AS EXPERIÊNCIAS GENÉTICAS DO CIENTISTA ILYA IVANOV (HÍBRIDOS DE HUMANOS E MACACOS)



Esta selecção reprodutiva, aplicada para preservar certos grupos humanos, ou algumas das suas características, ficou conhecida como “eugenia” (do greco “eugénés”, que significa “bem nascido”), com a sua prática a ser defendida em finais do século XIX pelo antropólogo britânico Francis Galton. Todavia, esta ideia jamais foi aplicada, a nível legislativo, em terras de Sua Majestade. 
Propaganda a favor da eugenia (EUA).

Publicação norte-americana sobre a “Ciência da Eugenia




Criar raças híbridas de animais era algo a que o biólogo russo Ilia Ivanov já estava habituado. Uma criatura com as características da zebra e do burro, e outra que juntava a vaca ao bisonte, era este o seu currículo em inícios do século XX. Para ser ainda mais audaz, quis misturar o ser humano com o seu parente mais próximo – o chimpanzé.

Quando, em 1924, a revolução bolchevique comemorava o seu décimo aniversário, o investigador propôs aos líderes da União Soviética passar da teoria à prática. Bastava uma considerável soma de dinheiro, um punhado de primatas e algumas mulheres férteis para que as experiências começassem. Apesar de a maior parte dos cientistas russos reprovarem as suas intenções, Ivanov recebeu o financiamento para desenvolver as suas tenebrosas ideias.
Em 1926, os planos do “Frankenstein Vermelho” (o novo epíteto de Ivanov) deixaram de ser segredo, com a imprensa ocidental a interrogar-se, numa mescla de espanto e choque, sobre o que estariam os soviéticos a tramar.


Trabalhou como pesquisador na Reserva Natural de Askania Nova, e também para o Instituto Estadual de Experimentos Veterinários (1917-1921, 1924-1930), Estação Central de Experimentos e Pesquisa da Reprodução de Animais Domésticos(1921-1924) e para o Instituto deZootecnia de Moscou(1928-1930).
Na virada do século, Ilya Ivanov aperfeiçoou a inseminação artificial e seu uso na reprodução de cavalos. Ele provou que essa técnica permitiria ao garanhão fertilizar mais de 500 éguas (ao invés de 20-30 através da fertilização natural). Os resultados foram um sucesso e a estação de Ivanov passou a ser freqüentada por criadores de cavalos de todo do mundo.
Ilya Ivanov também foi o pioneiro na prática de usar a inseminação artificial para a obtenção de vários híbridos interespecíficos.



O mais controverso dos estudos de Ivanov era a sua tentativa de criar um homem-macaco. Em 1910 ele apresentou ao Congresso Mundial deZoólogos, em Graz, a possibilidade da obtenção de tal híbrido através da inseminação artificial.

Em 1924, enquanto trabalhava no Instituto Pasteur em Paris, Ivanov obteve a autorização dos diretores para utilização da estação de primatasem Kindia, Guiné Francesa, para tais experiências. Ivanov tentou ganhar apoio do governo soviético para seu projeto, enviou cartas ao Ministro da Educação e da Ciência, Anatoliy Vasilievich Lunacharsky, e a outros funcionários. A proposta finalmente despertou o interesse de Nikolai Petrovich Gorbunov, chefe do Departamento de Instituições Científicas. Em setembro de 1925, Gorbunov cedeu US$10000 à Academia deCiências para as experiências de hibridação de Ivanov na África.

Em março de 1926 Ivanov chegou a Kindia, onde permaneceu apenas um mês sem obter sucesso em suas pesquisas. Ele retornou à França onde conseguiu, através de correspondências com o governador da colônia francesa de Guiné, a autorização para realizar suas experiências nos jardins botânicos de Conacri.
Ivanov chegou a Conacri em novembro de 1926, acompanhado de seu filho, também chamado IIya, que o ajudaria em suas experiências. Ivanov supervisionou a captura de chimpanzés adultos no interior da colônia, e foram levados à Conacri e mantidos nas jaulas do jardim botânico. Em 28 de fevereiro de 1927, Ivanov inseminou artificialmente duas fêmeas de chimpanzés com sêmenhumano. Em 25 de junho inseminou uma terceira chimpanzé. Ivanov deixou a África em julho com 13 chimpanzés, incluindo as três usadas em suas experiências. Antes de retornar à França ele já sabia que a inseminação em duas chimpanzés tinha falhado. A terceira morreu na França, e também não estava prenhe. Os outros chimpanzés foram levados a uma estação de primatas em Sukhumi.

Ivanov planejou realizar a inseminação em humanos com sêmen de chimpanzés na Guiné, mas o governo da francês se opôs a tal proposta e não há evidencias de que tais experiências foram realizadas.
Ivanov retornou à União Soviética em 1927, disposto a realizar suas experiências de hibridação em Sukhumi, usando sêmen de chimpanzés em humanos. Por fim, em 1929,

Para o investigador russo, gerar um bebé meio humano, meio macaco, seria a prova irrefutável de que Charles Darwin tinha razão quando defendeu que o ser humano descende de primatas. Na mente dos bolcheviques, seria um golpe certeiro na religião, ridicularizando o mito de que a humanidade era fruto de divindades.
Ao mesmo tempo, a investigação integrava-se num vasto plano que visava mudar a sociedade, em direcção à utopia socialista. Para os intelectuais bolcheviques, só a ciência seria capaz de transformar radicalmente as pessoas. Desenvolvendo técnicas como a inseminação artificial, acreditavam ser possível escolher certas características, eliminando outras como a competitividade, a ganância e o desejo de propriedade. Numa época de efervescência revolucionária, nada tinha limites.

Ivanov viajou até à Guiné, em África, onde desenvolveu vários testes em chimpanzés. Apesar de ter inseminado sémen humano em chimpanzés fêmeas, a tentativa redundou num fracasso, pois nenhum dos primatas conseguiu fecundar.

Frustrado, o “Frankenstein Vermelho” voltou à pátria russa disposto a recorrer ao igualmente bizarro plano B: usar os espermatozóides de chimpanzés em fêmeas humanas. Cinco mulheres ofereceram-se a Ivanov como cobaias, mas eis que tudo voltou à estaca zero quando o único chimpanzé fértil que Ivanov tinha morreu subitamente.
Quem não perdoou o fracasso foi Estaline. O cientista tornou-se numa das vítimas das famosas purgas do líder soviético, acabando por morrer exilado num dos cantos remotos da URSS, em 1932.


Em 2005 foram encontrados em Sukhumi, Geórgia, os laboratórios secretos e ossos de chimpanzés enquanto trabalhadores construíam um parque para crianças.[1]





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