AS EXPERIÊNCIAS GENÉTICAS DO CIENTISTA ILYA IVANOV (HÍBRIDOS DE HUMANOS E MACACOS)
Propaganda a favor da
eugenia (EUA).
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Publicação norte-americana sobre a “Ciência da Eugenia |
Criar
raças híbridas de animais era algo a que o biólogo russo Ilia
Ivanov já estava habituado. Uma criatura com as características da
zebra e do burro, e outra que juntava a vaca ao bisonte, era este o
seu currículo em inícios do século XX. Para ser ainda mais audaz,
quis misturar o ser humano com o seu parente mais próximo – o
chimpanzé.
Quando,
em 1924, a revolução bolchevique comemorava o seu décimo
aniversário, o investigador propôs aos líderes da União Soviética
passar da teoria à prática. Bastava uma considerável soma de
dinheiro, um punhado de primatas e algumas mulheres férteis para que
as experiências começassem. Apesar de a maior parte dos cientistas
russos reprovarem as suas intenções, Ivanov recebeu o financiamento
para desenvolver as suas tenebrosas ideias.
Em
1926, os planos do “Frankenstein Vermelho” (o novo epíteto de
Ivanov) deixaram de ser segredo, com a imprensa ocidental a
interrogar-se, numa mescla de espanto e choque, sobre o que estariam
os soviéticos a tramar.
Trabalhou
como pesquisador na Reserva Natural de Askania Nova, e também para
o Instituto Estadual
de Experimentos Veterinários (1917-1921, 1924-1930), Estação
Central de Experimentos e Pesquisa da Reprodução de Animais
Domésticos(1921-1924) e para o Instituto
deZootecnia de Moscou(1928-1930).
Na
virada do século,
Ilya Ivanov aperfeiçoou a inseminação
artificial e
seu uso na reprodução de cavalos.
Ele provou que essa técnica permitiria ao garanhão fertilizar mais
de 500 éguas (ao
invés de 20-30 através da fertilização natural). Os resultados
foram um sucesso e a estação de Ivanov passou a ser freqüentada
por criadores de cavalos de todo do mundo.
Ilya
Ivanov também foi o pioneiro na prática de usar a inseminação
artificial para a obtenção de vários híbridos
interespecíficos.
O
mais controverso dos estudos de
Ivanov era a sua tentativa de criar um homem-macaco. Em 1910 ele
apresentou ao Congresso Mundial deZoólogos,
em Graz, a
possibilidade da obtenção de tal híbrido através
da inseminação
artificial.
Em
1924, enquanto trabalhava no Instituto
Pasteur em Paris,
Ivanov obteve a autorização dos diretores para
utilização da estação de primatasem
Kindia, Guiné
Francesa,
para tais experiências.
Ivanov tentou ganhar apoio do governo soviético para
seu projeto,
enviou cartas ao Ministro
da Educação e
da Ciência,
Anatoliy Vasilievich Lunacharsky, e a outros funcionários.
A proposta finalmente despertou o interesse de Nikolai Petrovich
Gorbunov, chefe do Departamento de Instituições Científicas. Em
setembro de 1925, Gorbunov cedeu US$10000 à Academia deCiências para
as experiências de hibridação de
Ivanov na África.
Em
março de 1926 Ivanov chegou a Kindia, onde permaneceu apenas
um mês sem
obter sucesso em suas pesquisas.
Ele retornou à França onde
conseguiu, através de correspondências com
o governador da colônia francesa
de Guiné, a autorização para realizar suas experiências
nos jardins
botânicos de Conacri.
Ivanov
chegou a Conacri em novembro de 1926, acompanhado de seu filho,
também chamado IIya, que o ajudaria em suas experiências. Ivanov
supervisionou a captura de chimpanzés adultos
no interior da colônia, e foram levados à Conacri e mantidos nas
jaulas do jardim
botânico.
Em 28 de fevereiro de 1927, Ivanov inseminou artificialmente
duas fêmeas de
chimpanzés com sêmenhumano.
Em 25 de junho inseminou uma terceira chimpanzé. Ivanov deixou a
África em julho com 13 chimpanzés, incluindo as três usadas em
suas experiências. Antes de retornar à França ele já sabia que a
inseminação em duas chimpanzés tinha falhado. A terceira morreu na
França, e também não estava prenhe. Os outros chimpanzés foram
levados a uma estação de primatas em Sukhumi.
Ivanov
planejou realizar a inseminação em humanos com sêmen de chimpanzés
na Guiné, mas o governo da francês se
opôs a tal proposta e não há evidencias de que tais experiências
foram realizadas.
Ivanov
retornou à União
Soviética em
1927, disposto a realizar suas experiências de hibridação em
Sukhumi, usando sêmen de chimpanzés em humanos.
Por fim, em 1929,
Para
o investigador russo, gerar um bebé meio humano, meio macaco, seria
a prova irrefutável de que Charles Darwin tinha razão quando
defendeu que o ser humano descende de primatas. Na mente dos
bolcheviques, seria um golpe certeiro na religião, ridicularizando o
mito de que a humanidade era fruto de divindades.
Ao
mesmo tempo, a investigação integrava-se num vasto plano que visava
mudar a sociedade, em direcção à utopia socialista. Para os
intelectuais bolcheviques, só a ciência seria capaz de transformar
radicalmente as pessoas. Desenvolvendo técnicas como a inseminação
artificial, acreditavam ser possível escolher certas
características, eliminando outras como a competitividade, a
ganância e o desejo de propriedade. Numa época de efervescência
revolucionária, nada tinha limites.
Ivanov
viajou até à Guiné, em África, onde desenvolveu vários testes em
chimpanzés. Apesar de ter inseminado sémen humano em chimpanzés
fêmeas, a tentativa redundou num fracasso, pois nenhum dos primatas
conseguiu fecundar.
Frustrado,
o “Frankenstein Vermelho” voltou à pátria russa disposto a
recorrer ao igualmente bizarro plano B: usar os espermatozóides de
chimpanzés em fêmeas humanas. Cinco mulheres ofereceram-se a Ivanov
como cobaias, mas eis que tudo voltou à estaca zero quando o único
chimpanzé fértil que Ivanov tinha morreu subitamente.
Quem
não perdoou o fracasso foi Estaline. O cientista tornou-se numa das
vítimas das famosas purgas do líder soviético, acabando por morrer
exilado num dos cantos remotos da URSS, em 1932.
Em
2005 foram encontrados em Sukhumi, Geórgia,
os laboratórios secretos e ossos de
chimpanzés enquanto trabalhadores construíam um parque para
crianças.[1]
· Kirill
Rossiianov, Beyond
Species: Il’ya Ivanov and His Experiments on Cross-Breeding Humans
with Anthropoid Apes,
Science in Context, 2002, p. 277-316 (em inglês)
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