A teoria da energia orgônica de Wilhelm Reich é um conceito complexo e controverso que ele desenvolveu ao longo de sua carreira, representando uma tentativa de integrar biologia, psicologia e física. Em essência, Reich postulou a existência de uma energia cósmica fundamental, onipresente e carregada de vida, que ele denominou orgone.
Os principais aspectos da teoria da energia orgônica podem ser detalhados da seguinte forma:
1. A Descoberta e as Primeiras Observações:
* Bioeletricidade e Excitação Sexual: Reich iniciou suas investigações na década de 1920, estudando a bioeletricidade associada à excitação sexual. Ele observou que a excitação levava a um aumento da carga elétrica na superfície da pele, enquanto a ansiedade e o desprazer resultavam em uma diminuição.
* Bioenergia e o Orgônio: Reich passou a acreditar que essa bioeletricidade era uma manifestação de uma energia biológica mais fundamental, que ele inicialmente chamou de "energia sexual" e, posteriormente, "orgônio". Ele postulou que essa energia não era meramente elétrica, mas possuía propriedades únicas.
* Observações Microscópicas: Reich realizou experimentos microscópicos com preparações orgânicas em decomposição e observou o surgimento de vesículas pulsantes que ele chamou de "bions". Ele interpretou esses bions como formas de transição entre a matéria não viva e a viva, carregadas de orgônio.
2. As Propriedades da Energia Orgônica:
Reich atribuiu diversas propriedades fundamentais à energia orgônica:
* Onipresença: O orgônio estaria presente em toda a natureza: na atmosfera, na água, nos organismos vivos e até mesmo no vácuo do espaço.
* Ausência de entropia: Ao contrário da energia eletromagnética, Reich acreditava que o orgônio não obedecia à segunda lei da termodinâmica, sendo capaz de se concentrar e aumentar sua organização.
* Massa zero e penetrabilidade: O orgônio não teria massa inercial e seria capaz de penetrar na matéria, embora em diferentes graus.
* Atração mútua: Partículas de orgônio se atrairiam umas às outras, formando fluxos e concentrações.
* Pulsação e movimento: O orgônio exibiria um movimento ondulatório e pulsátil, essencial para os processos vitais.
* Cor azulada: Reich afirmava que o orgônio poderia ser visualizado em certas condições como uma névoa ou brilho azulado.
* Influência atmosférica: A concentração e o fluxo de orgônio na atmosfera seriam influenciados por fatores climáticos e cósmicos.
* Relação com a vida e a sexualidade: O orgônio seria a base biofísica da vida e da energia sexual, sendo fundamental para as funções orgânicas e a saúde.
3. O Orgônio na Biologia e na Saúde:
* Energia Vital: Reich via o orgônio como a força vital que anima os organismos vivos, responsável pelo metabolismo, crescimento e reprodução.
* Saúde e Doença: Um fluxo livre e equilibrado de orgônio no corpo seria essencial para a saúde. Bloqueios ou estagnações desse fluxo, causados pela repressão emocional e pela "couraça muscular", levariam a doenças físicas e mentais, incluindo o câncer.
* A "Couraça Muscular": Reich desenvolveu o conceito de "couraça muscular" como tensões crônicas nos músculos do corpo, resultantes da repressão de emoções e impulsos, especialmente os sexuais. Essa couraça bloquearia o fluxo livre de orgônio, prejudicando a saúde.
* Vegetoterapia Caracteroanalítica: Reich desenvolveu uma forma de psicoterapia corporal, a vegetoterapia caracteroanalítica, que visava dissolver essa couraça muscular e liberar o fluxo de orgônio através de manipulações corporais e da expressão emocional.
4. O Orgônio na Atmosfera e a Engenharia do Clima:
* Energia Atmosférica: Reich acreditava que o orgônio também estava presente na atmosfera, influenciando os fenômenos climáticos. Ele postulou a existência de uma "energia orgônica atmosférica" (ORANUR) que poderia se tornar patológica em certas condições.
* Cloudbuster: Reich desenvolveu um dispositivo chamado "cloudbuster" (destruidor de nuvens), composto por tubos ocos de metal conectados à água. Ele afirmava que o cloudbuster podia influenciar a concentração de orgônio na atmosfera, sendo capaz de dissipar nuvens e induzir chuva.
* Spacegun: Posteriormente, Reich desenvolveu a "spacegun", um dispositivo que ele acreditava poder combater a "energia orgônica mortal" (DOR), uma forma patológica de orgônio que ele associava à poluição atmosférica e a fenômenos climáticos destrutivos.
5. Recepção e Controvérsia:
A teoria da energia orgônica de Reich foi e continua sendo altamente controversa e amplamente rejeitada pela comunidade científica convencional. As principais críticas incluem:
* Falta de evidências empíricas: As alegações de Reich sobre a existência e as propriedades do orgônio nunca foram comprovadas por experimentos científicos controlados e replicáveis.
* Mecanismos não especificados: Reich não forneceu mecanismos claros e testáveis para explicar como o orgônio interage com a matéria ou como seus dispositivos funcionariam.
* Violação de princípios científicos: A ideia de uma energia sem entropia e com propriedades incomuns desafia princípios fundamentais da física.
* Conflitos com a ciência estabelecida: A teoria do orgônio não se encaixa no arcabouço conceitual da biologia, da física ou da medicina modernas.
* Alegações pseudocientíficas: As afirmações de Reich sobre a cura do câncer e a manipulação do clima com seus dispositivos são consideradas pseudocientíficas e perigosas.
Apesar da rejeição científica, a teoria da energia orgônica influenciou alguns círculos da contracultura e da terapia alternativa. No entanto, é fundamental ressaltar que não há evidências científicas válidas que sustentem a existência da energia orgônica ou a eficácia dos dispositivos de Reich.
Em resumo, a teoria da energia orgônica de Wilhelm Reich é uma tentativa abrangente de explicar os fenômenos da vida, da saúde e até mesmo do clima através da postulação de uma energia cósmica fundamental com propriedades únicas. Embora tenha gerado interesse e debate, a teoria carece de fundamentação científica e é ampl
amente considerada pseudociência.

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