BISPO MANDOU DESTRUIR A BIBLIOTECA DOS INCAS
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Muitas pessoas estranharam que se pudesse ter conservado um crônica completa dos reis do Peru por espaço de tão largo período, e por isso colocaram em duvida a exatidão d’estas datas. No entretanto é fato hoje verificado que os quíchuas, nome de nação sobre que reinavam os incas, podiam formar e efetivamente formaram verdadeiros livros, por um método de escrita chamado “Quipo” e inventado pelos Tahuantinuyanos, o qual consistia na combinação de fios de diversas cores, com os quais perpetuavam o pensamento. O fanatismo maometano destruiu a biblioteca de Alexandria. O fanatismo cristão veio também destruir a biblioteca dos Yncas- Aqui vai o texto notável documento que prova esse fato. Descoberto ano passado em Lima, e citado pelo Dr. J.F. Nodal em sua gramática da língua quíchua, Cuzco 1872, pg .95. “ E por quanto entre os índios, que ignoraram as nossas letras, os livros sejam substituídos por sinais a que os mesmos denominam QUIPOS , dos quais ressaltam os monumentos da superstição antiga, nos em que esta conservada a memória de seus ritos e cerimônias e leis. POR ISSO OS BISPOS DEVEM CUIDAR DE QUE TODOS ESSES INSTRUMENTOS PERNICIOSOS SEJAM EXTERMINADOS. E assim apagou-se para sempre uma das mais curiosas paginas da humanidade.
O SÂNSCRITO É A LÍNGUA MAIS ANTIGA DO BRASIL?
ANTIGOS CRUZAMENTOS
Tudo nos induz a crer que, ao tempo do descobrimento, havia aqui na América duas raças, uma –que é tronco – vermelha, cuja existência remonta como disse, a muitos mil anos; outra cruzada com raças brancas.
Um dos cruzamentos com o tronco branco deixou em si documento mais autêntico do que se assenta a história, e esse documento são milhares de raízes sânscritas que se encontram no Quíchua, segundo a comparação feita pelo Sr. Fidel Lopez, de Buenos Aires, em sua recente obra- RAÇAS ARIANAS NO PERU; idênticos vestígios se encontram em outras línguas, como o demonstra o Padre Brasseur de Bourbong em sua Gramática da Língua Quiché e seus dialetos.
“Lyell’s Prino. Of Geologi t.II PAG 479 Londres 1872” porem o estabelecimento da humanidade na America, apesar de ser um fato comparativamente recente, pode remontar até o período paleolítico da Europa Oriental
LINGUAS ARIANAS DA AMERICA mais de 10.000 a.c
Parece hoje fora de dúvida que o sânscrito forneceu cerca de duas mil raízes ao quíchua.
Relações entre as línguas americanas e esta grande língua asiática, de onde se originaram as sete línguas atuais da Europa, haviam pressentido de muitas. Os estudos sérios de biologia comparada datam da publicação da gramática de Bop.
Auxiliado pelo General Urquiza, que coligiu documentos quíchuas, a peso de ouro, o Sr. Fidel Lopez começou seus estudos comparativos entre a língua dos incas e a em que estão escritos os Vedas, talvez o mais antigo monumento da sabedoria humana. Auxiliado depois por um egiptólogo, que propositalmente foi a Buenos Aires e publicou em francês a sua obra: Raças Arianas do Peru, em que apresenta centenas de raízes quíchuas idênticas a raízes sânscritas. O doutor em leis José Fernandez Nodal , publicava em Cuzco (1872) Os Elementos de gramática quíchua ou idioma de los Yncas, um volume com 444 paginas, facilitando assim a comparação dessa curiosa língua americana com o sânscrito, depois de ter lido os trabalhos de Srs Fidel Lopez, Brasseur de Bourbourg e Nodal, convenci-me de que as línguas de que tratam sofreram profundas modificações em seus vocabulários por vocábulos sânscritos. Uma raça ariana, portanto esteve largamente em cruzamento com os índios americanos e os incas e seus progenitores eram filhos dos plateaux ou araxás da Ásia Central. Ignoro se existe no Brasil alguma língua que com justa razão com tendo afinidade com o sânscrito; se há o guaicuru deve ser uma delas.
AS TRIBOS INDO-ARIANAS NAS AMÉRICAS
A insondável floresta Amazônica, situada ao norte do território brasileiro, e também conhecida como "O Inferno Verde", onde em alguns pontos nem mesmo os índios se atrevem a ir e a luz do Sol não consegue sequer atingir o solo quase sempre hostil. E onde certamente se escondem alguns dos maiores mistérios de toda a Terra! Ainda inexplorada e virgem, conservando-se intacta desde as remotíssimas eras pré-históricas.
Os incas também explicavam as origens do mundo e do homem através de lendas. Para aquele povo, o Criador (também conhecido como Pachayachachi, “professor do mundo”, ou Tesci-viracocha”, Deus Incompreensível”) Os incas acreditavam que o criador tinha dois filhos: Yamayama Viracocha e Topaco Viracocha. Ele teria ordenado que o primogênito, Yamayama atravessasse montanhas e florestas e percorresse o planeta, nomeando arvores e frutos e ensinando as pessoas a transformarem esses elementos em poções medicinais. Ao outro filho, Topaco, coube a tarefa de nomear rios e instruir a natureza. Após cumprirem as atribuições que lhes competiam, os filhos de Viracocha puderam ascender aos céus. Qualquer semelhança desta lenda com a mitologia Suméria e a história de Enki e Enlil não é mera coincidência. Os incas também mencionam um dilúvio universal, elemento que aparece de forma decorrente em documentos religiosos de varias civilizações. Outra semelhança da mitologia da civilização inca esta relacionada ao livro de Enoch, que é um personagem misterioso de que a tradição religiosa judaica se apropriou, mas de fato é muito anterior a civilização hebraica. Alguns eruditos asseguram que antes da Bíblia, como antes mesmo dos ‘Vedas’, dos ‘Brahmanas’, das ‘Leis de Manu’, dos ‘Purunas’ dos ‘King’ dos chineses, haviam manuscritos que serviam de modelo aos livros sagrados que conhecemos a começar pelos (Gênesis’) Moises fala, por varias vezes, de manuscritos mais antigos que o Pentateuco e cita passagens deles.
Moisés parece ter resumido estes livros antigos nos doze primeiros capítulos do “Gênesis Bíblico”.E aí até duas fontes diferentes para o Gênesis haviam: A eloísta e a jeovita. “A crer na tradição, Enoch seria originário da Alta Mesopotâmia ou da Armênia, porque é considerado iniciador ou par do lendário rei Kayou Marath, ou Kaiomers “Rei da Terra” e do Azerbaijão. Encontramos muitas semelhanças na mitologia Maia que foi um dos povos mais evoluídos que habitaram a Meso-America, o interesse dos Maias nos enigmas do Cosmo levou-os a confeccionar um poderoso sistema de calendário, assim como a matemática que antecipou o conceito do zero em muitos séculos(este foi redescoberto na Índia, muito tempo depois). Apesar de seu apego ao racionalismo, porém, os Maias desenvolveram uma mitologia riquíssima. Como os astecas, compartilhavam a crença de que inúmeros mundos haviam sido criados antes do atual – e que a terra seria destruída por um flagelo apocalíptico. Segundo os Maias a criação na criação do mundo duas divindades, Tepeu e Gugumatz, juntaram-se na escuridão, na noite. Falaram sobre a vida e a luz, sobre o que deveriam fazer para que houvesse luz e alvorada e sobre quem forneceria comida e sustento. Depois planejaram a criação e o crescimento das arvores e dos bosques. Como os egípcios, os Maias eram eméritos arquitetos(também construíram pirâmides e sepulcros imponentes) e muito interessados em ciências como astronomia e matemática – nesse quesito deixaram um importante legado, já que a eles se atribui o conceito da abstração matemática. De fato, os calendários da civilização atual são baseados em protótipos criados por aquele povo. Também estudavam a movimentação dos corpos celestes(como o sol e a lua)e estabeleceram um ano solar de 365 dias, inclusive com um ano bi-sexto a cada quatro anos.
COMO A NOITE A APARECEU “UMA LENDA TUPI” O ECO DEGRADADO DO GENESIS E A SEMELHANÇA COM O PENSAMENTO ASIÁTICO
No principio não havia noite- dia somente havia em todo o tempo. A noite estava adormecida no fundo das águas. Todas as coisas falavam.
A filha da cobra grande – contam – casara-se com um moço.
Esse moço tinha três fâmulos fiéis. Um dia, ele chamou os três fâmulos e disse-lhes: - ide passear, porque minha mulher não quer dormir comigo.
Os fâmulos foram-se, e então ele chamou sua mulher para dormir com ele.
A filha da cobra grande respondeu-lhe:
- Ainda não é noite.
- O moço disse-lhe:
- Não há noite somente a dia.
- A moça falou:
- Meu pai tem noite. Se queres dormir comigo,manda busca-la lá, pelo grande rio.
- O moço chamou os três fâmulos; a moça mandou-os a casa de seu pai para trazerem um caroço de tucumã.
- Os fâmulos foram, chegaram a casa da cobra grande, esta lhes entregou um caroço de tucumã muito bem fechado e disse-lhes:
- Aqui esta; levai-º Eia! Não o abrais, senão todas as coisas se perderão.
- Os fâmulos foram-se, e estavam ouvindo um barulho dentro do coco de tucumã, assim: tem, tem, ...xi...Era o barulho dos grilos e dos sapinhos que cantam de noite.
- Quando já estavam longe,um dos fâmulos disse a seus companheiros – Vamos ver que barulho será este?
- O piloto disse:- Não do contrario nos perderemos. Vamos embora, eia, remai!
- Eles foram e continuaram a ouvir aquele barulho dentro do coco de tucumã, e não sabiam que barulho era.
- Quando já estavam muito longe, ajuntaram-se no meio da canoa, acenderam fogo, derreteram o breu que fechava o coco e abriram-no. De repente tudo escureceu.
- O piloto então disse: Nós estamos perdidos; e a moça, em sua casa, já sabe que nós abrimos o coco de tucumã!
- Eles seguiram viagem.
- A moça, em sua casa, disse ao seu marido:
- Eles soltaram a noite; vamos esperar a manhã.
- Então todas as coisas que estavam espalhadas pelo bosque se transformaram em animais e pássaros.
- As coisas que estavam espalhadas pelo rio se transformaram em patos e em peixes. Do paneiro gerou-se a onça; o pescador e sua canoa se transformaram em pato; de sua cabeça nasceram a cabeça e o bico do pato; da canoa, o corpo do pato; dos remos as pernas do pato.
- A filha da cobra grande, quando viu a estrela-d’alva, disse a seu marido:
- A madrugada vem rompendo. Vou dividir o dia da noite.
- Então ela enrolou um fio, e disse-lhe: Tu serás cujubim. Assim ela fez o cujubim; pintou a cabeça de do cujubim de branco, com tabatinga; pintou-lhe as pernas de vermelho com urucu, e, então, disse-lhe: - Cantaras para todo e sempre quando a manhã vier raiando.
- Ela enrolou o fio, sacudiu cinza em riba dele, e disse: tu serás inhambu, para cantar nos diversos tempos da noite de madrugada.
- De então todos os pássaros cantaram em seus tempos, e de madrugada,para alegrar o principio do dia.
- Quando três fâmulos chegaram, o moço disse-lhes: - Não fostes fiéis abristes o caroço de tucumã, soltastes a noite e todas as coisas se perderam, e vós também que vos metamorfoseastes em macacos, andareis para todo e sempre pelos galhos dos paus.
- (A boca preta e risca amarela que eles têm no braço dizem que são ainda o sinal do breu que fechava o caroço de tucumã e que escorreu sobre eles quando o derreteram)
- Nota – Esta lenda é provavelmente um fragmento do Gênesis dos antigos selvagens sul- americanos. É talvez o eco degradado e corrompido das crenças que eles tinham de como se formou esta ordem de coisas no meio da qual vivemos e, depois das formas grosseiras com que provavelmente a vestiram as avós e as amas de leite, ela mostra que por toda a parte o homem se propôs a resolver este problema - de onde nós viemos? Aqui, como nos Vedas, como no Gênesis, a questão é no fundo resolvida pela mesma forma, isto é: no principio todos eram felizes; uma desobediência, num episodio de amor, uma fruta proibida, trouxe a degradação. A lenda é, em resumo, a seguinte: no principio, não havia distinção entre animais, o homem e as plantas: tudo falava. Também não havia trevas. Tendo a filha da cobra grande se casado não queria coabitar com o seu marido enquanto não houvesse noite sobre o mundo, assim como havia no fundo das águas. O marido mandou buscar a noite, que lhe foi remetida encerrada dentro de um caroço de tucumã, bem fechado, co proibição expressa aos condutores de o abrirem, penas de perderem a si e a seus descendentes todas as coisas. A principio, resistem a tentação; mas depois a curiosidade de saber o que havia dentro da fruta os fez violar a proibição, e assim se perderam . Substituindo a fruta de tucumã pela arvore proibida, a curiosidade de saber pela tentação do espírito maligno, parece haver no fundo do episodio tanta semelhança com o pensamento asiático, que vacilo eu pergunto se não será um eco degradado e transformado desse pensamento.
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L
ORIGENS DOS INDÍGENAS DO BRASIL
Paulo Setúbal
Dos “Ensaios Históricos”
ONFROY DE THORON
Não há, no pórtico da nossa História, pergunta mais natural do que esta: de onde vêm esses bugres que os mareantes toparam no Brasil alvorecente? De que estranhas terras, e como, e de que jeito, e quando, surgiram por aqui esses gentios emplumados, de batoque no beiço, que atroavam os matos brutos com o ribombo dos trocanos e o estrépito das inúbias bárbaras? Uma curiosidade ferretoante, desde a primeira página, chuça o nosso fundo racional. A gente anseia logo por desvendar a origem daqueles dois selvagens, "pardos, maneira de avermelhados, de bons olhos e bons narizes" que Cabral recolheu a bordo, que agasalhou mimosamente, que fez dormir na capitânea sobre coxins da Pérsia, entre muitas fofezas, num aturdimento. Mas a curiosidade aguça-se apenas: não há resposta cabal. Teses, muitas. Autores, muitos. Mas tudo cipoal desnorteante.
CARLOS E CHINESES
Assim, para o nosso preclaríssimo Varnhagen, os silvícolas provêm certamente de povos da mais alta antiguidade. E destes povos, pelas suas semelhanças foram com certeza de "Carlos" os ancestrais do bugre. E lá arrazoa, muito grave:
"O facto dos selvagens do sul se chamarem "Carys", de se denominarem "Caryjós" ("Cariões, escreve o cronista Herrera) e de designarem, como honra, por esse nome, aos europeus que aqui aportavam como amigos (de onde proveio "caryoca") nos deu a suspeita de que os antigos emigrantes teriam este nome. E hoje temos quasi a convicção de que houve effectivamente para o Brasil uma grande emigração dos próprios Carlos… etc." Mas o nosso Varnhagen já vai longe. Quanta coisa afirmou o categórico historiador, lá dos píncaros do seu dogmatismo, que se esbarrondou por terra, em cacos! E nessa questão de etnografia, então, nem vale falar. Já se ventilou tanta hipótese nova! Vários etnógrafos, como de Guignes à frente, bradam, com pesados argumentos, que os bugres descendem em linha reta dos chineses. Vieram os nossos pré-avós pelo estreito de Bhering. Baseiam-se os cientistas, para tal, nem só nas usanças do índio, na cor, nos olhos amendoados, na língua aglutinante, como também, e acima de tudo, num famoso pergaminho, arquivelho, desenterrado por acaso de um palácio de Pequim. E a relação detalhada, com nomes e datas, escrita por um bonzo budista, Hoei-Chin, que partiu com outros missionários chineses, em tempos imemoriais, para a terra de Fong-Sang (América). . .
Mas para outros (e quantos!) nem cários, nem chineses. Os índios são apenas os frutos de nautas que aqui viveram, nautas de países vários, que as procelas e os naufrágios arremessaram nas nossas praias. O homem pré-colombiano tem um pouco de todas as antigas nações navegantes: impossível fixar-lhe um tronco só.
O HOMEM DOS SAMBAQUIS
Mas a etnografia andou. E andou rasgadamente. Descobriram-se ossadas, veio à baila o estudo dos crânios, desencavou-se muito estranho artefato de cerâmica, fizeram-se aprofundamentos terríveis na língua quichua. Só o Sr. Fidei Lopes, insigne glotólogo argentino, descobriu, não há muito, duas mil raízes sânscritas no quíchua! Foi nessas pesquisas, no cavar cemitérios de índios e no coligir ossos fossilizados em "sambaquis" Selvagens, que nasceu a corrente do "Homem dos Sambaquis".
O etnógrafo J. B. Lacerda, e, mais tarde, o Dr, Rodrigues Peixoto ("Nos estudos craniológicos sobre os botucudos") trouxeram da investigação dessas ossadas antiquíssimas uma curiosa convicção. Ei-la: "antes dos índios que os descobridores aqui encontraram, houve na América, seguramente uma raça muito rude, muito primitiva. Trata-se de uma "raça invasora" que desceu lentamente ao longo da costa, desaparecendo depois sem deixar outros vestígios senão as ossadas dos sambaquis". Essa raça inferior não era mais do que uma etapa avançada do homem originário, autóctone, que existia no Brasil. E esse homem autóctone estava descoberto: era o fóssil da Lagoa Santa. Que fóssil é esse?. Antes de falarmos da famosa ossada, que os sábios dizem ser o "homem primitivo", rememoremos o. precursor dessa audaciosa tese.
BRASSEUR DE BOURBOURG
Há um cientista notabilíssimo, grande entre os grandes, o padre Brasseur de Bourbourg, que estudou vastamente as antiguidades americanas. São copiosos os seus livros. Um deles é deliciosamente pitoresco: a tradução, com um prefácio muitíssimo erudito, do "Popol Vuh", o Livro Sagrado dos quichés. Outro é a obra imensa, o louro fulgurante do padre sábio: "História das Nações civilizadas do México e da América Central". Pois foi esse cientista, com a sua autoridade cultista, com a sua autoridade culminante, quem lançou esta novidade atrevida, rudemente chocante: o homem americano não provém de ninguém! Os outros povos, sim, é que provém do bugre: a América é o berço da humanidade! Houve muita gente que zombou de Brasseur de Bourbourg. . . Grande zombaria entre os etnógrafos coevos… Mas a tese do padre, dia a dia, ganha vitórias sérias. Já ninguém mais ousa rir-se da ousadia inovadora. Ainda agora, estudando o Brasil, o Dr. Lund, dinamarquês eminente, outro sábio de nota, o "criador da paleontologia brasileira", chegou a conclusões verdadeiramente de pasmar. Conclusões que cimentam fortemente a hipótese de Bourbourg. Assim, para o Dr. Lund, o tipo ancestral do selvagem é o "homem da Lagoa Santa".
O FÓSSIL DA LAGOA SANTA
Recolheu o sábio ossadas que descobriu em mais de duzentas cavernas. E estudou, especialmente* o homem fóssil encontrado na Lagoa Santa. É um fóssil típico, nunca visto. Tem, segundo afirma, todos os caracteres físicos de ossos fósseis. E assinala, muito particularmente, o fato de "serem tais ossos em parte "petrificados", parte penetradas de partículas férreas". Ora, a "imensa idade dos fósseis" ressalta materialmente provada. É tamanha essa antiguidade que vai além do descobrimento do Brasil. Mais do que isso: vai além de "todos os documentos que existem sobre o homem". E isto porque, até hoje, ainda ninguém achou, em parte alguma, ossos humanos em estado de petrificação. Demais, pelo estudo dos crânios, afirma o Dr. Lund que eram estes do "tipo geral da raça americana", mas que "diferiam de todas as raças humanas existentes!"
Ao mesmo tempo que concluía serem assim as ossadas descobertas as mais velhas do mundo, estudava 0 dinamarquês as condições geológicas do Brasil. O Dr. Lund é mestre nesta especialidade.
E pela disposição das rochas primitivas, pelos estratos que as circundam, pela formação dos depósitos marítimos secundários, o ilustre professor firmou-se nesta convicção, que aturdiu os geólogos de todo o mundo: "o Brasil já existia, quando as mais partes do mundo estavam submersas no seio do oceano universal. E assim pelo que ficou exposto, toca ao Brasil o título de SER O MAIS ANTIGO CONTINENTE DO PLANETA".
As premissas do sábio, como se vê, são claras:
O Brasil é o país mais velho do mundo; o homem da Lagoa Santa, que a habitava, é também o homem mais velho do mundo.
Donde, esta conclusão natural: não são os bugres Que provieram de. outros povos, mas sim os outros povos, que provieram do bugre. A América foi o berço da humanidade.
Eis a ciência, a mais moderna, alicerçando as ousadias do padre Brasseur de Bourbourg.
A TESE DE ONFROY
Mas de todas as teses explicativas da origem do homem americano, não há nenhuma tão fascinante como a de Onfroy de Thoron. O grave cientista viveu doze anos na América. Estudou, pesquisou, meteu-se no mato, atirou-se às cavernas, decifrou monumentos, tudo! Exímio conhecedor das línguas selvagens, tendo penetrado com profundeza a quíchua, o sânscrito, o grego antigo, o hebraico, erudito tremendo, Onfroy de Thoron lançou uma corrente etnográfica que é pura maravilha de argumentação. Uma corrente que, pelo bizarro, toca às raias da mais sedutora fantasia que a ciência possa engendrar.
Onfroy de Thoron demonstrou, com rigorosa lógica, que os índios do Brasil provêm de um só povo: são descendentes dos marinheiros bíblicos de Salomão, o grande rei! Não conheço tese defendida com mais calor, com mais eloquência, com mais convicção. É ele quem exclama, a uma assembleia de sábios, categoricamente: "A descoberta que fizemos — do caminho que seguiam os navios de Salomão e do Rei de Tiro há 2.880 anos, para chegar à América será nesta memória demonstrada de maneira irrefutável". — Sigamos o etnógrafo sedutor.
Andam pelos livros sagrados referências constantes às pedras raras do "país de Ofir", ao ouro de "Parvaim", as maravilhas de "Tarschisch". No Paralipómenos, Livro II, há isto: "Salomão adornou o seu palácio de belas pedras preciosas e do "ouro de Parvaim".
Pois bem: Onfroy de Thoron, com larga erudição, com lógica absolutamente cerrada, chega a localizar tudo isso — Parvaim, Ofir, Tarschisch — no Brasil! Parece incrível mas é a verdade. Mas como pôde Onfroy chegar assim a tão estranha conclusão? Leiamo-lo, Está tudo no "Voyage de Vaisseaux de Salomon au fleuve des Amazones" publicado pela Câmara de Manaus, 1876.
PARVAIM
Eis o engenho admirável com que o etnógrafo localiza Parvaim na bacia amazônica:
"Comecemos, por fazer conhecer "Parvaim". O exame dessa palavra é importante; ela por si só é uma revelação. Salomão conseguia o ouro de outra parte que não fosse de Ofir e Tarschisch. Conseguia-o de Parvaim. Parvaim é pronúncia alterada de "Paruim", por isso que o antigo alfabeto latino confundia o "v" e o "u"; que o "iod" que é a vogal "i", muitas vezes se lê com a pronúncia de "ai" em hebraico. Porém, no texto hebraico, o ouro de "Parvaim" está escrito "Zab-Paruim"; no grego dos Setenta, acha-se igualmente "Paruim". A terminação "im" indica o plural hebraico. E vem acrescentado a "Paru", porque, efetivamente, existem na bacia superior do Amazonas, no território oriental do Peru, "dois rios auríferos", um com o nome de "Paru", outro, com o de "Apu-Paru", o "rico Paru". Ora, os dois rios de nome "Paru" fazem justamente, no plural, o "Paruim" dos hebreus. Eis, pois, um dos lugares bíblicos perfeitamente indicado e por nós descoberto!"
De onde se vê que o pobre, o selvagem rio Paru, no vale do Amazonas, é o tal falado "Parvaim" dos hebraicos… Mas não é só Parvaim. A famosa "Ofir" também fica no Brasil. Escutemos o sábio:
OFIR
"Para se ter uma ideia do que era Ofir, é mister procurar a significação deste nome; porém, antes de tudo, é necessário certificar-se do modo por que se escreve em caracteres hebraicos. No cap. 10 do Livro I dos Reis, v. II, acha-se escrito em língua hebraica de dois modos: "Apir" e "Aypir", e no cap. 9, v. 28, assim se lê — "Aypirá". Mas "Aypirá" não é senão o nome mal pronunciado de Yapurá, grande afluente do Amazonas, ou do rio Soliman. Assim, como se vê, nada se opõe a que o "Aypirá" da Bíblia tenha vindo do nome do rio Yapurá.
Esta última palavra é composta de "Y" que significa "água", e de "apura", que é o nome de "Apira" ou Apir, "água ou rio de Apir ou Ofir". Este lugar célebre está, pois, achado e claramente designado; e, apesar de uma distância de 2.880 anos, seu nome só tem sofrido a alteração de uma vogal: Yapurá, em lugar de Yapira. E isto no meio de povos selvagens que não falam hoje o quíchua dos Antis."
Não pode haver nada mais concatenado, nem mais bizarro! Um Ofir no Brasil… O rio Yapurá é a decantada Ofir! E isto sustentado ferozmente por um sábio, e não por um poeta. Vamos agora a Tarschisch.
TARSCHISCH
"Foi evidentemente esta região (alta Amazónia) que no tempo de Salomão recebeu o nome de Tarschisch, pois a etimologia, desta palavra é da língua quichua, que é a dos Antis.
Tarschisch origina-se de "Tari" "descobrir", "chichy" "colher ouro miúdo". Tarschisch é, pois, o lugar onde se descobre e colhe o ouro miúdo. O abandono de Ofir, a vizinhança de Parvaim, que foi preciso também abandonar, pois que era necessário internar-se consideravelmente, as facilidades oferecidas pelas novas descobertas e a etimologia de Tarschisch, são um concurso de circunstâncias que determinam a região onde se achava Tarschisch".
Assim, identificados os três lugares bíblicos, ainda há, frisante, a prova provada da influência de Salomão no Brasil. É o rio Solimões. Eis:
SOLIMÕES - SALOMÃO
"O rio das Amazonas, desce da embocadura do Ucaial, até a foz do rio Negro, tem ainda o nome de "Solimões". Pois bem: este não é nem mais nem menos que o nome alterado de "Salomão", nome que ao grande rio tinham dado as expedições do rei-poeta. Em hebraico é "Solima", em árabe "Soliman". Ora, os cronistas referem que a oeste do Pará existia uma grande tribo conhecida pelo mesmo nome de "Solimões" ou "Soliman".
* * *
O que mais enleva em Onfroy não é tanto o arrojo da tese: é o entusiasmo, a quentura, a forte sinceridade com que ele eruditamente a defende. O sábio, eloquente e lógico, quase convence. E a gente, ao fim do livro, por menos sonhador que seja, fecha os olhos fascinado: e vê desfilar, mastreada e garbosa, a frota do rei magnífico. As grossas galeras, com dragões talhados à popa, rasgam pesadas as águas do Amazonas. Homens, esguios como tamarindeiros, toscamente cobertos de pele de dromedários, batem os remos na correnteza virgem, ilhada de vitórias-régias. São todos eles do país moreno dos sicômoros e das cisternas. Têm olhos febrentos como as areias lampejantes dos seus desertos. E vêm todos, num deslumbramento, a romper a bruteza pré-histórica dos nossos matos, buscar ouro e monos para as trezentas mulheres do poeta da Sulamita…
Paulo Setúbal
Dos “Ensaios Históricos”
ONFROY DE THORON
Não há, no pórtico da nossa História, pergunta mais natural do que esta: de onde vêm esses bugres que os mareantes toparam no Brasil alvorecente? De que estranhas terras, e como, e de que jeito, e quando, surgiram por aqui esses gentios emplumados, de batoque no beiço, que atroavam os matos brutos com o ribombo dos trocanos e o estrépito das inúbias bárbaras? Uma curiosidade ferretoante, desde a primeira página, chuça o nosso fundo racional. A gente anseia logo por desvendar a origem daqueles dois selvagens, "pardos, maneira de avermelhados, de bons olhos e bons narizes" que Cabral recolheu a bordo, que agasalhou mimosamente, que fez dormir na capitânea sobre coxins da Pérsia, entre muitas fofezas, num aturdimento. Mas a curiosidade aguça-se apenas: não há resposta cabal. Teses, muitas. Autores, muitos. Mas tudo cipoal desnorteante.
CARLOS E CHINESES
Assim, para o nosso preclaríssimo Varnhagen, os silvícolas provêm certamente de povos da mais alta antiguidade. E destes povos, pelas suas semelhanças foram com certeza de "Carlos" os ancestrais do bugre. E lá arrazoa, muito grave:
"O facto dos selvagens do sul se chamarem "Carys", de se denominarem "Caryjós" ("Cariões, escreve o cronista Herrera) e de designarem, como honra, por esse nome, aos europeus que aqui aportavam como amigos (de onde proveio "caryoca") nos deu a suspeita de que os antigos emigrantes teriam este nome. E hoje temos quasi a convicção de que houve effectivamente para o Brasil uma grande emigração dos próprios Carlos… etc." Mas o nosso Varnhagen já vai longe. Quanta coisa afirmou o categórico historiador, lá dos píncaros do seu dogmatismo, que se esbarrondou por terra, em cacos! E nessa questão de etnografia, então, nem vale falar. Já se ventilou tanta hipótese nova! Vários etnógrafos, como de Guignes à frente, bradam, com pesados argumentos, que os bugres descendem em linha reta dos chineses. Vieram os nossos pré-avós pelo estreito de Bhering. Baseiam-se os cientistas, para tal, nem só nas usanças do índio, na cor, nos olhos amendoados, na língua aglutinante, como também, e acima de tudo, num famoso pergaminho, arquivelho, desenterrado por acaso de um palácio de Pequim. E a relação detalhada, com nomes e datas, escrita por um bonzo budista, Hoei-Chin, que partiu com outros missionários chineses, em tempos imemoriais, para a terra de Fong-Sang (América). . .
Mas para outros (e quantos!) nem cários, nem chineses. Os índios são apenas os frutos de nautas que aqui viveram, nautas de países vários, que as procelas e os naufrágios arremessaram nas nossas praias. O homem pré-colombiano tem um pouco de todas as antigas nações navegantes: impossível fixar-lhe um tronco só.
O HOMEM DOS SAMBAQUIS
Mas a etnografia andou. E andou rasgadamente. Descobriram-se ossadas, veio à baila o estudo dos crânios, desencavou-se muito estranho artefato de cerâmica, fizeram-se aprofundamentos terríveis na língua quichua. Só o Sr. Fidei Lopes, insigne glotólogo argentino, descobriu, não há muito, duas mil raízes sânscritas no quíchua! Foi nessas pesquisas, no cavar cemitérios de índios e no coligir ossos fossilizados em "sambaquis" Selvagens, que nasceu a corrente do "Homem dos Sambaquis".
O etnógrafo J. B. Lacerda, e, mais tarde, o Dr, Rodrigues Peixoto ("Nos estudos craniológicos sobre os botucudos") trouxeram da investigação dessas ossadas antiquíssimas uma curiosa convicção. Ei-la: "antes dos índios que os descobridores aqui encontraram, houve na América, seguramente uma raça muito rude, muito primitiva. Trata-se de uma "raça invasora" que desceu lentamente ao longo da costa, desaparecendo depois sem deixar outros vestígios senão as ossadas dos sambaquis". Essa raça inferior não era mais do que uma etapa avançada do homem originário, autóctone, que existia no Brasil. E esse homem autóctone estava descoberto: era o fóssil da Lagoa Santa. Que fóssil é esse?. Antes de falarmos da famosa ossada, que os sábios dizem ser o "homem primitivo", rememoremos o. precursor dessa audaciosa tese.
BRASSEUR DE BOURBOURG
Há um cientista notabilíssimo, grande entre os grandes, o padre Brasseur de Bourbourg, que estudou vastamente as antiguidades americanas. São copiosos os seus livros. Um deles é deliciosamente pitoresco: a tradução, com um prefácio muitíssimo erudito, do "Popol Vuh", o Livro Sagrado dos quichés. Outro é a obra imensa, o louro fulgurante do padre sábio: "História das Nações civilizadas do México e da América Central". Pois foi esse cientista, com a sua autoridade cultista, com a sua autoridade culminante, quem lançou esta novidade atrevida, rudemente chocante: o homem americano não provém de ninguém! Os outros povos, sim, é que provém do bugre: a América é o berço da humanidade! Houve muita gente que zombou de Brasseur de Bourbourg. . . Grande zombaria entre os etnógrafos coevos… Mas a tese do padre, dia a dia, ganha vitórias sérias. Já ninguém mais ousa rir-se da ousadia inovadora. Ainda agora, estudando o Brasil, o Dr. Lund, dinamarquês eminente, outro sábio de nota, o "criador da paleontologia brasileira", chegou a conclusões verdadeiramente de pasmar. Conclusões que cimentam fortemente a hipótese de Bourbourg. Assim, para o Dr. Lund, o tipo ancestral do selvagem é o "homem da Lagoa Santa".
O FÓSSIL DA LAGOA SANTA
Recolheu o sábio ossadas que descobriu em mais de duzentas cavernas. E estudou, especialmente* o homem fóssil encontrado na Lagoa Santa. É um fóssil típico, nunca visto. Tem, segundo afirma, todos os caracteres físicos de ossos fósseis. E assinala, muito particularmente, o fato de "serem tais ossos em parte "petrificados", parte penetradas de partículas férreas". Ora, a "imensa idade dos fósseis" ressalta materialmente provada. É tamanha essa antiguidade que vai além do descobrimento do Brasil. Mais do que isso: vai além de "todos os documentos que existem sobre o homem". E isto porque, até hoje, ainda ninguém achou, em parte alguma, ossos humanos em estado de petrificação. Demais, pelo estudo dos crânios, afirma o Dr. Lund que eram estes do "tipo geral da raça americana", mas que "diferiam de todas as raças humanas existentes!"
Ao mesmo tempo que concluía serem assim as ossadas descobertas as mais velhas do mundo, estudava 0 dinamarquês as condições geológicas do Brasil. O Dr. Lund é mestre nesta especialidade.
E pela disposição das rochas primitivas, pelos estratos que as circundam, pela formação dos depósitos marítimos secundários, o ilustre professor firmou-se nesta convicção, que aturdiu os geólogos de todo o mundo: "o Brasil já existia, quando as mais partes do mundo estavam submersas no seio do oceano universal. E assim pelo que ficou exposto, toca ao Brasil o título de SER O MAIS ANTIGO CONTINENTE DO PLANETA".
As premissas do sábio, como se vê, são claras:
O Brasil é o país mais velho do mundo; o homem da Lagoa Santa, que a habitava, é também o homem mais velho do mundo.
Donde, esta conclusão natural: não são os bugres Que provieram de. outros povos, mas sim os outros povos, que provieram do bugre. A América foi o berço da humanidade.
Eis a ciência, a mais moderna, alicerçando as ousadias do padre Brasseur de Bourbourg.
A TESE DE ONFROY
Mas de todas as teses explicativas da origem do homem americano, não há nenhuma tão fascinante como a de Onfroy de Thoron. O grave cientista viveu doze anos na América. Estudou, pesquisou, meteu-se no mato, atirou-se às cavernas, decifrou monumentos, tudo! Exímio conhecedor das línguas selvagens, tendo penetrado com profundeza a quíchua, o sânscrito, o grego antigo, o hebraico, erudito tremendo, Onfroy de Thoron lançou uma corrente etnográfica que é pura maravilha de argumentação. Uma corrente que, pelo bizarro, toca às raias da mais sedutora fantasia que a ciência possa engendrar.
Onfroy de Thoron demonstrou, com rigorosa lógica, que os índios do Brasil provêm de um só povo: são descendentes dos marinheiros bíblicos de Salomão, o grande rei! Não conheço tese defendida com mais calor, com mais eloquência, com mais convicção. É ele quem exclama, a uma assembleia de sábios, categoricamente: "A descoberta que fizemos — do caminho que seguiam os navios de Salomão e do Rei de Tiro há 2.880 anos, para chegar à América será nesta memória demonstrada de maneira irrefutável". — Sigamos o etnógrafo sedutor.
Andam pelos livros sagrados referências constantes às pedras raras do "país de Ofir", ao ouro de "Parvaim", as maravilhas de "Tarschisch". No Paralipómenos, Livro II, há isto: "Salomão adornou o seu palácio de belas pedras preciosas e do "ouro de Parvaim".
Pois bem: Onfroy de Thoron, com larga erudição, com lógica absolutamente cerrada, chega a localizar tudo isso — Parvaim, Ofir, Tarschisch — no Brasil! Parece incrível mas é a verdade. Mas como pôde Onfroy chegar assim a tão estranha conclusão? Leiamo-lo, Está tudo no "Voyage de Vaisseaux de Salomon au fleuve des Amazones" publicado pela Câmara de Manaus, 1876.
PARVAIM
Eis o engenho admirável com que o etnógrafo localiza Parvaim na bacia amazônica:
"Comecemos, por fazer conhecer "Parvaim". O exame dessa palavra é importante; ela por si só é uma revelação. Salomão conseguia o ouro de outra parte que não fosse de Ofir e Tarschisch. Conseguia-o de Parvaim. Parvaim é pronúncia alterada de "Paruim", por isso que o antigo alfabeto latino confundia o "v" e o "u"; que o "iod" que é a vogal "i", muitas vezes se lê com a pronúncia de "ai" em hebraico. Porém, no texto hebraico, o ouro de "Parvaim" está escrito "Zab-Paruim"; no grego dos Setenta, acha-se igualmente "Paruim". A terminação "im" indica o plural hebraico. E vem acrescentado a "Paru", porque, efetivamente, existem na bacia superior do Amazonas, no território oriental do Peru, "dois rios auríferos", um com o nome de "Paru", outro, com o de "Apu-Paru", o "rico Paru". Ora, os dois rios de nome "Paru" fazem justamente, no plural, o "Paruim" dos hebreus. Eis, pois, um dos lugares bíblicos perfeitamente indicado e por nós descoberto!"
De onde se vê que o pobre, o selvagem rio Paru, no vale do Amazonas, é o tal falado "Parvaim" dos hebraicos… Mas não é só Parvaim. A famosa "Ofir" também fica no Brasil. Escutemos o sábio:
OFIR
"Para se ter uma ideia do que era Ofir, é mister procurar a significação deste nome; porém, antes de tudo, é necessário certificar-se do modo por que se escreve em caracteres hebraicos. No cap. 10 do Livro I dos Reis, v. II, acha-se escrito em língua hebraica de dois modos: "Apir" e "Aypir", e no cap. 9, v. 28, assim se lê — "Aypirá". Mas "Aypirá" não é senão o nome mal pronunciado de Yapurá, grande afluente do Amazonas, ou do rio Soliman. Assim, como se vê, nada se opõe a que o "Aypirá" da Bíblia tenha vindo do nome do rio Yapurá.
Esta última palavra é composta de "Y" que significa "água", e de "apura", que é o nome de "Apira" ou Apir, "água ou rio de Apir ou Ofir". Este lugar célebre está, pois, achado e claramente designado; e, apesar de uma distância de 2.880 anos, seu nome só tem sofrido a alteração de uma vogal: Yapurá, em lugar de Yapira. E isto no meio de povos selvagens que não falam hoje o quíchua dos Antis."
Não pode haver nada mais concatenado, nem mais bizarro! Um Ofir no Brasil… O rio Yapurá é a decantada Ofir! E isto sustentado ferozmente por um sábio, e não por um poeta. Vamos agora a Tarschisch.
TARSCHISCH
"Foi evidentemente esta região (alta Amazónia) que no tempo de Salomão recebeu o nome de Tarschisch, pois a etimologia, desta palavra é da língua quichua, que é a dos Antis.
Tarschisch origina-se de "Tari" "descobrir", "chichy" "colher ouro miúdo". Tarschisch é, pois, o lugar onde se descobre e colhe o ouro miúdo. O abandono de Ofir, a vizinhança de Parvaim, que foi preciso também abandonar, pois que era necessário internar-se consideravelmente, as facilidades oferecidas pelas novas descobertas e a etimologia de Tarschisch, são um concurso de circunstâncias que determinam a região onde se achava Tarschisch".
Assim, identificados os três lugares bíblicos, ainda há, frisante, a prova provada da influência de Salomão no Brasil. É o rio Solimões. Eis:
SOLIMÕES - SALOMÃO
"O rio das Amazonas, desce da embocadura do Ucaial, até a foz do rio Negro, tem ainda o nome de "Solimões". Pois bem: este não é nem mais nem menos que o nome alterado de "Salomão", nome que ao grande rio tinham dado as expedições do rei-poeta. Em hebraico é "Solima", em árabe "Soliman". Ora, os cronistas referem que a oeste do Pará existia uma grande tribo conhecida pelo mesmo nome de "Solimões" ou "Soliman".
* * *
O que mais enleva em Onfroy não é tanto o arrojo da tese: é o entusiasmo, a quentura, a forte sinceridade com que ele eruditamente a defende. O sábio, eloquente e lógico, quase convence. E a gente, ao fim do livro, por menos sonhador que seja, fecha os olhos fascinado: e vê desfilar, mastreada e garbosa, a frota do rei magnífico. As grossas galeras, com dragões talhados à popa, rasgam pesadas as águas do Amazonas. Homens, esguios como tamarindeiros, toscamente cobertos de pele de dromedários, batem os remos na correnteza virgem, ilhada de vitórias-régias. São todos eles do país moreno dos sicômoros e das cisternas. Têm olhos febrentos como as areias lampejantes dos seus desertos. E vêm todos, num deslumbramento, a romper a bruteza pré-histórica dos nossos matos, buscar ouro e monos para as trezentas mulheres do poeta da Sulamita…
Trecho do Livro O SELVAGEM e curso de língua geral segundo Ollendorf, compreendendo o texto original de lendas Tupis, origens, costumes, região selvagem, método a empregar para amansa-los por intermédio das colônias militares e do interprete militar, impresso por ordem do governo, Rio de Janeiro, typografia da reforma, rua sete de setembro 181 ano de 1876
LIVRARIA BERTRAND, S.A.R.L.- Lisboa
Este texto foi retirado do livro do general Couto de Magalhães “O Selvagem” da Editora Universidade de São Paulo, edição revista pelo sobrinho do autor Dr. Couto de Magalhães
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