O Conceito do Grande Arquiteto do Universo (GADU)

 







O presente relatório tem como objetivo apresentar um estudo aprofundado sobre a Cosmologia no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) da Maçonaria. É crucial destacar, desde o princípio, que a Maçonaria, e em particular o REAA, não possui uma cosmologia no sentido científico ou dogmático de uma religião. Em vez disso, sua abordagem é filosófica e simbólica, focada em princípios que orientam a compreensão do maçom sobre seu lugar no universo e sua relação com o Grande Arquiteto do Universo (GADU).

​1. O Conceito do Grande Arquiteto do Universo (GADU)

​O pilar central da cosmologia maçônica no REAA é o Grande Arquiteto do Universo. É imperativo compreender que o GADU não se refere a uma divindade específica de qualquer religião. Trata-se de uma Força Criadora, um Princípio Criador universal, reconhecido como a inteligência suprema que concebeu e ordenou o cosmos. A Maçonaria não é uma religião; ela não impõe dogmas teológicos nem exige a adesão a uma fé particular. No entanto, ela exige a crença em um Ser Superior, sendo o GADU a representação simbólica dessa crença.

​Universalismo: A concepção do GADU é projetada para ser universalista, permitindo que maçons de diversas crenças religiosas (cristãos, judeus, muçulmanos, deístas, etc.) se unam em um terreno comum de respeito mútuo. A Convenção de Lausanne de 1875 foi um marco significativo, ao formalizar que o GADU não deveria ser equiparado ao "Deus" de uma religião específica, reforçando a natureza ecumênica da Maçonaria.

​Princípio de Ordem e Criação: O GADU simboliza a ordem e a inteligência que permeiam o universo. A existência de um cosmos organizado, com suas leis e regularidades, aponta para um Princípio que o concebeu, o construiu e o mantém em funcionamento.

​2. O Universo como Templo Simbólico

​Para o maçom no REAA, o próprio Templo Maçônico é uma representação simbólica do universo, um microcosmo do macrocosmo. Diversos elementos do templo reforçam essa conexão cosmológica:

​As Colunas B e J: Simbolizam Força e Estabilidade, ecoando as colunas do Templo de Salomão, um arquétipo do Templo Universal.

​O Pavimento Mosaico: Representa a dualidade e a diversidade do mundo, com seus contrastes (luz e sombra, bem e mal, ordem e caos) coexistindo em uma harmonia fundamental. Simboliza a complexidade do universo e a necessidade de equilíbrio entre polaridades.

​A Abóbada Celeste: O teto da loja frequentemente retrata a abóbada celeste, adornada com estrelas, o Sol e a Lua, reforçando a ideia de que a Loja é um espaço sagrado que reflete a imensidão do universo.

​As Joias Fixas (Pedra Bruta, Pedra Cúbica e Prancha de Desenho): Essas joias são essenciais para a compreensão do processo de aperfeiçoamento individual e cósmico. A Pedra Bruta representa o iniciado em seu estado natural, imperfeito. A Pedra Cúbica simboliza o maçom que, através do trabalho e da disciplina, lapidou suas imperfeições. A Prancha de Desenho é onde o Grande Arquiteto traça os planos do universo, e onde o maçom, por analogia, deve traçar os planos para sua própria "construção" moral e espiritual.

​3. A Busca pela Verdade e o Aperfeiçoamento Individual

​A cosmologia do REAA transcende a mera descrição do universo, impulsionando o maçom a uma busca contínua pela Verdade e pelo aperfeiçoamento pessoal.

​Caminho Iniciático: A Maçonaria é uma Ordem iniciática, e os 33 graus do REAA simbolizam uma jornada de conhecimento progressivo. Cada grau oferece ensinamentos e símbolos que aprofundam a compreensão do maçom sobre si mesmo, a humanidade e o cosmos.

​Auto-construção: O maçom é visto como um "pedreiro" que trabalha incessantemente na construção de seu próprio "Templo interior". Esse processo envolve a lapidação de defeitos, a aquisição de virtudes e a busca incessante por sabedoria e luz.

​Harmonia e Ordem: Ao observar a ordem intrínseca e a harmonia do cosmos, o maçom é incentivado a emular essa mesma ordem e harmonia em sua própria vida e, por extensão, na sociedade. Os princípios de Sabedoria, Força e Beleza são os pilares que guiam essa busca: a Sabedoria para planejar, a Força para executar e a Beleza como o resultado da perfeição alcançada.

​4. Ética e Moralidade Universal

​A compreensão da ordem cósmica no REAA culmina em uma moralidade universal, fundamentada em valores como liberdade, igualdade, fraternidade e tolerância. A doutrina maçônica incentiva:

​A prática da equidade e da justiça em todas as esferas da vida.

​O combate a preconceitos e a promoção da solidariedade entre os seres humanos.

​A prática da caridade e do auxílio aos necessitados.

​A busca da paz e da harmonia em todas as comunidades e entre as nações.

​Em suma, a cosmologia do Rito Escocês Antigo e Aceito não é uma teoria científica ou um dogma religioso sobre o universo. É, antes, um arcabouço filosófico-simbólico que inspira o maçom a reconhecer a ordem e a inteligência do cosmos através do conceito do Grande Arquiteto do Universo. Essa compreensão serve de base para uma jornada de aperfeiçoamento moral e espiritual contínuo, visando a construção de um indivíduo mais virtuoso e, consequentemente, de uma sociedade mais justa, fraterna e harmoniosa.

​Bibliografia

​A literatura maçônica é vasta e abrange diversas perspectivas sobre os símbolos e rituais do REAA. As obras a seguir são fundamentais para a compreensão da cosmologia maçônica:

​ALBUQUERQUE, Francisco de. O Livro dos Graus Simbólicos. Madras Editora, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Aborda os símbolos dos primeiros graus e sua relação com a visão maçônica do universo e do ser humano).

​ASLAN, Nicola. Dicionário de Símbolos Maçônicos. Editora Aurora, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Um recurso essencial para a interpretação dos símbolos maçônicos, incluindo aqueles com conotações cosmológicas).

​BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica ou a Arte Real Revisitada. Pensamento, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Considerado um clássico, explora profundamente a simbologia maçônica e suas raízes esotéricas e filosóficas).

​HUTIN, Serge. A Maçonaria. Zahar Editores, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Oferece uma visão geral da Maçonaria, incluindo seus princípios filosóficos e sua relação com a espiritualidade e a concepção do universo).

​MACKEY, Albert G. Enciclopédia da Maçonaria. Editora Pensamento, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Uma obra de referência abrangente que detalha termos, símbolos e conceitos maçônicos, fornecendo insights sobre a cosmologia implícita).

​RAGON, Jean-Marie. Ortodoxia Maçônica. Madras Editora, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Apresenta uma visão sobre a "ortodoxia" e os princípios fundamentais da Maçonaria, tocando em sua concepção do divino e do universo).

​WAITE, Arthur Edward. O Livro da Maçonaria. Madras Editora, [Ano de publicação varia, diversas edições]. (Explora a história, rituais e simbolismo da Maçonaria, com seções dedicadas à sua filosofia e visão de mundo).

​É importante notar que muitas dessas obras são reeditadas e publicadas por diferentes editoras ao longo do tempo. Recomenda-se buscar as edições mais recentes ou aquelas que se encontrem disponíveis em bibliotecas especializadas em maçonaria ou filosofia.

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