O Poder Transformador do Sonho Coletivo: "O sonho que se sonha só é só um sonho só e o sonho que se sonha junto é a realidade"
A frase que você mencionou, popularmente atribuída ao músico Raul Seixas, embora não haja consenso sobre sua autoria exata, carrega uma profunda verdade sobre a natureza dos sonhos, da aspiração humana e da realidade. Ela sugere que as aspirações individuais, por mais grandiosas que sejam, tendem a permanecer no plano da subjetividade se não forem compartilhadas e abraçadas por um coletivo. Quando um sonho ressoa em mais pessoas, ele ganha força, materialidade e a capacidade de transformar o mundo.
Teorias Semelhantes e Sua Ressonância
Essa ideia de que a união de mentes e corações pode concretizar sonhos encontra eco em diversas áreas do conhecimento e da cultura humana:
* Psicologia Social e Dinâmicas de Grupo: A psicologia social estuda como as interações e a influência de grupos moldam comportamentos, crenças e até a percepção da realidade. Conceitos como a inteligência coletiva, a sinergia e o pensamento de grupo demonstram que, em muitas situações, o resultado da colaboração é maior do que a soma das partes individuais. Um projeto ambicioso, por exemplo, raramente é realizado por uma única pessoa; ele exige a colaboração e o alinhamento de uma equipe.
* Sociologia e Movimentos Sociais: A história está repleta de exemplos de como sonhos compartilhados impulsionaram grandes mudanças sociais. Movimentos por direitos civis, avanços tecnológicos ou transformações políticas surgem de um desejo comum de um futuro diferente. Nesses casos, o "sonho" de um indivíduo ou de um pequeno grupo se propaga, inspira e mobiliza massas, tornando-se uma força imparável que altera a realidade.
* Economia e Inovação: No mundo dos negócios e da inovação, a colaboração é frequentemente o motor do sucesso. Startups, por exemplo, muitas vezes começam com a visão de um fundador, mas só se tornam realidade com a união de uma equipe que acredita e trabalha para aquele objetivo. O capital humano e a capacidade de trabalhar em conjunto são cruciais para transformar uma ideia em um produto ou serviço.
A Filosofia do Sonho Compartilhado
Diversos filósofos abordaram, de diferentes maneiras, a relação entre o indivíduo, o coletivo e a construção da realidade:
* Hegel e o Espírito Objetivo: Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a história é a manifestação do Espírito (ou Razão) que se desenvolve através da interação humana. O "sonho" ou a aspiração de uma época pode ser visto como uma faceta desse Espírito em busca de auto-realização. A concretização desses sonhos ocorre na medida em que eles são assimilados e trabalhados pela coletividade, manifestando-se nas instituições, leis e na cultura de uma sociedade.
* Marx e a Práxis Revolucionária: Karl Marx via a práxis, a união entre teoria e prática, como o caminho para a transformação social. Os ideais de uma sociedade mais justa (um "sonho") só se tornam realidade através da ação coletiva e organizada da classe trabalhadora. A conscientização compartilhada e a luta conjunta são essenciais para derrubar as estruturas opressoras e construir um novo mundo.
* Existencialismo e a Inter-subjetividade: Filósofos existencialistas como Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty, embora focados na liberdade e responsabilidade individual, também reconhecem a importância da inter-subjetividade. Nossa identidade e nossa realidade são construídas em relação com o outro. O "sonho" de ser algo ou de alcançar algo muitas vezes só ganha sentido e possibilidade de realização na interação e no reconhecimento pelos demais.
O Sonho na Mitologia
A mitologia em diversas culturas também oferece narrativas que ilustram o poder do sonho coletivo, embora de forma mais alegórica:
* Mitos de Criação: Muitos mitos de criação descrevem a formação do mundo a partir de um ato de vontade, de um pensamento primordial ou de um sonho de uma divindade ou de um grupo de divindades. Essa ideia, embora em um nível cosmológico, ressoa com a noção de que a intenção e o "sonho" (ainda que divino) precedem a manifestação da realidade.
* Histórias de Heróis e Fundadores: As epopeias e lendas frequentemente narram a jornada de heróis que, impulsionados por uma visão ou um "sonho" para seu povo, conseguem mobilizar e unir comunidades para superar desafios colossais. A fundação de cidades, a vitória em guerras ou a superação de grandes adversidades são frequentemente atribuídas à capacidade do líder de inspirar um sonho comum e à disposição do povo de segui-lo.
* Sonhos Proféticos e Coletivos: Em algumas tradições, sonhos não são apenas individuais, mas também podem ser visões coletivas ou profecias que se manifestam para um grupo, indicando um caminho ou um destino a ser alcançado por todos. A interpretação e a crença nesses sonhos coletivos podem influenciar profundamente as ações de uma comunidade e, consequentemente, moldar seu futuro.
Conclusão
A frase "O sonho que se sonha só é só um sonho só e o sonho que se sonha junto é a realidade" é um lembrete poderoso de que, embora as aspirações individuais sejam o ponto de partida, a concretização dos maiores sonhos frequentemente exige o engajamento, a colaboração e a crença de um coletivo. Seja na psicologia, na sociologia, na filosofia ou na mitologia, a ressonância dessa ideia nos mostra que a união de propósitos é uma força inigualável para transformar visões em realidade.

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