Olá! Sim, essa é uma das características marcantes das diversas escolas do gnosticismo antigo. Eles propunham uma visão da humanidade dividida em categorias ontológicas distintas, com diferentes graus de conexão com o divino e diferentes destinos espirituais. Essa classificação tripartite é uma simplificação, pois algumas correntes gnósticas apresentavam sistemas mais complexos, mas a ideia central era essa:
* Hílicos (ou materiais): Eram considerados aqueles seres humanos completamente dominados pela matéria, sem nenhuma centelha divina desperta em si. Para os gnósticos, a matéria era vista como intrinsecamente má ou, no mínimo, como uma prisão para o espírito. Assim, os hílicos estariam destinados a perecer com o mundo material, sem possibilidade de salvação ou ascensão espiritual.
* Psíquicos (ou anímicos): Estes seriam intermediários, influenciados pela alma (psyché) e capazes de alguma compreensão espiritual, mas ainda presos em grande parte ao mundo das emoções e da psique terrena. Eles poderiam alcançar algum tipo de salvação, mas de nível inferior ao dos pneumáticos. Algumas correntes gnósticas associavam os cristãos ortodoxos a essa categoria, por possuírem fé, mas não o conhecimento (gnose) superior.
* Pneumáticos (ou espirituais): Eram considerados aqueles que possuíam a "faísca divina" (pneuma) plenamente desperta. Através do conhecimento (gnose), eles seriam capazes de reconhecer sua verdadeira origem no mundo espiritual superior e ascender a ele, libertando-se das ilusões do mundo material. Os próprios gnósticos se viam como pertencentes a essa categoria.
Essa visão da diferente origem e natureza dos seres humanos era fundamental para a soteriologia gnóstica, ou seja, sua doutrina da salvação. A salvação não seria universal, mas reservada àqueles que possuíssem a natureza espiritual adequada e alcançassem o conhecimento libertador.

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