolidado.
Arquivos Desclassificados e Teorias da Conspiração
A ideia de que Bormann fugiu para a América do Sul foi impulsionada por uma série de eventos e documentos, alguns dos quais foram posteriormente desmascarados.
Livros e Relatórios Falsos: O jornalista húngaro Ladislas Farago publicou o livro "Aftermath. Martin Bormann and the Fourth Reich" (1974), no qual alegava ter encontrado evidências de que Bormann vivia no Paraguai. Anos mais tarde, em 1992, o argentino Juan José Velasco, que vendeu documentos a Farago, confessou ter forjado o material.
Ruínas Nazistas na Argentina: Em 2015, arqueólogos argentinos descobriram ruínas de um possível esconderijo nazista na selva argentina, perto da fronteira com o Paraguai. Embora se especule que a área pudesse ser usada por nazistas em fuga, não há evidências concretas que a liguem diretamente a Bormann.
Documentos Argentinos Desclassificados: O governo argentino desclassificou arquivos que continham informações sobre nazistas que fugiram para o país, como Josef Mengele e Adolf Eichmann. Embora esses documentos confirmem a presença de outros criminosos de guerra no país, as informações sobre Bormann são, em grande parte, relatos de avistamentos não confirmados.
A descoberta e confirmação dos restos mortais de Martin Bormann em 1998, por meio de testes de DNA com um de seus familiares, encerrou formalmente o mistério de seu paradeiro, mas a lenda de sua fuga para a América do Sul continua a ser um tema de fascínio e especulação.



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