O Rei Revata: Uma Figura Enigmática na Índia Antiga e a viagem ao planeta Brahmaloka
A história da Índia antiga é um vasto tapeçaria tecida com mitos, lendas e relatos históricos, e dentro dela, a figura do Rei Revata emerge como um personagem intrigante, embora muitas vezes ofuscado por figuras mais proeminentes. Sua narrativa, encontrada principalmente em textos purânicos como o Bhagavata Purana (também conhecido como Srimad Bhagavatam) e o Vishnu Purana, oferece um vislumbre fascinante das concepções cósmicas e temporais daquela época, bem como das interações entre os reinos humano e divino.
Origens e Linagem
Revata é comumente apresentado como um rei da dinastia de Bharata, um ramo dos Chandravamsha (dinastia lunar), que governava a região de Anarta, que se acredita corresponder à atual Gujarat. Seu pai é listado como Rei Kakudmi, e Revata é conhecido por ter um filho chamado Revati, que se tornaria uma figura central em sua história. A linhagem real de Revata o posiciona em uma árvore genealógica de reis e sábios, conectando-o a eventos e personagens significativos da era védica e pós-védica.
A Busca pelo Noivo Ideal para Revati e a Viagem a Brahmaloka
O episódio mais famoso e crucial na história de Revata é a sua jornada a Brahmaloka, a morada de Brahma, o criador do universo. Revata, preocupado em encontrar o noivo mais adequado para sua filha Revati, decidiu buscar o conselho do próprio Brahma. A razão para essa busca divina não era apenas a de encontrar um príncipe digno, mas também a de garantir que o casamento fosse auspicioso e em conformidade com as leis cósmicas.
Acompanhado de sua filha, Revata empreendeu a árdua viagem espiritual até Brahmaloka. A chegada de Revata e Revati à morada celestial é descrita com reverência nos textos, destacando a singularidade e a importância da sua missão. Ao chegarem, eles encontraram Brahma absorto em ouvir uma apresentação musical dos Gandharvas (seres celestiais). Pacientemente, pai e filha esperaram o término da performance para apresentar seu dilema.
A Dilatação Temporal e Suas Consequências
Quando finalmente Revata pôde expressar sua preocupação sobre o noivo de Revati, a resposta de Brahma foi surpreendente e reveladora das complexas noções de tempo na cosmologia hindu. Brahma informou a Revata que, durante o breve período em que ele e sua filha estiveram em Brahmaloka, um vasto período de tempo havia transcorrido na Terra. A diferença temporal entre os reinos celestiais e terrestres é uma característica recorrente nos puranas, onde um único "dia" de Brahma pode equivaler a milhões de anos humanos.
Nesse caso específico, Brahma revelou que milhares de anos, ou eras (yugas), haviam se passado na Terra. Todos os reis e príncipes que Revata havia considerado como potenciais noivos para Revati já haviam perecido, e seus descendentes também. O mundo na Terra havia mudado drasticamente. Esta revelação serve como um poderoso lembrete da fugacidade da vida terrena e da imensidão do tempo cósmico.
O Casamento de Revati com Balarama
Diante da impactante verdade temporal, Brahma aconselhou Revata a casar Revati com Balarama, o irmão mais velho de Krishna e uma encarnação de Ananta Shesha (a serpente cósmica). Brahma explicou que Balarama era a escolha ideal, pois era poderoso, virtuoso e estava de acordo com o plano divino. O conselho de Brahma não era apenas prático, mas também profético, indicando a importância do alinhamento divino para o bem-estar da família real.
Revata, aceitando a sabedoria divina, retornou à Terra com sua filha. Devido à imensa diferença de eras e ao ambiente físico drasticamente alterado, Revati era consideravelmente mais alta e maior do que Balarama na época. Para ajustar a altura de Revati ao padrão terrestre e prepará-la para o casamento, Balarama usou seu arado, seu armamento característico, para diminuir o tamanho dela. Este ato simbólico representa a adaptação da dimensão celestial à terrena, preparando Revati para sua vida conjugal. O casamento de Revati com Balarama é um evento significativo, pois fortalece os laços entre a dinastia de Revata e as figuras divinas de Krishna e Balarama.
Legado e Significado
A história do Rei Revata, embora talvez menos proeminente que a de outros monarcas, carrega um profundo significado filosófico e cosmológico:
* A Natureza do Tempo: A narrativa é um dos exemplos mais claros nos textos hindus da concepção cíclica e multinível do tempo. Ela ilustra como a percepção do tempo pode variar drasticamente entre diferentes planos de existência, enfatizando a efemeridade da vida humana em contraste com a vastidão do tempo divino.
* A Importância da Busca Espiritual: A jornada de Revata a Brahmaloka simboliza a busca por sabedoria e orientação divina. Ele demonstrou humildade e devoção ao buscar o conselho do criador, indicando que as decisões mais importantes na vida devem ser tomadas com a bênção e a orientação divina.
* O Alinhamento com o Destino Divino: A história culmina com o casamento de Revati com Balarama, destacando a ideia de que o destino individual está muitas vezes entrelaçado com o plano divino maior. Aceitar e alinhar-se com esse plano é fundamental para a harmonia e o sucesso.
* Um Elo entre Eras: Revata e Revati servem como um elo entre diferentes yugas (eras). Sua experiência em Brahmaloka e seu retorno a uma Terra transformada simbolizam a continuidade da vida e a adaptação às mudanças inerentes ao fluxo do tempo cósmico.
Em suma, o Rei Revata, com sua busca singular e a revelação temporal que encontrou, permanece como uma figura enigmática, mas profundamente instrutiva na tapeçaria da Índia antiga. Sua história não é apenas um relato de um rei e sua filha, mas uma alegoria intemporal sobre a natureza do tempo, a busca por orientação divina e a interconexão entre o humano e o cósmico.





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