A Verdadeira Maçonaria
Existem três tipos de rebeldes no mundo o rebelde a natureza, o rebelde a ciência e o rebelde a verdade, eles eram figurados no inferno dos antigos pelas três cabeças de Cérbero. Eles são figurados na Bíblia por Coié, Dathan e Abiron. Na lenda maçonica, eles são designados por nomes que variam segundo as ritos. O primeiro que se chama ordinariamente Abiran ou assassino de Hiran, fere o grão-mestre com a régua. É a história do justo que se mata, em nome da lei, pelas paixões humanas. O Segundo, chamado Mephiboseth, do nome de um pretendente ridículo e enfermo à realeza de Davi, fere Hiram com a alavanca ou a esquadria.
É assim que a alavanca popular ou a esquadria de uma louca igualdade toma-se o instrumento da tirania entre as mãos da multidão e atenta, mais infelizmente ainda do que a régua, à realeza da sabedoria e da virtude. O terceiro enfim acaba com Hiram com a machadinha, Como fazem os instintos brutais quando querem fazer a ordem em nome da violência e do medo, abafando a inteligência. O ramo de acácia sobre o túmulo de Hiram é como a cruz sobre nossos altares. É o sinal da ciência que subleve à ciência; é o raio verde que anuncia uma outra primavera. Quando os homens perturbam assim a ordem da natureza, a Providência intervém para restabelecê-la, como Salomão para vingar a morte de Hiram. Aquele que assassinou com a régua, morre pelo punhal. Aquele que feriu com a alavanca ou a esquadria morrerá sob o machado da lei. É a sentença eterna dos regicidas. Aquele que triunfou pela machadinha, cairá vítima da força de que abusou e será estrangulado pelo leão. O assassino pela régua é denunciado pela lâmpada mesma que o esclarece e pela fonte onde bebe , isto é, a ele será aplicada a pena de talião. O assassino pela alavanca será surpreendido quando sua vigilância for deficiente como um cão adormecido e será entregue por seus cúmplices; porque a anarquia é a mãe da traição. O leão que devora o assassino pela machadinha, é uma das formas da esfinge de Édipo. E aquele que vencer o leão merecerá suceder a Hiram na sua dignidade. ' O cadáver putrefatu de Hiram mostra que as formas mudam, mas que o espírito fica. A fonte de água que corre perto do primeiro fascínio lembra dilúvio que puniu os crimes contra a natureza. O espinheiro ardente e o arco-íris que fazem descobrir o Segundo assassino representando a luz e a vida, denunciando os atentados contra o pensamento.
Enfim o leão vencido representa o triunfo do espírito sobre a matéria e a submissão definitiva da força à inteligência. Desde o começo do trabalho do espírito para edificar o templo da unidade, Hiram foi morto muitas vezes e ressuscita sempre. É Adonis morto pelo javali; é Osíris assassinado por Tífon. É Pitágoras proscrito, é Orfeu despedaçado pelas bacantes, é Moisés abandonado nas cavernas do Monte Neba, é Jesus morto por Caifás, Judas e Pilatos. Os verdadeiros maçõns são pois os que persistem em querer construir. o templo, segundo o plano de Hiran. Tal é a grande e principal lenda da maçonaria; as outras são menos belas e menos profundas luas não pensamos dever divulgar os mistérios, e se bem que não tenhamos recebido a iniciação senão de Deus e de nossos trabalhos, consideramos o segredo da alta maçonaria como o nosso. Chegado por nossos esforços a um gráu científico que nos impõe silêncio, não nos julgamos melhor empenhados por nossas convicções do que por um juramento. A ciência é uma nobreza que obriga a não desmerecemos a coroa principesca dos rosa-cruzes. . Os ritos da maçonaria são destinados a transmitir a lembrança das lendas da iniciação e a conservá-la entre nossos irmãos. Permita-nos- talvez como, se a maçonaria é tão sublime e tão santa, pôde ela ser proscrita e tantas vezes condenada pela igreja. Já respondemos a esta questão, falando das cisões e das profanações da maçonaria. A maçonaria é a gnose e os falsos gnósticos fizeram condenar os verdadeiros. O que os obriga a esconder-se, não é o temor da luz, a luz é o que eles querem o que eles procuram, o que eles adoram. Mas eles temem os profanadores, isto é, os falsos intérpretes, os caluniadores, os céticos de sorriso estúpido, os inimigos de toda crença e de toda moralidade. Em nosso tempo aliás um grande numero de homens que se julgam francos-maçons, ignoram o sentido que seus ritos e perderam a chave de seus mistérios.
Eles não compreendem mesmo mais seus quadros simbólicos, e não entendem mais nada dos sinais hieróglifos com que são pintados os tapetes de suas lojas. Estes quadros e estes sinais são páginas do livro da ciência absoluta e universal. Podem ser lidas com o auxílio das chaves cabalísticas e não têm nada de oculto para o iniciado que possui as clavículas de Salomão.
O templo é a realização e a figura do reino hierárquico da verdade e da razão sobre a terra. Hiram é o homem que chegou ao domínio pela ciência e pela sabedoria. Ele governa pela justiça e pela ordem, dando a cada um segundo suas obras.
Cada grau da ordem possui uma palavra que lhe exprime a inteligência. Não há senão uma palavra para Hiram, mas esta palavra pronuncia-se de três maneiras diferentes. De um modo para os aprendizes, e pronunciada por eles significa natureza e explica-se pelo trabalho. De outro modo pelos companheiros e entre eles significa pensamento explicando-se pelo estudo. De outro modo para os mestres e em sua boca significa verdade, palavra que se explica pela sabedoria. Esta palavra é a de que servem para designar Deus, cujo verdadeiro nome é indizível e incomunicável. Assim há três graus na hierarquia como há três portas no templo. Há três raios na luz. Há três forças na natureza. Estas forças são figuradas pela régua que une, a alavanca que levanta e a machadinha que firma. A rebelião dos instintos brutais, contra a aristocracia hierática da sabedoria, arma-se sucessivamente destas três forças que ela desvia da harmonia.
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